Mulheres Negras viajantes - Bitonga Travel - Imersão Cultural Quilombo Cafundó - foto do arquivo pessoal

Dia da Consciência Negra 2022 – Viagem Quilombo Cafundó

Vocês pediram e após o grande sucesso da primeira visita, aqui vamos nós mais uma vez para o Quilombo Cafundó celebrar o dia da Consciência Negra no dia 20 de novembro 2022. Em primeiro lugar, vamos lembrar que a viagem acontecerá em um domingo e a programação está para lá de especial, vamos?

Leia também: Afroturismo no Brasil: 6 Agências e Roteiros Comandados por Mulheres Negras.

Venha celebrar o Dia 20 de Novembro, ou seja, o Dia da Consciência Negra com o povo do Quilombo Cafundó, um pedacinho de África no Brasil.

O Quilombo do Cafundó fica na cidade de Salto de Pirapora e é formada por negros descendentes principalmente dos povos do norte de Angola. Em seu território desenvolveram uma linguagem própria, a chamada Cupópia, mistura de línguas como Kimbundo, Kikongo e Umbundo.

No Quilombo Cafundó também é possível encontrar uma grande plantação de produtos orgânicos, ou seja, um dos maiores do estado de São Paulo.

Com o objetivo de democratizar o acesso ao turismo, ou seja, devolver às pessoas negras o direito de ir e vir essa viagem propõe-se a possibilitar que pessoas negras volte às suas origens. Assim como possa imergir nessa atividade que vai além de cultura é realmente uma troca de experiência.

Nosso roteiro Dia da Consciência Negra 2022 – Viagem Quilombo Cafundó:

Saída de SP as 7:00 – Metrô Vergueiro defronte ao Centro Cultural São Paulo

8:00 -Parada para café

9:30 – Chegada no Quilombo

10:00 – Visita monitorada

12:00 – Almoço

13:00 – Atividades Culturais em comemoração ao Dia da Consciência Negra:

Tributo a Vó Ifigênia: Madrinha da Comunidade;

Apresentação do Samba de Roda Turi Vimba;

Oficina sobre autocuidado  por meio das plantas e flores;

Apresentação do grupo de samba;

Apresentação do percursionista Manu Neto e

Encerramento com a Banda Voz do Morro.

17:30 – Café de despedida

18:00 – Retorno para São Paulo

Roteiro inclui:

Transporte ida e volta SP

Atividades Culturais

Almoço e café da tarde

Guia Cadastur

Seguro passeio

Valor por pessoa: 330,00 (trezentos e vinte reais) – pagamento:

À vista 5% de desconto (via pix) Parcelamos no cartão de crédito em até 3x sem juros

Por fim, acompanhe o que aconteceu na última viagem ao Quilombo e foi Incrível!

Essa viagem é realizada pela Rota da Liberdade em parce Bitonga Travel em parceria com a Rota da Liberdade.

Sendo assim, vamos viajar! Venha embarcar nessa e outra viagens.

Mulheres Negras viajantes - Bitonga Travel - Imersão Cultural Quilombo Cafundó - foto do arquivo pessoal

Mulheres Negras viajantes visitam Quilombo Cafundó – SP

Em celebração ao Dia das Mulher Negra Latino Americana e Caribenha celebrado em todo 25 de julho o coletivo Bitonga Travel – de mulheres negras viajantes – juntamente com a Agência de viagens – Rota da Liberdade realizou no dia 30 de Julho de 2022 uma viagem de imersão no Quilombo Cafundó em Salto de Pirapora, durante todo o dia.

Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha

Entenda a data – No dia 25 de julho é celebrado o dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha que surgiu no ano de 1992 com o intuito de dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de raça, gênero e a exploração. Assim como, na mesma data se homenageia no Brasil Tereza Benguela, símbolo de luta e resistência da comunidade negra e indígena no Brasil.

A importância do Afroturismo

Considerando a importância do afroturismo como protagonista de retorno às raízes, assim como democratização do acesso ao lazer/turismo. A viagem teve como intuito deixar viva a história de nossos ancestrais.

Hoje, o afroturismo também coloca os negros como protagonistas de sua própria história e não mais apenas como objetos de pesquisa ou do local visitado. E isso pôde ser sentido através de cada vivência, troca de olhares, experiências e principalmente do sentimento mútuo de que aquela história é de quem está contando e também de quem está ouvindo.

A viagem

Deu-se inicio à viagem com partida da cidade de São Paulo e contou com uma programação incrível, mas que superou as expectativas das participantes.

Ao chegar no Quilombo, as viajantes receberam as boas vindas com um delicioso café da manhã e uma roda de prosa.

A vivência foi de forma imersiva, com vivências através de oficinas de bonecas Abayomi, Jongo e Ervas. O Quilombo possui uma extensa plantação orgânica da qual pudemos adentrar, adquirir e experimentar diversas leguminosas e ervas lá plantadas.

Logo no início da apresentação do Quilombo fomos surpreendidas por uma troca extensa de possíveis parentescos entre as participantes e os locais.


“Quilombos são sagrados como o templo, o nosso corpo é o que restou de muitos quilombos, por isso são sagrados, já que essa terra que pisamos é “deles” mas ao mesmo tempo é “nossa”

Viajante regina

Acompanhe todos os detalhes dessa viagem com mulheres negras ao Quilombo Cafundó, através do Podcast da Bitonga Travel.

Negras Viajantes visitam Quilombo Cafundó


Sobre o Quilombo Cafundó


Localizado em Salto de Pirapora – SP, situada a 12 quilômetros dessa cidade, a 30 de Sorocaba e a não mais de 150 quilômetros da capital de Paulista.


O Quilombo do Cafundó foi originado no século 19. Com a história de Joaquim congo e Ricarda que se casaram em 8 de julho de 1855. Com muita luta contra invasões de fazendeiros e resistência o Quilombo tem 219,45 hectares, onde residem 24 famílias. Pudemos ver a casa da Dona Ricarda e sua capela e sentir toda sua força ali enpregada.

Como já dissemos, o Quilombo Cafundó é destaque em produção de alimentos orgânicos. Dessa forma, tudo ali é cultivado sem uso de agrotóxicos, adubos químicos, aditivos sintéticos, antibióticos, hormônios, nem técnicas de engenharia alimentar. Ao passo que, antes de entrar nas plantações fizemos uma oração para sentir e pedir permissão para pisar naquele solo


Um outro destaque ao território é a preservação da língua africana de tronco bantu – Quibundo ( língua falada no noroeste da Angola). Dessa forma, esta língua é nomeada como cupópia, pudemos repetir e assim e aprender a dizer “ta mukanda” (está escrito) e turi vimba (terra do povo negro)

As viajantes

Mulheres Negras viajantes – Bitonga Travel Quilombo Cafundó – SP

O grupo de viagem que saiu da capital paulista com destino ao Quilombo Cafundó, contou com 26 mulheres negras para a imersão, mulheres pretas de 18 a 74 anos, ou seja, a sua maioria participando de uma viagem à primeira vez em um território quilombola em seu próprio país/Estado.

Como disse a viajante Rute:

“Um povo forte amedronta o sistema, tentaram e tentam nos ridicularizar, podando nossa cultura, tentaram podar nosso poder, mas não vão conseguir, porque sempre fomos e sempre seremos resistência, estar num quilombo é resgatar nossa cultura”

Viajante rute

Desse modo, mulheres negras viajantes existem, resistem, trocam, transformam e encorajam outras mulheres à pertencerem ao mundo e reintegrar-se ao direito de ir e vir por essa sociedade.

E essa foi mais uma experiência de negras viajantes no Quilombo Cafundó! Realizada e organizada com muito amor por Rota da Liberdade, Quilombolas do Cafundó e Bitonga Travel.

Por fim,

Assista ao nosso vídeo no Canal do Youtube, venha sentir um pouquinho do que foi essa viagem! Afinal, tudo que é bom precisa ser registrado, não é mesmo?

Negras Viajantes visitam Quilombo Cafundó – SP

Para saber mais das atividades realizada pelo coletivo, assim como apoiar essas iniciativas entre em contato através do nosso email – faleconosco@bitongatravel.com ou através do nosso SITE.

Ah e é possível chamar a gente pelo WhatsApp, assim como mostrar o seu interesse em alguns das nossas viagens. Esperamos sua mensagem com muito carinho.

Jalapão - Foto arquivo Pessoal de Rebecca Aletheia

Venha viver Turismo de Base Comunitária no Jalapão Tocantins

Pensando em viajar para o Jalapão e ter uma imersão cultural através do turismo de base comunitária, você está no lugar certo! Neste post iremos compartilhar um pouco sobre esse paraíso.

Em primeiro lugar vale lembrar que Jalapão é o meu destino número 1 de lugares mais lindo do Brasil, pasmem! E obviamente quero que o mundo inteiro conheça o lugar, mas com moderação respeito e muito cuidado. Pois é através desse forma de turismo que o local terá sua beleza preservada.

Antes de darmos continuidade, vamos falar um pouco sobre o que é turismo de base comunitária?

O que é Turismo de Base Comunitária – TBC?

Turismo de Base Comunitária – TBC, são iniciativas e atividades protoganizadas pelas comunitária locais. O TBC tem como objetivo valorizar o modo de ser, assim como, amplia a autonomia e promove o protagonismo dos povos e comunidades tradicionais.

Em suma, é um modelo de turismo onde o protagonista é a comunidade, ou seja, gerando benefícios coletivos, assim como promovendo a vivências intercultural, preservando a qualidade de vida, valorização da história e da cultura local dessas populações. Bem como, a utilização sustentável para fins recreativos educativos. O TBC juntamente com a comunidade organiza e presta serviço para os visitantes tais como a valorização de guias locais entre outras atividades imersivas.

Deixaremos aqui um vídeo e o texto – Mulheres Negras viajantes que inspiram, com a produtora de conteúdo, viajante e Turismóloga Camila Franca caso queria saber mais sobre TBC.

Camila Franca fala sobre o que é Turismo de Base Comunitária

Turismo de Base Comunitária no Jalapão?

Sim, é possível realizar TBC no Jalapão! Mas antes, de falar dessa imersão nos Quilombos da região, vamos falar um pouco sobre o que é quilombo.

O que é Quilombo?

Anteriormente Laynara – Imersões Cultural produziu um brilhante texto – Você sabe o que é Mucambo, Quilombo e Remanescentes, se você não leu vale a leitura.

Mas enfim, o que é Quilombo? Quilombo é genericamente o local para onde pessoas escravizadas (pretas e não pretas, indígenas também) tinham como refugio e forma de sobrevivência, resistência e fuga dos “seus” senhores.

Enquanto durou a escravidão no Brasil, desde a colonização até o final do Império, existiram os quilombos.

O que é Mocambo Quilombo remanescentes de Quilombo
O que é Mocambo Quilombo remanescentes de Quilombo – por Laynara Imersões Cultural

Quilombo Mumbuca – Turismo de base comunitária no Jalapão

Localizada na região de Mateiros – Jalapão – TO, o Quilombo abriga atividades de TBC, ou seja, turismo de Base Comunitária.

Comunidade Mumbuca – A comunidade se tornou conhecida por ser a pioneira no extrativismo do capim dourado e sua inovação em costura-lo, dessa forma, deu origem a lindas peças de artesanato.

A designação “Capim Dourado” foi criada no ano 2000, ou seja, época da fundação da Associação da Comunidade Mumbuca, tendo sido este nome escolhido devido ao brilho do capim típico encontrado somente na região do Jalapão, que lembra o ouro amarelo. Antigamente este tipo de capim era denominado capim de vereda.

O nome Mumbuca

O nome Mumbuca se origina de uma abelha da região, cujo mel é usado para fins medicinais. Bem como, os fundadores do povoado Mumbuca eram pessoas negras escravizadas que fugiram da Bahia e Piauí durante a seca. Foi na região do Jalapão onde encontraram abrigo e alimento, adotando esse local para viver. Dessa forma, esse povo em busca de uma vida de liberdade em um lugar rico em água, e com uma beleza cênica impar, no final do século 18.

Comunidades no Quilombo Mumbuca

Antes de mais nada, vale lembrar que dentro do Quilombo Mumbuca pela sua grande extensão territorial no Jalapão o território é dividido em Comunidades, são elas:

  • Mumbuca
  • Rio Novo
  • Quintais do Prata
  • Rio da Prata

Quais são as atividades de TBC no Quilombo Mumbuca – Jalapão?

  1. Oficina de Costura em Capim Dourado – Nesta vivência, tem a oportunidade de conhecer melhor os processos de costura das artesãs que transformam o capim dourado em lindas biojóias e acessórios. 
  2. Trilha Nativa saindo da Comunidade Mumbuca – Prainha do Mumbuca – Encontro das Águas Trilha de nível fácil percorrido em 2 horas.
  3.  Cantiga de Roda com  o músico Arnon Tavares, artesão de peças em talo de buriti, vivencia como se constrói a viola de buriti que embala as cantigas cantadas e tocadas por este jalapoeiro.
  4. Roda de Conversa com Dona Doutora, a matriarca da comunidade. Conversa sobre saberes tradicionais bem como sobre os recursos naturais do cerrado. Momento com doutora em sua casa, toma-se o famoso cafezinho da região, juntamente com Dona Doutora que conta como foi nascer e se criar ali na comunidade. Dessa forma, compartilha sua grande experiencia com os recursos ali disponíveis, principalmente as plantas medicinais que já lhe permitiu salvar vidas de mumbucenses.
  5. Vivência com a Nativa Cleusa – Realizada na comunidade Rio Novo. Nesta vivencia tem-se a demonstração do modo de produzir  Farofa do “Boi Curraleiro” que antigamente se alimentavam durante os longos percursos de viagens  pelo Jalapão. Degustação da faropa pronta.
  6. Roda de Conversa com jovens nativos da comunidade Rio Novo sobre suas vivências e expectativas com inserção do turismo de base comunitaria na região.
  7. Bate-papo com Sr. Doutor e sua esposa Maria,  os anciãos da Comunidade do Prata com o famoso “café com rapadura” , cultivado e produzidos ali mesmo.
  8.  Visitação ao cultivos  orgânicos que os nativos produzem. Assim como de onde tiram suas fontes de subsistência através de alimentos que sustentam a comunidade (Mel, Buriti,Café e Rapadura, hortaliças).
  9. Trilha Nativa para o pôr do Sol  no Mirante do Prata com parada no fervedouro, trilha nível fácil duração de 30 minutos.

Festa Tradicional no Quilombo Mumbuca Jalapão

Festa da Colheita Capim Dourado Jalapão - TO - Turismo de Base Comunitária
Festa da Colheita Capim Dourado Jalapão – TO – Turismo de Base Comunitária

Além de toda essa variedade de atividades de Turismo de Base Comunitária que o Quilombo Mumbuca tem a oferecer eles ainda promovem no mês de setembro a festa da colheita.

Já pensou participar da colheita do capim dourado? Com direito à algumas das atividades descritas acima. Assim como participar da grande colheita. A festa acontece do dia 07 à 11 de setembro e possui vagas limitadas. Consulte os valores e garanta a sua vaga e venha participar dessa imersão.

Instagram Rota Nativa Br

Por fim, leia também…

20 lugares para se visitar em Palmas e Jalapão – Lurdinha Souza.

E aí gostou desse conteúdo? Deixe aqui nos comentários, você já fez TBC? Tem vontade? Assim como, será um prazer poder fazer parte em te ajudar a visitar esse e outros lugares incríveis de TBC.

Festa negra na Amazônia -O Marambiré do Quilombo do Pacoval - Pará

Festa negra na Amazônia? Conheça o Marambiré do Quilombo do Pacoval

Joice Vasconcelos irá contar um pouco sobre a festa do Marambiré do Quilombo do Pacoval – Pará, uma festa negra na Amazônia.

“As festas de Santos são eventos muito comuns e tradicionais em comunidades indígenas e quilombolas da Amazônia. Através dessas festas é possível identificar e vivenciar de perto a influência da cultura africana, indígena e portuguesa nesses territórios tradicionais. Festas como essas são repletas de valores ancestrais, sincretismos e rituais que dizem muito sobre a identidade da região e, principalmente, dessas comunidades que manifestam sua ancestralidade por meio da cultura”

Todos os anos no quilombo do Pacoval, localizado no município de Alenquer, Oeste do Pará, interior da Amazônia, acontece a apresentação da Dança do Marambiré, uma tradição africana que simboliza a identidade e resistência da comunidade, pois a tradição remete a ancestralidade desse povo e as conquistas que eles obtiveram com o Marambiré, como por exemplo, a titulação do território.

Bem, antes de mais nada, vamos entender o que é o Marambiré!

O Marambiré é uma tradição religiosa e sagrada de origem africana, considerado uma festa negra de um ritual africano mais autêntico do interior da Amazônia, uma vez que essa tradição deixada pelos antepassados do quilombo do Pacoval reconta a saga de luta por liberdade dos africanos escravizados na Amazônia. A dança segundo a memória dos mais velhos, era uma forma de agradecer o sucesso obtido com as fugas das fazendas de engenho, por isso é possível encontrar no ritual cânticos que expressem acolhimento, agradecimento e despedida.

Festa negra na Amazônia -O Marambiré do Quilombo do Pacoval – Pará (Foto arquivo pessoal de Joice Vasconcelos)

Para mais, o Marambiré representa a formação de um reinado africano na figura de seus principais personagens, o Rei e a Rainha de Congo. Além desses, tem-se as Rainhas Auxiliares, os Valsares que representam os Vassalos do Rei, um violonista e o um caixeiro, que acompanham o ritmo marcado dos pandeiros tocados pelos valsares. Ao total são 36 componentes que fazem parte do Marambiré que é apresentado em datas específicas no quilombo do Pacoval, dia 6 e 20 de janeiro.

Segundo manda a tradição, o Marambiré é apresentado todos os anos na comunidade nos dias 6 de janeiro, dia de São Benedito, padroeiro do Marambiré, pois é o santo que atende e realiza as promessas feitas pelos quilombolas do Pacoval que sempre tiveram muita fé no santo, uma vez que São Benedito é tido pela comunidade negra católica como o santo dos pretos. Além desse dia, o Marambiré também é apresentado na festa de São Sebastião, 20 de janeiro, dia em que o ciclo de apresentações do Marambiré se encerra com o ritual do Mar-a-baixo, ritual onde os dançantes do Marambiré vão para beira do rio, sobem em um barco e fazem o percurso de subir e descer o rio dançando e cantando, pois esse trajeto foi feito pelos seus antepassados que na busca por liberdade em encontrar um lugar seguro para se viver, muitas vezes se perdiam pelo caminho e subiam e desciam o rio.

Todos os rituais realizados na dança do Marambiré são lindos, emocionantes e cheios de simbolismo e significados. Presenciar essa tradição é uma experiência única, algo difícil de se traduzir pois vivenciar o Marambiré é vivenciar um mar de sentimentos e emoções, principalmente para quem é negro (a) e tem suas raízes em África.

Em 2020, em virtude da minha pesquisa de TCC que corresponde em investigar a contribuição das mulheres do Pacoval para preservação identitária do quilombo através do Marambiré, tive o privilégio de presenciar esse momento especial e compartilho com vocês um pouco desse momento único.

A comunidade do Pacoval, no dia 6 de janeiro de 2020, realizou o II Festival do Marambiré, um evento cultural, festa de cultura negra, que traz não só a apresentação do Marambiré, mas também outras manifestações culturais do quilombo na Amazônia. Pela parte da manhã, o Marambiré foi apresentado seguindo seu ritual de origem, começando dentro da igreja, depois saindo pelas ruas da comunidade e entrando nas casas das pessoas que estiverem com suas portas abertas para receber o Marambiré. Depois de entrar em algumas casas e dançar, os dançantes do Marambiré sempre vão até as casas dos promesseiros, as pessoas que fizeram promessas a São Benedito e oferecem um almoço ao grupo com objetivo de agradecer a graça alcançada.

Festa negra na Amazônia -O Marambiré do Quilombo do Pacoval - Pará
Festa negra na Amazônia -O Marambiré do Quilombo do Pacoval – Pará (Foto arquivo pessoal de Joice Vasconcelos)

Depois de visitar todas as casas dos promesseiros, o Marambiré retorna para o barracão (sede) da comunidade onde será servido um almoço comunitário aos comunitários e visitantes presentes, que acompanharam e participaram desse momento de alegria. Pela parte da tarde o Festival continua sua programação, trazendo as apresentações das demais manifestações culturais da comunidade, que concorrem a premiações. Esse dia foi lindo, especial, cheio de emoções e muita alegria, pois os quilombolas do Pacoval carregam consigo muito felicidade, energia positiva e sorriso no rosto.

Já na festa de São Sebastião, no dia 20 de janeiro, o Marambiré é dançado durante todo o dia para festejar o santinho e celebrar a vida, a liberdade e resistência dos quilombolas que ali vivem. Nesse dia o Marambiré também sai pelas ruas da comunidade, entra nas casas das pessoas para dançar e cantar, mas não há promesseiros, pois, o dia pagações de promessas é na Festa de São Benedito, o santo padroeiro da tradição. Porém, o almoço comunitário é ofertado aos comunitários e ao cordão do Marambiré, que celebram com festa e muita alegria mais um ano de apresentação da tradição.

Para os quilombolas do Pacoval, o Marambiré vai além de uma manifestação cultural, o Marambiré é sinônimo de identidade, resistência e conquistas, pois, por intermédio do Marambiré, a comunidade do Pacoval conquistou a titulação do seu território em 1996, se tornando o segundo quilombo a ser titulado no Brasil depois do território de Boa Vista, em Oriximiná, também no Pará. Ademais, por sua relevância na cultura paraense e amazônica, o Marambiré foi considerado em 19 de março de 2008, Patrimônio Cultural e Artístico do Pará, sendo uma expressão cultural e artística do município de Alenquer, de acordo com a Lei nº 7.113.

Festa negra na Amazônia -O Marambiré do Quilombo do Pacoval – Pará (Foto arquivo pessoal de Joice Vasconcelos)

Destaco que conhecer o quilombo do Pacoval e vivenciar essa experiência com os comunitários muito me mostrou como é o “viver em comunidade” através dos detalhes e dos valores que a comunidade carrega. Todos no quilombo são muito atenciosos, receptivos, gentis e alegres, com uma alegria que contagia. Também não posso deixar de relatar que presenciar o Marambiré foi muito importante no meu processo de conhecimento sobre a minha identidade enquanto quilombola, pois vivenciar essa tradição me fez sentir em muitos momentos no próprio continente africano mesmo nunca ter conhecido o lugar, mas como os quilombos são a própria África fora do continente, já que são nesses territórios de resistência que estão os frutos de África, vivencia um pouco dos saberes, conhecimentos, costumes e tradições que remetem ao continente.

Não poder participar do Marambiré esse ano é triste, pois assim como os quilombolas do Pacoval passei a respeitar muito a tradição e colocá-la na minha lista de prioridades, uma vez que o sentimento de vínculo e união com a comunidade foi selado e a vontade de contribuir com a perpetuação da tradição também, pois é responsabilidade de pesquisador(a) trazer retornos positivos ao seu público. Espero que esse momento de pandemia possa passar para que possamos novamente dançar, cantar e festejar muitos Marambiré.

Deixo como referência o artigo que eu, minhas professoras e colega construímos nas primeiras pesquisas sobre o Marambiré do Quilombo do Pacoval, no âmbito do Projeto FORMAZ – Formação Socioeconômica da Amazônia, da Universidade Federal do Oeste do Pará.

LEÃO, Andréa Simone Rente; SOUSA, Girlian Silva; QUARESMA, Edilmar Santana; OLIVEIRA, Joice Eliane Vasconcelos de. Marambiré como Patrimônio Cultural e Instrumento de Resistência do Quilombo do Pacoval/Pará.RELACult, Paraná, v. 05, ed. especial, nº 3, mai., 2019. Disponível em: http://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/view/1517/989.

Espero que tenha gostado e que possa se permitir vivenciar o Marambiré – A Festa Negra na Amazônia do Quilombo do Pavocal Pará.

Joice Vasconcelos

Joice Vasconcelos é cria da Amazônia, nascida e criada no pirão de farinha e banho de rio na pérola do Tapajós – Santarém/PA. É acadêmica quilombola do curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional, na Univerdade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Apaixonada por ouvir e contar e histórias e pelos estudos sobre território e territorialidades, Joice é pesquisadora daquelas desbravadoras e atualmente segue pesquisando sobre resistência negra na Amazônia, Quilombo do Pacoval, Marambiré e Mulheres quilombolas da Amazônia.