Em primeiro lugar, se você vai para o Belo Horizonte – BH, uma parada obrigatória é conhecer a igreja das Santas Pretas, um lindo roteiro de afroturismo. Rebecca Alethéia teve a honra de conhecer o Padre Mauro do qual compartilhou essa história riquíssima que não podemos deixar morrer.
Que tal, conhecer a história dessa igreja e saber por qual motivo se tornou a igreja das Santas Pretas em Belo Horizonte.
Afroturismo – A História das Igreja das Santas Pretas BH
Na periferia da cidade dos brancos – Belo Horizonte – um pequeno grupo de mulheres pretas, pobres e periféricas edificou um templo para, finalmente, “ser aí a Santíssima Senhora Louvada”, assim como foi o desejo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Curral Del Rey.
Inaugurada em 1819 a Capela do Rosário dos Homens Pretos foi demolida em 1897 e do mesmo modo, a Irmandade do Rosário foi expulsa dos templos católicos em 1927, por Dom Cabral.
Nas periferias e favelas os pretos e pobres edificaram seus templos, assim também entre eles a Capela Maria Estrela da Manhã, debaixo de uma majestosa Gameleira.
Em 2008 as Mulheres Pretas da Vila Estrela inauguraram sua Igreja de Verdade. Em 2018 foi concluído o afresco, ou seja, A Igreja das Santas Pretas, dos artistas Cleiton Gos e Marcial Ávila, sendo o projeto iconográfico da autoria do Padre Mauro.
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Onde Fica?
“A gente só foi ficando, porquê não tinha pra onde ir.”
(Emerenciana, Grupo de Mulheres Pretas da Vila Estrela, 2019)
Localizada na Região Centro Sul de Belo Horizonte, ou seja, exatamente a 800 metros da Avenida do Contorno, limite entre a cidade dos brancos e as periferias e favelas da capital mineira.
Tanto quanto, na Vila Estrela, está o Muquifu – Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos – e o único templo religioso católico, no Brasil, onde absolutamente todas as representações das personagens sacras são inspiradas em MULHERES: PRETAS, POBRES, PERIFÉRICAS e POUCAS.
14 Santas Pretas
Além disso, o afresco é obra dos artistas Cleiton Gos e Marcial Avila, onde estão registrados fragmentos das histórias de 14 Mulheres que resistiram ao racismo estrutural e permaneceram em um barraco onde elas edificaram a sua IGREJA DE VERDADE.
A obra do afresco é dos artistas Cleiton Gos eMarcial Ávila, assim como um projeto iconográfico da autoria do *Padre Mauro .
As 14 MULHERES: PRETAS, POBRES, PERIFÉRICAS e POUCAS são:
Maria da Conceição Frois (Virgem Anunciada), Terezinha (Santa Isabel),
D. Generosa (Nossa Senhora da Visitação / Maria Estrela da Manhã),
Tia Neném (Nossa Senhora da Natividade),
Emerenciana (Nossa Senhora da Epifania)
Tia Santa (Nossa Senhora das Dores),
Dona Jovem (Nossa Senhora do Desterro),
Maria Rodrigues (Nossa Senhora em busca de Jesus),
Josemeire Alves (Nossa Senhora Doutora no Templo),
Sônia Silva (Nossa Senhora da Consolação),
Marta Maria (Nossa Senhora da Piedade),
Marilda Batista (Nossa Senhora no Santo Sepulcro),
Dona Tina (Santa Maria Madalena),
E por fim, não menos importante a Rainha Maria Marta (Nossa Senhora Gloriosa).
As 5 esculturas sacras
Assim também, as 5 esculturas sacras, em terracota policromada, da escultora e ceramista Sônia Toledo, são inspiradas em GENTE PRETA, POBRE, PERIFÉRICA: Maria Estrela (Dona Generosa), Santa Efigênia (Rainha Maria Marta), Santa Bakita de Schio (Sonia Silva), São Benedito e São Martinho.
Quem visita a IGREJA DAS SANTAS PRETAS vivencia a experiência – única no Brasil -, ou seja, de estar em um templo religioso católico DECOLONIAL e ANTIRRACISTA, onde todas as representações das personagens sacras são inspiradas em GENTE PRETA, POBRE e PERIFÉRICA.
E aí, gostou? Conte-nos se você conhecia esse roteiro de Afroturismo em BH das Santas Pretas. Aliás ajude-nos a conhecer mais espaços como este e propagar nossa cultura.
Por fim e não menos importante, agradecemos imensamente ao Pe. Mauro Luiz da Silva que nos organizou essa visita assim como também nos abrilhantou compartilhando esse texto.
*Padre Mauro Luiz da Silva é Mestre e Doutorando em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC Minas; Bolsista da CAPES; Diretor e Curador do Muquifu; Coordenador do Projeto NegriCidade; Pároco da Paróquia Jesus Missionário