Helen Rose ano sabático em África do Sul

Um ano sabático na África do Sul durante a pandemia de 2020

Da série Negras Viajantes Presentes! Histórias que inspiram vamos compartilhar a história de Helen Rose em um ano Sabático pela África do Sul durante a pandemia de 2020.

O ano era 2019, quando finalmente resolvi realizar o sonho de morar fora do Brasil, unindo a experiência de moradora, estudante intercambista e turista. Morar na África e ainda aprender inglês? Maravilha! Uma mulher negra, pobre e aos 50 anos ir para um sabático, rompendo as barreiras do preconceito racial.

Mas antes de contar a viagem de 2020, quero dizer que a minha primeira viagem internacional ou o carimbo no passaporte, foi em 2016, para a África do Sul (Joanesburgo), Dubai e Índia (Nova Déli, Agra e Rishikesh). Foram 30 dias intensos e maravilhosos com um grupo de 18 pessoas. Como sou praticante de yoga e meditação há mais de 15 anos, ir para a Índia também era um sonho para conhecer as práticas de yoga disseminadas mundo afora.

Voltando para 2019/2020, foram alguns meses organizando, fazendo orçamentos, conversando com pessoas via web, busca em milhares de sites de viagens, renovar passaporte, cuidar de todas as burocracias e eis que chega o grande dia, fevereiro de 2020. Hora de partir, fazer o check in.

Lembro que em dezembro de 2019, tivemos as primeiras notícias sobre um vírus contaminado as pessoas na China, e que alguns turistas europeus também começavam a ter alguns sintomas. O tempo vai passando, até que em fevereiro a imprensa noticia o aumento de casos, mostrando pessoas em algumas cidades chinesas intensificando o uso de máscaras. Ainda não tínhamos muitos dados detalhados, até que um grupo de brasileiros que estavam na cidade de Wuhan, na China, são trazidos ao Brasil em um avião fretado pelo governo brasileiro e precisam ficar isolados, de quarentena para evitar a transmissão. Mas você que está lendo essa postagem deve também ter acompanhado o noticiário, a ideia era apenas contextualizar a organização da minha aventura.

Enfim, com as malas prontas cheguei ao aeroporto de Guarulhos, vi várias pessoas já usando máscaras, algumas até com luvas. Mas eu estava sem, apenas com álcool em gel na mala e bagagem de mão. Isso foi em um sábado, meu voo era via Angola com previsão de chegada na Cidade do Cabo no domingo à tarde.

A viagem foi tranquila, nenhum atraso, no aeroporto de Angola fui convidada para ir à “salinha”, fui revistada, questionada sobre o motivo da viagem e apresentei todos os documentos. Detalhe, em um voo lotado fui a única pessoa que a ir para a burocracia da imigração. Tudo pronto, liberado o voo para a África do Sul.

Ansiedade, alegria e expectativas, afinal seriam seis meses em uma cidade nova, morando com uma família sul-africana e depois moraria sozinha. Isso estava no planejamento.

Ano sabático na África do Sul

Trilha table moutain Africa do Sul Helen ROse
Trilha Table Mountain Africa do Sul por Helen Rose

Já era domingo, fui recebida por Rosie e Lionel no aeroporto, minha nova família na Cidade do Cabo, na segunda-feira, era a minha primeira aula na escola de inglês. Até agora tudo lindo, divino e maravilhoso.

Como fiz meu diário de bordo, sei que após duas semanas recebo a notícia de que a África do Sul começará um lockdown de vinte dias para evitar o avanço do Corona vírus, e as aulas de inglês que eram presenciais a partir de agora serão online. Todas as fronteiras fechadas, voos turísticos suspensos, permissão apenas para repatriação e comercial. Meu paraíso durou pouco, tive que recalcular a rota e me preparar emocionalmente para aproveitar a experiência dos meus sonhos.

E assim foi, fiquei quatro meses de lockdown morando com Rosie e Lionel, mais dois cachorros e com acesso limitado à internet porque na casa não tinha banda larga (fibra ótica), então eu colocava crédito no celular para acompanhar as aulas de inglês. O que era para ser um lockdown de vinte dias durou meses.

Quando foi em junho, na fase 3 do lockdown resolvi que era o momento de ampliar minha experiência indo morar sozinha e ter a possibilidade de conhecer outros bairros (mudei do Brooklin para Tamboerskloof) e outras pessoas. Através do Airbnb fui para um apartamento perto da Long Street, famosa rua turística em Cape Town.

Ano sabático na África do Sul Helen Rose
Helen Rose em Waterfront – Cape Town – Africa do Sul

A partir desse momento minha rotina era estudar com as aulas online, agora tinha uma boa conexão, com a fase 3 do lockdown já podia sair para fazer caminhadas, ir ao supermercado, shopping, seguindo todos os protocolos de segurança (máscara, álcool em gel e distanciamento social).

Aproveitei também esse momento para ser voluntária em dois projetos, um de horta comunitária e outro para moradores de rua, e, assim praticar a fluência em inglês e ter mais contato com os sul-africanos. Aos poucos as coisas foram se ajeitando, consegui sozinha me adaptar a nova rotina, conheci alguns brasileiros e fazíamos os passeios que eram permitidos. Fiz também contato com pessoas do Congo, Zimbábue, Senegal, Moçambique, Angola, Alemanha, França, Arábia Saudita.

A Cidade do Cabo (Cape Town) tem muitas praias, turismo de aventura, ecoturismo, então aproveitei para fazer muitas trilhas e caminhadas no principal ponto turístico, a Table Mountain (Montanha da Mesa). Uma formação rochosa linda, patrimônio natural da humanidade e é possível avistá-la de vários pontos da cidade. E com o coração acelerado, fui a Robben Island, ilha onde Madiba, Nelson Mandela, ficou preso por 27 anos, na luta contra o regime segregacionista do Apartheid.

Ainda não consegui ser fluente em inglês, mas já melhorei muito, tive algumas dificuldades em me adaptar as aulas online, pois confesso que prefiro presencial. Se não fosse a pandemia com certeza meu aproveitamento na aprendizagem da gramática teria sido muito melhor. Mas não posso reclamar, afinal, não fui a única a ser afetada pela Covid-19. Seri que fram os oitos meses mais importantes e incrveis da minha vida.

A resiliência faz parte da minha vida desde criança com a superação de muitos desafios, talvez essas características tenham sido fundamentais para que conseguisse aproveitar da melhor maneira possível o intercâmbio atravessado pela pandemia. Sou de uma família grande, meus pais não são alfabetizados, criaram oito filhos, minha mãe empregada doméstica e meu pai segurança de porta de fábrica (falecido há 30 anos). Comecei a trabalhar oficialmente aos 12 anos, como babá, empregada doméstica, balconista de padaria e cuidadora de idosos. Até que aos 18 anos fui aprovada em concurso público, para trabalhar como agente de saúde, a partir daí, pude começar a sonhar com um futuro melhor.

Atualmente pesquiso sobre história do continente africano, com destaque para o turismo na diáspora e países africanos de língua portuguesa.

Helen Rose ano sabático na África do Sul

Helen Rose

Viajante do tempo, historiadora, pesquisadora independente da história e cultura afro-brasileira.

Podcast Bitonga Travel

Essa foi a história de Hellen Rose e seu ano sabático na África do Sul. E aí gostou? Compartilhe a sua história e textos conosco: bitongatravel@gmail.com

12 enfermeiras negras negligenciadas na história para conhecer

O ano 2020 foi instituído pela Organização Mundial da Saúde(OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS), como o ano internacional da Enfermagem e Obstetrícia. Mediante a este marco iremos apresentar ou relembrar 12 enfermeiras negras negligenciadas na história para conhecer.

Não foi à toa que se instituiu este ano para esta celebração, mas por duas razões: o mundo precisa de mais de 9 milhões de enfermeiras(os) e obstetrizes para atingir a meta de cobertura universal de saúde até 2030. E pelo 200º aniversário de nascimento da Florence Nightingale – a fundadora da enfermagem moderna.

No dia internacional da Enfermagem, 12 de maio, escrevo este texto com um histórico racial para que pensemos enfermeiras negras, que talvez não nos contaram nas aulas de história da enfermagem ou que no nosso dia-a-dia são negligenciadas devido seu estereótipo racial.

A enfermagem é conhecida como a arte do cuidar. E vamos trazer o histórico de mulheres negras tiradas forçadamente da África para o mundo, sendo submetidas a situação de escravidão e prestação do cuidado à todas as pessoas da sociedade colonial, em situações de manutenção da saúde ou na doença em todas as etapas do ciclo de vida. Neste contexto de escravidão nota-se que essas mulheres negras muitas vezes eram impedidas de cuidar de outras pessoas escravizadas e familiares, pois o cuidado exercido por estas mulheres negras no período colonial tinha como função social a servidão escravocrata. As mulheres negras prestavam o cuidado como negras domésticas, mães pretas, parteiras, enfermeiras e amas-de-leite.

No Brasil não seria diferente, o cuidado é/era exercido majoritariamente por mulheres negras. Atualmente no país há cerca de 3,5 milhões de profissionais da saúde, e aproximadamente 50% são da enfermagem, destes 86% são mulheres e 53% são negras e negros.

Neste texto gostaríamos de apresentar 12 mulheres negras que atuam como enfermeiras que fizeram e fazem parte da nossa história à nível mundial.

Mary Jane Seacole – Enfermeira negra jamaicana atuante na guerra da Crimeia, isso mesmo, a mesma guerra onde se tem o destaque para Florence Nightingale. Mary aprendeu através dos ensinamentos de sua mãe negra que praticava cuidados através da medicina tradicional,  assim como o tratamento aos doentes e combate às doenças endêmicas. Em 1854, inscreveu-se para participar da equipe de enfermagem da Florence para cuidar dos soldados feridos da Guerra da Criméia, porém não foi aceita, apesar das cartas de recomendações dos governos da Jamaica e Panamá.

Mary Jane Seacole - Enfermeira negra
Mary Jane Seacole – Enfermeiras negras

Um não, não é suficiente para barrar uma mulher negra, Mary Seacole arrecadou fundos para viajar por conta própria à frente de batalha. Com o dinheiro que obteve montou o British Hotel onde vendia comida e bebida aos soldados para custear as despesas do atendimento a doentes e feridos dos dois lados, teve como nome – Mãe Seacole.

Mary foi ignorada no Memorial da Guerra da Criméia, em Londres em 1915, até ter sua autobiografia encontrada em um sebo. Onde foi homenageada no Reino Unido e na Jamaica, onde dá nome à sede da Associação Jamaicana de Enfermagem.

Ressaltamos a história de Mary Elisa P. Mahoney, primeira mulher negra americana diplomada enfermeira pelo New England Hospital for Women and Children, em Boston

Mary Elisa P. Mahoney  - Enfermeira negra
Mary Elisa P. Mahoney – Enfermeira negra

Na história Brasileira, também temos a guerra e neste caso a do Paraguai e a enfermeira branca destaque – Ana Neri a percussora da Enfermagem no Brasil, como destacado na literatura. A guerra do Paraguai se deu no período da escravidão, ou seja, muitas mulheres negras enfermeiras estavam envolvidas porém com suas histórias negligenciadas.

Maria Soldado - Enfermeiras Negras na guerra
Maria Soldado – Enfermeiras Negras na guerra

Maria Jose Barroso, depois conhecida como “Maria Soldado”  foi uma notória enfermeira de guerra. Atuou na guerra civil da revolução constitucionalista de 1932, inicialmente, seus feitos e posicionamento político eram exercidos como “enfermeira” da Legião Negra, posteriormente passando a atuar na linha de frente de batalha. Maria Soldado, é considerada a precursora da enfermagem moderna no Brasil. A mesma não ingressou em uma instituição de nível superior para diplomação em Enfermagem, pois não tinha os requisitos de ser a mulher ideal para compor a enfermagem profissional no Brasil por não ser “branca, culta, jovem e saudável”, assim excluía – se as mulheres negras.

Maria Soldado - Enfermeiras Negras
Maria Soldado – Enfermeiras Negras

A profissão de enfermeira para mulheres negras no Brasil foi negada durante 2 décadas 1920 e 1930, ou seja, na primeira escola de enfermagem, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro – UNI-RIO, mulheres negras não eram bem-vindas.

Lydia das Dores Matta, Josephina de Melo, Lucia Conceição e Maria de Lourdes Almeida no ano 1943 na cidade de São Paulo, são as primeiras negras oriundas de estados pobres e distantes a ingressarem no Curso Básico de Enfermagem na Universidade de São Paulo, a escola de maior projeção da América Latina na época a ingressarem na universidade assim como formam-se en Enfermagem. A escola de enfermagem da USP foi criada em 1940, 3 anos depois ingressam as primeiras negras a cursar a universidade.

Lucia Conceição e Josephina de Melo primeiras enfermeiras negras diplomadas no Brasil
Lucia Conceição e Josephina de Melo primeiras enfermeiras negras diplomadas no Brasil

Rosalda Paim iniciou o curso em Enfermagem em 1947 pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa – EEAAC da Universidade Federal Fluminense – UFF, na época denominada Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro, graduando – se em 1950. Com um currículo invejável de especializações, visava romper com o modelo hegemônico curativista a o trazer conceitos que ainda não eram discutidos e utilizados no sistema de saúde como, integralidade, humanização, hierarquização dos serviços, referência e contra-referência.

A trajetória profissional de Rosalda Paim é norteada por marcos teóricos, sociais e políticos da virada do século XX para o XXI no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, de modo que a mesma teve um papel de destaque no processo de modernização da enfermagem brasileira, na formação do enfermeiro e profissionais de saúde, na democratização brasileira e na mudança de paradigma na atenção em saúde.

Rosalda Paim, a primeira enfermeira parlamentar e negra do Brasil, exerceu o mandato de Deputada Estadual do Rio de Janeiro, pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT no período de 1983 a 1987. Utilizando-se de sua formação em educação, saúde e enfermagem Paim criou e teve aprovada 20 leis na área de saúde e assistência social, assim ela exerceu uma atuação política notória e importante para a sociedade carioca e brasileira.

Rosalda Paim - Enfermeiras Negras
Rosalda Paim – Enfermeiras Negras

A enfermeira negra Izabel Santos iniciou sua trajetória profissional no Serviço Especial de Saúde Pública – SESP ligado a Opas – Organização Panamericana de Saúde na década de 50, onde atuou por 20 anos, posteriormente passou a integrar o quadro de professores Universidade Federal de Pernambuco – UFPB e por fim retoma seu vínculo com a OPAS em 1976, onde atuou como consultora até 1997, assessorando o Ministério da Saúde. A sua contribuição de maior destaque está na formação profissional de enfermagem, sobretudo no nível técnico com a idealização do Programa de Qualificação de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem – PROFAE.

Izabel Santos – Enfermeira Negra

Maria Stella de Azevedo dos Santos – Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi,  iniciou a graduação de enfermagem aos 15 anos de idade, tornou-se enfermeira pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Após sua formatura especializou-se em Saúde Pública e passou integrar o quadro de enfermeiras sanitaristas da Secretária de Saúde do Estado da Bahia – SESAB em um Centro de Saúde.

yalorixá mãe Stella de Oxóssi - Enfermeira Negra
Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi – Enfermeira Negra

Enfermeira e Iyalorixá torna-se imortal em 12 de setembro de 2013 ao assumir a cadeira de número 33 na Academia de Letras da Bahia após ser eleita por unanimidade. Por essa cadeira que tem o poeta Castro Alves como patrono, já foi ocupada pelo seu amigo, o também escritor Ubiratan Castro de Araújo

Dona Ivone Lara formou-se pela Faculdade de Enfermagem do Rio (atualmente Faculdade Alfredo Pinto, da UNIRIO). Dedicou-se intensamente à profissão, especialmente à Saúde Mental. Costumava percorrer as enfermarias e pavilhões do Instituto Psiquiátrico Pedro II em busca das histórias, referências e laços familiares dos pacientes. Era uma rotina, que além de dar-lhe satisfação, fazia parte do tratamento terapêutico.

Done Ivone Lara - Enfermeira Negra
Done Ivone Lara – Enfermeira Negra

Prestou concurso público para o Ministério da Saúde em 1942, antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira, onde atuou por mais de três décadas com pacientes afetados por graves transtornos mentais. Fazia plantões de 24/48 horas que, segundo ela, eram desgastantes, mas, ao mesmo tempo, muito gratificantes já que ajudavam a diminuir o sofrimento dos que procuram as unidades públicas de saúde.

Atuou com Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que rebelou-se contra a lobotomia, eletrochoques e outros métodos agressivo de tratamento de Saúde Mental, defendendo um tratamento humanizado da loucura. Com Nise, especializou-se em terapia ocupacional.

Soube combinar a música e as habilidades de enfermeira para ajudar seus pacientes a enfrentar transtornos mentais. A música funcionava como um bálsamo consolador nas inúmeras festas que promovia com suas colegas de trabalho. Ela cantava e dançava com os pacientes e, assim, transformava aquela rotina, tantas vezes esgotantes, em momentos de felicidade.

E não poderia deixar de mencionar as duas ex-esposas de Mandela que se formaram enfermeiras Winnie Mandela e Evelyn Mase, mas essas histórias ficarão para outro texto.

Winnie Mandela - Enfermeiras Negras
Winnie Mandela – Enfermeiras Negras

Não há dúvidas que na nossa história existem muitas enfermeiras negras que fizeram e fazem história e que tem importância política nesta atuação, dispondo-se para serviços de guerras, endemias, pandemias, assim como atuação nas atividades científicas, hospitalares e nas comunidades.

Que essa profissão seja reconhecida e valorizada e com o seu devido destaque para a questão de gênero e raça.

Referência para esse texto foi o excelente estudo de graduação de Cláudio Bonfim de Oliveira Nascimento Junior: BLACK LADIES NURSES?! SIM: Enfermeiras negras e a construção da identidade da Enfermagem no Brasil

https://www.instagram.com/rebeccalethei/

Por trás de cada viagem, há uma história de superação

Da série mulher negra viajante que inspira contamos a história da Carina Silva, uma empreendedora que traz consigo a superação por de trás de cada viagem. Proprietária das empresas Destino Afro e Black Travelers .

Para algumas pessoas, viajar é um sonho nem sempre fácil de se realizar. Certa vez, uma colega me disse que queria muito de viajar, mas não tinha coragem devido ao medo de viajar sozinha. Ela dizia que viajar era um risco e que estar longe de casa em um imprevisto era arriscado. Na época eu era funcionária de uma agência de viagens e sugeri viagens em grupos e leituras sobre viagens. Ela até se animou, mas depois hesitou.

Carina Silva - Proprietária da agência de viagem Destino Afro e Black Travelers. Mulher negra viajante que inspira
Carina Silva – Proprietária da agência de viagem Destino Afro e Black Travelers

Quando penso na minha relação com viagens, vejo que desde o início sou uma viajante que sempre teve facilidade de viajar sozinha, seja pelo Brasil ou por exterior.

E faço isso quase que sem pensar em medos e anseios, na verdade, sei que viajar envolve desafios, mas o desejo e agora o hábito de viajar sempre foram mais fortes. E era interessante que esta paixão por viagens influenciava outras pessoas a viajar comigo. Em 2012 convenci minha mãe, irmã e ex namorado a viajar para Salvador juntos – foi a nossa primeira vez de avião. Foi fantástico. Nos próximos anos, isso se repetia – eu pensava em uma viagem, comprava a passagem e em seguida, amigos tomavam a coragem e vinham comigo. E foi assim para Gramado, Fortaleza, Europa e África do Sul. De certa forma, eu conseguia passar segurança para que as pessoas decidissem viajar.

Em 2018, já com minha primeira empresa aberta – a Black Travelers, eu fiz minha primeira viagem à África, e fui sozinha – uma amiga decidiu passar uma semana comigo na Cidade do Cabo :D. O meu plano era passar 3 meses na África do Sul, mas lá inclui Moçambique de última hora. E fui. Em Maputo, pesquisei regiões próximas para visitar e cheguei a praia de Macaneta. Um vilarejo de casas sem muros, sem barulho e caminhos de areia. A praia era enorme, uma longa faixa dourada de areia entre o verde da vegetação e o azul do mar e do céu. A paisagem era linda. E não havia ninguém ali. Devo confessar que está praia me trouxe medo. Sabe por quê? Eu estava sozinha, era deserta. 

Entre o medo e a coragem, decidi ficar. Caminhei por cerca de 30 minutos na presença da vegetação, areias, vento e cheiro do mar. Nenhum rastro de aves, muito menos de outro ser humano. Pensava em voltar, mas qual seria meu medo? Se não havia ninguém ali. Então continuei a caminhar e encontrei uns barcos de pescadores e cabanas onde fiz umas fotos.  Clique para ver a Foto

Esta caminhada na praia sozinha, me fez superar um medo que eu não sabia que tinha: de estar sozinha com a natureza. Foi um momento de entrega, reflexão e acima de tudo superação. Quando vi que não sentia mais medo de estar sozinha, decidi voltar para a Pousada. 

Ali mesmo, caminhando foi que pensei, se posso motivar amigos e familiares a viajar comigo, por que não motivar brasileiros a viajar para África e países da Diáspora? Senti que era um chamado. E dali decidi lançar o Grupo 2019, que me permitiu voltar a Moçambique com pessoas desconhecidas, que simplesmente foram tocadas por minhas histórias e vivências de viagens. O Grupo 2020 aconteceu em março em Cartagena na Colômbia, pouco antes da pandemia alastrar, mesmo em um cenário de futuro incerto, nosso grupo viveu momentos tão maravilhosos, que quase todos os dias compartilhamos fotos e vídeos sobre quão felizes estávamos apesar de as sombras das incertezas estarem na porta. E logo que a viagem encerrou, as janelas do mundo foram fechadas pela quarentena. O que fica? A gratidão em perceber que minha história pode ajudar pessoas a superarem medos e a ver quão belo, complexo e diverso o mundo é. Sejam elas físicas ou mentais, viajar é sobre superar fronteiras. Cruze as tuas!

 Viagem Destino Afro para Cartagena na Colômbia 2020 - Mulher negra viajante que inspira
Viagem Destino Afro para Cartagena na Colômbia 2020

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Da série mulher negra viajante que inspira, leia também:

Ser Mulher é Ser Manacage

Vamos de poesia? Viajemos pelo universo poético de mulheres negras africanas e poeta. Uma poesia diretamente da cidade de Quelimane, feita por Fátima Abel de Matos

Manacage é a força da natureza

Manacage traz consigo as virtudes da vida

Tu Manacage Lutaste Pela Liberdade

Aqueles que hoje a humilham, não sabem o quanto custo a própria liberdade

Manacage é Ancestralidade

Manacage tu és o elemento Importante na Diversidade

Manacage és a Força viva de se tracejar

Manacage tens uma alma pura condenada em deixar o Próprio véu rastejar

Hoje te tornaram uma Manacage na desgraça nua

Os teus traços lindos perdidos na lua

Não sabes o quanto retardaste a minha Idade

Ah então é assim, nos dias de hoje faz-me perder credibilidade 

No meu ventre te tornei um embrião

 Ainda deixas mi dormir sem colchão

Porque a minha luz o incomoda é mi colocas no chão

Sou Manacage forte como a montanha, com um coração do tamanho do mar

Acolhedora como a mamã africa, aquela que acolhe todos quando a te chegar

Manacage tu és o símbolo da Humanidade.

Autora ꓽ Fátima Matos

Fatima Abel Matos, nasceu aos 10 de novembro de 1994 na cidade de Quelimane Província da Zambézia – Moçambique.  Formada na área de educação de infância e empreendedorismo. Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras da Zambézia e Associação Raparigas+Visão. Trabalha no Departamento de Recursos humanos, exercendo a função como Técnica de RH na Universidade Católica de Moçambique /Quelimane, também é produtora do arroz orgânico na Zambézia, Ativista social, atualmente frequenta o 4 º ano no curso de Gestão de Recursos humanos na Faculdade de Ciência Sociais e Politica-UCM. Participou em 2019 na coletânea Internacional Intitulada “Mulher e os Seus Destinos “com uma Antologia de Poesia “Ser Mulher”, recentemente no Mês de Fevereiro de 2020 Participou na coletânea Nacional Intitulada “Poemas e Cartas Ridículas de Amor” com uma Antologia “Quero Construir.”                               

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Mochilão sabático em Alter do Chão

Mulheres negras por elas mesmas – 3 Negras viajantes que inspiram

Mulheres negras por elas mesmas – 3 Negras viajantes que inspiram, a história de Dona Elza (mãe), da Odara (filha) e da Andreza Jorge do complexo da Maré para o mundo.

Hoje faz exato um mês que eu Andreza Jorge passei o primeiro dia em uma viagem internacional com minha mãe e minha filha.

Pra muitos esse feito talvez não signifique nada e tudo bem… acho estranho também isso significar tanto pra mim, mas a realidade é que tenho 31 anos de idade e já viajei internacionalmente 5 cinco vezes e todas elas tiveram a ver com minha trajetória e empreitada profissional depois dos 20 anos de idade, nunca foi por lazer simplesmente, como já vi acontecer por aí…


Minha mãe Elza Jorge tem 62 anos e foi a sua primeira viagem internacional, que só foi possível ser assim, por lazer, pq já há muitos anos trabalhou para que eu, hoje, possa viajar a trabalho.

Mulheres negras por elas mesmas - 3 Negras viajantes que inspiram Elza Jorge, Alice Odara e Andreza Jorge
Elza Jorge, Alice Odara e Andreza Jorge


No entanto, Alice Odara, com 5 anos de idade, tem sua primeira viagem internacional por lazer e ao lado de sua mãe e sua avó…


Inimaginável pensar nessa possibilidade se partir apenas de um recorte sobre minha trajetória que é marcada pelas desigualdades ao estamos inseridas… No entanto é também essa trajetória, forjada na maioria das vezes por mulheres e suas histórias que permitiram e permitem que os ciclos se renovem…


Foi preciso, mas eu desejaria profundamente que não, que Dona Tina, minha avó, não tivesse vivido em casa de madame desde sua infância até a vida adulta para criar 6 filhos, foi preciso que Dona Elza tivesse ousado romper com o ciclo de trabalho doméstico que se iniciou aos 14 anos em casa de família para conseguir outras oportunidades para criar 2 filhos e somente por isso, eu hoje acesso a lugares que sempre nos foi negado, para que Alice Odara, possa transcender a experiência única que dizem sobre seu corpo no mundo.

Alice Odara uma criança negra e favelada da Maré, experimenta e experimentará através desse ciclo e força de mulheres que nos antecede…Creio convicta.

Negras Viajantes que inspiram - Alice Odara
Alice Odara


Por isso, compartilho aqui tbm, mais uma feita, justo hj, no dia Internacional da Mulher….

Dona Tina, dona Elza e Alice Odara terão em minha vida a realização de um sonho: Ser a primeira da família a fazer um doutorado!!!


Ontem recebi a notícia de aprovação no doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ.

É a minha vida que faz a ligação entre trajetórias tão distintas como a da minha mãe e da minha filha, mas somente por elas e pelas que antes foram, que essa trajetória EXISTE.

É assim, sempre tem sido, mulheres negras por elas mesmas…somos muito além do que nos impuseram, pq nós somos circulares e sempre adiante…


Obrigada a todas envolvidas, as mulheres da minha família que entenderam o real significado da vida de Dona Tina e honram essa história partindo desse lugar de pertencimento e JAMAIS elegendo, ao votar em representantes que odeiam tudo que ela representou… Somente a esses familiares eu agradeço, aos outros eu só sinto pena msm.


Agradeço as minhas amigas que compreendem as vitórias individuais como sonhos coletivos e inspiradores…

Negras Viajantes que inspiram - Andreza Jorge, Alice Odara e dona Elza Jorge em Nova York na primeira viagem internacional
Andreza Jorge, Alice Odara e dona Elza Jorge em Nova York na primeira viagem internacional

Será muito desafiador, mas a Dona Tina merece ter uma neta doutora, a Dona Elza merece ter uma filha doutora e a Alice Odara merece ter uma mãe doutora!!!

https://www.instagram.com/andrezajorge01/

Axé e bons ventos sempre!!!

Conte sua história para gente e vamos mostra aos quatro cantos histórias de mulheres negras viajantes que inspiram.

bitongatravel@gmail.com

Mulheres negras viajantes que inspiram

E por ver que não achava aquilo que se encaixava no que eu buscava nas agências, eu decidir ser essa agência.” Camila França (Negras Viajantes que inspiram)

Nós da Bitonga Travel escolheremos uma mulher por mês para que possamos compartilhar suas histórias como mulheres negras viajantes que inspiram.

A entrevistada do mês, é Camila França, uma jovem mulher negra, empreendedora e dona da agência de turismo Rotas Viagens e Experiência.

Camila, conte um pouquinho sobre você.

Camila França - mulheres negras viajantes que inspiram no Chile- foto do arquivo pessoal
Camila França – Jovem mulher negra empreendedora no turismo


Depois de muito tempo tentando me entender e entender o meio em que estava, passando por um processo de depressão, mudanças de estado, acho que hoje eu finalmente estou mais perto de quem sou eu.

Gosto de estar no mundo sempre que possível, para conectar com o novo, dentro e fora de mim.

Não sou muito de só visitar, acabo morando por agum tempo nos lugares.

Fiquei 5 meses no Rio de Janeiro, 3 na Bahia e 2 no Chile, essas experiências me transformaram muito profissionalmente e pessoalmente, onde hoje os dois se completam.

Como já disse o turismo é minha profissão e minha vida.

Viajar para você é?


Minha vida! A viagem me ajudou muito em um período de depressão, e logo após mudar para Rio de Janeiro, comecei a pensar que além de ser algo que amava no pessoal, poderia ser no profissional também.

Camila França - mulheres negras viajantes que inspiram no Chile- foto do arquivo pessoal
Camila França – foto do arquivo pessoal

Então sempre falo que viajar, é o que me move, é o que me defini.

De onde surgiu a ideia de uma agência de turismo? 


A ideia surgiu de poder fazer a diferença através de algo que amo tanto.

De poder mostrar para as pessoas que o turismo é transformador, interno, externo, social. Por não encontrar aquilo que se encaixava no que eu buscava nas agências de viagem/turismo, eu decidir ser essa agência. 

Para você qual é importância do turismo sustentável? 


Total, por que vemos o sustentabilidade só ligado ao meio ambiente, mas quando na verdade tem que ser social, financeiro e totalmente sustentável, pra ser um turismo de troca, trocas boas, entre o espaço e o visitante.

Como o Rotas Viagens e Experiências tem atuado?


Hoje de forma mais responsável, não somente com os clientes, mas com o destino e parceiros. A importância de que os 3 sejam complemento tem me mostrado um retorno muito grande de quem viaja comigo.

Estamos entrando agora mais para o turismo de experiência e de base comunitária (TBC) procurando sempre tentar conhecer o destino para oferecer algo que não seja só um lazer, mas uma conexão.

Conte mais sobre esse Turismo de Base Comunitária

Mais conhecido como TBC (Turismo de Base Comunitária), é um turismo voltado mais para o contato direto com as comunidades locais da região, além de ser desenvolvido por eles, onde se capacitam os moradores para que o Turismo seja uma fonte de renda, com retorno direto para os mesmo.

O contato com essa população é extremamente importante, ajuda a fortalecer culturas, e a recuperar tradições, além de mostrar um respeito que acabamos não tendo com os que ali vivem.

Afinal eles são os guardiões dos lugares em que visitamos.

Viagens em comunidades como vocês tem atuado?


Eu decidi iniciar um novo caminho no rotas, de trabalhar com TBC, mas a ideia de poder passar mais do que fomos, para que entendamos quem somos.

De respeito por aqueles que levam tanto, de geração para geração, de fortalecer as comunidades locais e trazer para as pessoas o turismo cultural.

Isso em todos os tipos de comunidades, não só quilombola, é o que falta no turismo, para que as pessoas respeitem mais, os moradores e o espaço que eles vivem.

Quais são os próximas vivências para 2020?


Março – 13/03 a 15/03 Parati Mirim – RJ
Maio – 30/04 a 03/05 Parati Mirim – RJ
Julho – 08/07 a 12/07 Serra Gerais -TO
Outubro – 08/10 a 14/10 ou 22/10 a 28/10 Deserto do Atacama – Chile

Camila França - mulheres negras viajantes que inspiram no Chile- foto do arquivo pessoal
Camila França no deserto do Atacama – próxima expedição em outubro

Deixamos aqui o contato dessa mulher da série mulheres negras viajantes que nos inspiram diariamente a fazer o que amamos.

Rebecca Aletheia entrevista Camila França

Nome completo – Camila da Silva França Souza https://www.instagram.com/cami_franca/
Nome da sua empresa – Rotas Viagens e experiência
Redes sociais – Instagram – https://www.instagram.com/rotasviagens_experiencia/
WhatsApp – +55 ‪(11) 97958-7378‬ 
E-mail – rotasviagensetrilhas@gmail.com

Apoie empresas de turismo geridas por mulheres negras.