A Glória Maria a musa inspiração das mulheres que são Viajante Negra da contemporaneidade, aquela rompeu tantas barreiras. Mostrou que não existia limites quando o assunto era IR!
Em primeiro lugar, vale lembrar que no dia 02/02/2023, quando salvadamos a Rainha do Mar, fomos noticiados com sua partida. Rainhas não morrem, se eternizam sendo assim, há muito o que fizer sobre ti!
Audáciosa
Foi audaciosa, trabalhou com o que mais amava, assim como fez da profissão caminhos para o seu percorrer. Quando falamos e mulheres viajantes, falamos de Glória Maria! A sua pele retinta sempre impactou, mas não esmoreceu, mostrou que além da sabedoria, tinha carisma, simpatia e beleza.
Viajou, viveu e curtiu como ninguém! Não tinha fronteiras para dizer o que via e pensava. O mundo à abraçou, acolheu e mostrou o quanto és amada.
Primeira no Brasil a usar Lei Afonso Arinos
Ser mulher negra nesse Brasil nunca foi uma missão fácil, assim como você ensionou a importância de lutar por direitos, assim como tê-lo como um ato de bravura! Foi você que mais uma vez mostrou através da lei Afonso Arinos (Glória Maria foi a primeira no Brasil a usar Lei Afonso Arinos 1390/51) e do seu saber onde é lugar de racista.
“Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção”.
Glória Maria – Viajante Negra
Um VIver admirável
Queria ter tido a oportunidade de ter uma conversa contigo, seria muita ousadia pedir uma viagem contigo e outras mulheres negras viajantes. Tenho certeza que riríamos muito e íamos ficar de boquiabertas ouvindo cada história nos seus mínimos detalhes.
Admiro e amei o seu viver. Se existe uma coisa que vc fez e muito bem nessa vida, foi VIajar com VI de VIver, VIvenciar…
Agradecemos pelo seu VIVER
Obrigada por tudo, pros viajantes a frase vá algum lugar que nunca foi antes, só posso dizer que onde é que você estiver, faça mais uma grande experiência.
Fica a nós os seus passos, sua VIVAcidade!
Para os viajantes não existe a morte, é apenas mais uma partida e sem um até logo, afinal de contas temos muito à viver.
Descanse 🙌🏾💓
EU SOU GLÓRIA MARIA, EU SOU VIAJANTE NEGRA! SOMOS GLÓRIAS MARIAS, SOMOS VIAJANTES NEGRAS.
Quem nunca sonhou em viajar pelo Brasil, sem data de volta e se conectando com as comunidades locais? Muitas vezes esse sonho é interrompido pela falta de grana, mas a escritora viajante – Manoela Ramos vem mostrando que é possível viajar, mesmo que sem dinheiro.
É o que conta o livro “Confissões de viajante (sem grana)” que chega em sua terceira edição. Com mais de 2.700 cópias vendidas, mais de 5mil leitores em e-book e duas vezes o mais vendido da Amazon na categoria Viagens da América Latina, o Guia de viagens/ diário de bordo é um livro independente que já alcançou pessoas do Brasil todo, através da narrativa de uma mulher preta, que viaja sozinha, conectando-se com suas raízes, ancestralidade e com a pluralidade cultural do Brasil.
Primeira Edição Confissões de viajante
Publicado em 2018, após seu primeiro ano de estrada, o livro reúne uma série de dicas preciosas de como viajar sem grana, e traz as experiências de uma escritora que começou vendendo artesanatos pelas praias do Brasil até desabrochar seu dom, transformando sua arte em livro.
Para além das dicas, o livro contém diversas confissões, de uma mulher rastafari que viaja sozinha para viver seu processo de autoconhecimento sem interferências e projeções de pessoas conhecidas. É um mergulho pelas questões interiores que vem gerando conexões com inúmeras pessoas, que inclusive começaram a viajar depois de ler o livro.
A cada nova tiragem de impressão, a autora aperfeiçoa a edição de um livro independente, produzido pela própria, além de mudar a capa. Segundo ela, “é uma forma de comemorar mais uma tiragem que se esgotou, de coroar uma nova edição e demonstrar que ele vem diferente, mesmo que a história seja a mesma”. O Confissões ainda tem uma continuação: ‘Em Busca de Norte’ disponível em ebook. A ideia é desenvolver uma trilogia de como viajar sem grana pelo Brasil, contemplando todos os estados;
O livro mais rodadão
Ao todo já foram 22 visitados pela escritora viajante, que quer concluir o projeto em 2023, tendo visitado todos os cantos do Brasil e fechando a trilogia da Viajante Sem Grana.
Para comemorar a terceira edição, a escritora viajante vai fazer a roda de conversa ‘Escritos e Viagens’ que rodou o Brasil inteiro, demonstrando uma forma alternativa de viajar e escrever por aí.
Lançamento da 3ª Edição
Participe do lançamento da 3º Edição do livro – “Confissões de uma viajante (sem grana)”. O evento ocorrerá dia 19/01 a partir das 18:00 no Ateliê Cabuloso no Pelourinho e terá participação do jornalista e embaixador do Afro Turismo, Guilherme Soares Dias, o Guia Negro.
E aí indo viajar para a Belgica e precisa de motivos para se apaixonar, então te darei apenas 11, só para começar.
Em primeiro lugar, preciso dizer que nunca pensei em visitar a Bélgica e quando recebi o convite para visitar a Bruxelas. Tinha em mente queria conhecer algo que fosse além do monumento Atumium. Como expert em viagem a primeira coisa e obviamente o que fiz foi: não pesquisar nada sobre o país e sobre o que fazer. Ah gente, sou dessas, gosto da realidade nua e crua!
Bom na minha concepção a Bélgica é linda, maravilhosa, charmosa… Talvez esteja exagerando ou que estou anestesiada por ser a última viagem e mude minha opinião daqui alguns meses/anos. Mas tenho várias amigas e amigos que compartilham da mesma opinião que a minha. Isso não quer dizer que vou me mudar pra lá ou que queira morar, a diferença é que AMEI e isso é o mais importante!
Rebecca, chega de blá, blá, blá e conte pra gente o que realmente te fez AMAR tanto a Bélgica! Sendo assim, segura a emoção que já conto para vocês.
Comer e Beber na Bélgica
Primeiro lugar, Comer e beber tenha como lema nessa viagem e não vai precisar de muito se você for pelas comidas de rua, então bora saborear Batata frita Belga. O país de origem das idolatradas batatas fritas. Aos amantes e não amantes de waffles minha nossa, você vai ficar hipnotizado só com os cheiros, com as vitrines de waffles, eu queria comer toda hora.
A cervejeiras e cervejeiros, aqui é a sua praia, o local onde cerveja é o que não falta. Preciso dizer que não sou uma pessoa regada à bebida álcoolica.Porém, cheguei no dia em que tinha um festival de cervejas na cidade e era quase um convite à degustação das famosas cervejas belgas. Sinceramente são ótimas, acho que o que faz ficar mais gostosa ainda são os copos super refinados para a bebedeira.
Vou deixar aqui o roteiro de cervejas que recebi do Gnomo – #VAICORINTHIANS – um amigo que a esposa pediu para ele fazer um roteiro cervejeiro, e que foi muito bom e vale a pedida. Iniciei meus trabalhos com as cervejas com frutas vermelhas, eram deliciosas. Mas agora já posso dizer que eu bebo cerveja porém preciso dizer que fiquei enjoada, só bebo cervejas Belgas e na Bélgica.
Pratos típicos da Bélgica que vale a pena comer é o Carbonnade Flamande sinceramente delicioso, carne vermelha cozinhado na cerveja, é isso, cerveja até na comida.
E por último e não menos importante, prove os deliciosos chocolates Belgas, impossível não se apaixonar!
Pelas ruas Belgas
Caminhar pelas ruas – foi o que houve de mais surpreendente pra mim, porque a cada caminhar era um encontro com uma arte de rua, o jardim botânico magnífico, igrejas, monumentos, residências, bares, restaurantes, biblioteca, lojas, pessoas e por do sol magnífico.
Contemplar o Pôr do Sol
O pôr do sol na praça da Justiça – Ahhh que incrivel, foi tão lindo, eu fiquei hipnotizada e escolhi como meu ponto secreto, para ficar por horas admirando o nada e pensando na vida. Tive sorte de ter uma roda gigante para poder admirar a cidade e poder contemplar o por do sol e a vista da cidade. Sem palavras.
Pelo céu de Bruxelas
Ao mesmo tempo, contemplar a vista panorâmica da Basílica – não teve preço! Para ser sincera eu fui andando coisa de 3km do hotel até chegar por lá após ler um blog de viagem o que fazer. Assim como relatavam ser gratuito entrar na igreja e que era linda, quando cheguei tinha indicações da visita panoramica e fui bem pomposa ver tudinho de cima, e é lindo, comecei a gritar horrores de tão lindo ver a cidade de 360 graus. Mais um dos motivos que me apaixonei pela Bélgica.
Brugge e Gant
Visitar Brugge e Gant – Ah e quem acha que Bélgica se resume em Bruxelas se enganou, também nem sabia desses paranauê. Preciso dizer que essas cidades tinha um charme e um glamour que falava por si só. Amei tudo e pra ficar melhor fiz o passeio da cidade de Brugge com a melhor guia de viagem Graça da Luz uma guia brasileira, baiana, negra, inteligentíssima contando todos os detalhes da cidade e do país. Super recomendo essa visita com essa joia rara que existe em Bruxelas, aliás teria que ter um tópico só para ela. Uma dica ouro, aos sábados as passagens são metade do preço, ou seja, paguei como 10 euros ida e volta em uma viagem de trem. Ah essa é a outra recomendação vá de trem. Nesses lugares você irá se apaixonar pela Bélgica.
Conheça Matonguê – Bairro africano em Bruxellas
Bairro Matonguê – Vale lembrar que a Bélgica colonizou a República Democrática do Congo, ou seja, cerca de 100 mil pessoas com raízes africanas vivem em Bruxelas, o que é quase 10% da população da capital da Bélgica. A maioria veio das ex-colónias belgas – República Democrática do Congo e Ruanda. Outros, de países do Oeste Africano – como Senegal, os Camarões e Burkina Faso. Todos eles encontram um pedaço de casa em Matonge, que é também o nome de um bairro da capital do Congo, Kinshasa. Esse é o bairro que você se sente imerso na vida e comunidade africana, assim como encontrará ótimos restaurantes africano, pessoas fantasticas, música ao vivo, bares com uma boa conversa que certeza se falará sobre África, roupas, tecidos.
Museu da África Central
Royal Museum of Central Africa – Recém reaberto o museu africano da África Central localizado em Teruven, um museu fantástico e muio bonito. Preciso dizer que foi o primeiro lugar que eu fui em Bruxelas, quer dizer o primeiro lugar oficial, porque vida de viajante tem passeios de rodinhas logo na chegada e eu bonita estava lá pelas ruas principais da cidade já enamorada. Mas vamos falar do museu que tem uma arquitetura magnifica, fica em um jardim explendido e uma exposiçào e obras ao ar livre e dentro que valem muito a pena conhecer, se tiver um tempinho vale a ida.
Por outro lado, não dá para se apaixonar pela Bélgica ao conhecer essa história no período colonial, porém ocupar esses espaços e apreender como africanos tem resignificado lugares e espaços. Por esse e outros motivos devemos ocupar, resistir e IR.
Língua Francesa dominante no país
Falar francês pelas ruas da Belgica – Je ne parle pas francais mas eu me sentia falando as palavras básica Bonjour, Merci, Pardon …, ou seja, aquele glamour do francês que nós sabemos o básico do básico e básico.
Happy Hour na Praça Luxemburgo e se apaixonar pela Bélgica
Ir à Happy Hour na Praça Luxemburgo e ficar bebendo, dançando, assim como, conhecendo pessoas até o dia raiar em plena quinta-feira, faça chuva ou faça sol o point da galera.
Por fim…
Ao mesmo tempo, para não dizer que não falei das flores, deixo aqui os monumentos imperdíveis e cliches que tem que ir! Tenho certeza que você vai ler ou ao dar uma busca em Bruxelas e vai encontrar e a dica de ir ao Atomium, Grand Place que todos os dias estará sempre movimentado e no final de semana uma atração para se deliciar, Catedral,Galeries Royales, Jardin du Mont des Arts, Palácio Real de Bruxelas.
Sendo assim, espero que tenham gostado e que você possa curtir essa dica! Compartilhe, comenta e deixe também a sua dica do que fazer e se apaixonar pela Bélgica.
Fui convidada para uma conversa via Instagram pela Flaviana Alves -para dialogar sobre o tema – Mulher preta viajante e a solidão na estrada. Essa conversa aconteceu em novembro 2019, sendo assim, resolvi organizar meus pensamentos e traduzi-los em palavras escritas, então vamos lá.
O que é Solidão?
Primeiramente, precisamos conseguir entender um pouco mais do significado da palavra SOLIDÃO. Em uma busca rápida pelo Google encontro a definição que considero muito perspicaz:
“A solidão não requer a falta de outras pessoas e geralmente é sentida mesmo em lugares densamente ocupados. Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão.”
Quando falamos de viagem acredito permear pela AUSÊNCIA da identificação de alguém igual a mim. Assim como, da compreensão do outra de mim enquanto mulher e negra e compaixão em compreender o outro, neste caso eu/nós sem invadir, no entanto, o meu/nosso espaço.
Na psicologia podemos encontrar a definição de solidão – superficialmente falando principalmente porque eu não sou psicóloga – como o sentimento de não pertencer ao mundo que nos cerca. Não conseguimos criar vínculos ou nos identificar com os outros. Entre as causas da solidão, estão a dificuldade para se relacionar com outras pessoas, medo de ser julgado e o vazio existencial.
Fazer a escolha de viajar é você quebrar uma barreira do universo que vivemos como uma forma de afrontamento de que o nosso corpo dos quais o sistema capitalista fará questão de trazer à tona a solidão. O que é diferente de um(a) viajante branco/a que viaja em busca da solitude – é o estado de se estar sozinho e afastado das outras pessoas, e geralmente implica numa escolha.
Mulher preta viajante e a solidão na estrada
Trago todos esses conceitos ou parte deles, porque acredito que os conceitos são bem mais profundos do que mencionei acima. Compartilhar a minha história que tenho certeza de que não é só minha, ela é muito parecida com a de muitas outras mulheres negras.
Sou uma viajante desde pequena. Para nós negras e negros volto a repetir, que esse prazer que nos privam, faz parte do sistema do qual vivemos – O capitalismo! É esse tal capitalismo que faz com que a burguesia nos aprisione dentro de nossas casas, comunidades, do nosso gueto. O trecho da música do RAP 2000 é emblemático em retratar o nosso rompimento de barreiras em descobrir o mundo: “Fui pra zona sul pra conhecer água de coco”, o nome disso é emancipação, e sinceramente? Isso incomoda muita gente.
Não acordo todos os dias pensando em incomodar! Saio ao mundo para pertencer, sou parte dele, eu sou o mundo, assim como, posso cruzar as fronteiras, atravessar, permear, dançar. Se sentir solta da zona leste à zona sul, por quaisquer zona e me sentir livre é poder quebrar todos os paradigmas da solidão.
O turismo pode ser uma armadilha para conosco, ou seja, ele vem vestido de traiçoeiro, e posso te explicar o porquê penso isso.
A chegada do turismo nas comunidades/favelas tem aumentado absurdamente, porque é chic estar na comunidade só de passagem. Mas agora morar, quero ver quem quer morar por lá. É bonito de se ver, mas de se viver deixo à vocês pobres e mortais. Quando pertencemos a lugares que nos foram tirado, como zona sul, passeios e viagens glamurosos nos questionam quem somos e de onde viemos. Nos atribuindo todos os estereótipos desse mundo maléfico, está certo isso?
Vista a minha pele
Solidão? Sim! Me sinto solitária quando o direito de viajar me é negado, quando a minha cor vem primeiro, meu gênero em segundo e o meu conhecimento subestimado. Como se sentir acolhida meio à tantos preconceitos e discriminação. Vista a minha pele por algumas horas, por alguns dias, por algumas viagens que tu irás ver o quão doloso é ser uma mulher negra brasileira pelo mundo.
Na estrada deste mundo e obviamente Brasil, me senti e muitas vezes sinto falta de identificação, compreensão ou compaixão, me sinto solitária! Nem sempre viajo sozinha, mas obviamente a maioria das vezes a faço, por ser mais prática de planejar e ter mais autonomia nas escolhas pré e durante a viagem. Quando éramos pequenas/os e viajávamos para a casa de praia do meu tio e tia, ambos negros, em um condomínio fechado no litoral norte. Éramos os negros do condomínio, os farofeiros a tradicional e literal família negra cheia de crianças e todas as idades a literalmente desfrutar do nosso direito, do nosso poder de pertencimento deste espaço.
A excessão deve ser a regra!
Tentavam nos intimidar, mas éramos muitas e muitos, não estávamos sós! Mas lembro perfeitamente a nossa felicidade ao ver e ter outra(s) famílias negras pelo condomínio. Era o assunto por dias entre nós, estávamos nos reconhecendo nunca perdendo o medo e muito menos nos sentindo intimidados por estamos lá. Trazíamos conosco nossa história e nossas raízes, nossos pais sempre traziam a discussão racial e a discussão de classe além das salas de aula, o mundo nos ensinava na prática e nossos pais nos davam a munição para enfrentar a vida.
Não éramos chamados para festinhas do condomínio assim como, não fazíamos parte do hall de amigos da pracinha, principalmente eu e minhas primas negras, eles/elas não queriam nossas/os amizades. Nem preciso dizer o porquê, aliás vou dizer: porque somos negras, sim sofríamos racismo, era nós por nós. Nosso quarto, a sala, a varanda era nosso espaço para nossas brincadeiras os olhares matavam mais do que bala de revolver.
Viajar e não encontrar outro viajante igual a mim tem muito significado, porque é encontrar-se literalmente só, é não poder compartilhar felicidades e angústias, é saber que aquela sua piada não fará sentido algum ao não negro. Desde ter a imensa felicidade em poder tomar um banho em uma banheira, desde a primeira vez que tomei um vinho ou na primeira vez que andei de helicóptero enquanto já era a segunda/terceira vez das pessoas que estavam comigo e eu ser a única negra do grupo. Com quem eu vou conversar? Quem veio da mesma realidade que eu? Quem compreende os mesmos sentimetos que o meu?
Afeto e reconhecimento entre os nossos
Vos escrevo como uma expatriada, ou seja, uma pessoa de uma nacionalidade vivendo em outro país. Este é o meu terceiro ano vivendo fora do Brasil, e infelizmente o meu conhecimento e minhas habilidades são sempre questionados por outros expatriados, assim como dificilmente consigo ter uma relação de amizade profunda, o nome disso é Solidão!
Desde sempre imperceptivelmente viajo para lugares afro centrado, onde há negros, mas isso não quer dizer que os negros estão viajando, mas são lugares onde a população negra está/vive. Como foi o caso de Salvador, Maranhão, Piaui, Rio de Janeiro, Pernambuco, Trinidad e Tobago onde morei por quase 6 meses, Moçambqiue, África do Sul, Swazilandia/Eswatini, Zimbabwe, Zambia, Botswana, Peru, Cuba, Panamá, Bolívia… onde tive literalmente o abraço da comunidade. Não foram os viajantes que me acolheram porque na sua maioria os negros não estavam nessa posição de viajante, foram e são os locais os que fazem e abrilhantam o turismo, assim fui abraçada/acolhida. O reconhecimento em verem uma mulher negra viajando é fazer com que elas/eles sintam-se representados pela ocupação deste espaço. Recebo tanto afeto, carinho, presentes físicos que só tenho a agradecer.
Não mexe comigo, que eu não ando só…
Mediante a discussão mulher preta viajante e a solidão na estrada, preciso dizer que por todos os lugares do mundo me oferecem orações nunca nego. Acredito que é por esse motivo que estou em pé, que tenho chegado com os meus pés e corpo por todos os lugares do mundo.
Finalizo aqui esse texto com um trecho para poder ilustrar melhor o nosso diálogo – Não mexe comigo – na voz de Maria Bethânia.
“Eu tenho zumbi, besouro o chefe dos tupis Sou tupinambá, tenho erês, caboclo boiadeiro Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris Zarabatanas, curarês, flechas e altares. A velocidade da luz no escuro da mata escura O breu o silêncio a espera. Eu tenho jesus, Maria e josé, todos os pajés em minha companhia O menino deus brinca e dorme nos meus sonhos O poeta me contou
Não mexe comigo que eu não ando só Eu não ando só, que eu não ando só Não mexe não”
Música: Não Mexe comigo – cartas de Amor
Artista: Maria Bethania e Compositores: Paulo Cesar Pinheiro
Por fim, te convido a ler o livro – Cartas de Uma viajante Negra ao redor do mundo e imergir nessa e mais reflexões da autora Rebecca ALetheia.
Assim como, deixa seu comentário sobre este tema – Mulher preta viajante e a solidão na estrada, vamos amar poder ler seu comentário por aqui.
Primeiramente gostaria de dizer que essa não foi a minha primeira viagem sozinha por países africanos, mas quero contar a minha terceira experiência de um mochilão viajando 6 países da África – Moçambique, Reino de Eswatini/Suazilândia, África do Sul, Zimbábue, Botsuana e Zâmbia em 15 dias.
Medo
Wow, só de ver já da pra saber o quão aventureira foi esta viagem! Preciso confessar que estava com medo pelo que muita gente fala e falava sobre o quão perigoso é viajar pela África e sozinha.
Atualmente moro em Moçambique(2019), e me recusava pedir opião pois sabia que comentar detalhes da viagem teria retalhações de que seria uma loucura. Principalmente quando comentasse que faria o uso de transportes coletivos, caronas e uso de couchingsurfing, essas coisas…
A rota
A princípio precisava organizar a minha rota, e foi basicamente:
Maputo – Moçambique onde ia curtir o festival de música Azgo no final de semana
Reino de Eswatini para o festival de música Bushfire onde seria o outro final de semana de festival e aproveitar e curtir o país
Johanesburgo – África do Sul para pegar o avião até Victória Falls (Zimbabue)
Victória Falls – Zimbâbue e Zambia
Chope – ( Botsuana )
Victória Falls – Harare – (Zimbabue)
Harare – Mutare (Zimbabue)
Mutare – Chimoio (Zimbabue – Moçambique)
Chimoio – Beira ( Moçambique)
Bom, quando decidi que estaria viajando sozinha pela África, engoli o medo e planejei a viagem! Sendo assim, comprei as passagens antes, quer dizer a passagem de avião de Johanesburgo até Victoria’s Fall e na certeza que encontraria uma carona e conseguiria algum ônibus. Os vôos de volta para onde resido – cidade da Beira – Moçambique, eram absurdos de caro e me restava voltar por terra, o que me aguçava a curiosidade em fazer essa viagem. Atravessar o Zimbabue inteiro por terra, assim como fiz pela Suazilândia?Reino de Eswatini.
Acolhida, protegida e regida com a sabedoria ancestral
Sempre fui muito bem acolhida e cuidada em todas às vezes que estive perdida ou buscando algo. Isso foi para todos os países! O único problema que tive no era que para algumas anegociações pedia para pessoas locais participar da conversa junto comigo para me auxiliar nadecisão de valores. Mas sempre que estava dentro do ônibus, táxi ou no restaurante sem essa pessoa que me auxiliavam aleatoriamente, eles mudavam o valor da moeda local que tinha sido negociado anteriormente.
Não aconteceu muitas vezes, mas aconteceu e me sentia vulnerável em continuar negociação ou insistir na discussão. Indo da fronteira do Zimbabue para Moçambique estava no táxi com dois homens que mudaram drasticamente o valor. E aí você continua discutindo ou esperar o pior acontecer? Paga e vai, era minha vida em jogo, acho que eles não fariam nada comigo, mas é melhor prevenir do que remediar.
Por diversas vezes, os moradores locais de todos os países do qual passava algumas pessoas me colocavam dentro do ônibus, esperava comigo o ônibus sair, me esperava pagar o valor que deveria ser pago, quando o ônibus saia a pessoa descia do ônibus, pois tinha a certeza que entrei, paguei o valor correto e estava sentadinha em um lugar seguro e confortável. Tudo isso sem cobrar NADA em troca e nem me sentir assediada, homens e mulheres fizeram essa gentileza comigo.
Mulherismo Africano
Outra história boa foi quando cheguei na rodoviária de Victoria’s fall para pegar o ônibus pra Harare, o rapaz disse que o ônibus estava cheio e que não tinha mais vaga. Implorei tanto que ele disse, entra e senta! Obedeci sem me hesitar, no primeiro lugar que sentei chegou a dona, me mudei, no segundo lugar que escolhi a dona chegou também. Uma senhora disse: sente ali, se alguém chegar eu resolvo! Hahahaha me diz se não foi uma graça? Lá fiquei, 13h sentada na janelinha.
Caronas pela África
Tenho que lembrar a outra história de quando fui pra Pretoria, já tinha na mente que quando saísse do festival precisava de uma carona, viajei já na maldade como diriam. A maioria das pessoas iriam embora na segunda-feira, o meu vôo era na segunda-feira de manhã para a Victoria’s Fall o que complicaria minha chegada até África do Sul.
Conheci um grupo de Sul africanos muito amáveis que estavam de carro e trabalhando no evento, iam na segunda-feira de manhã. Mas queríamos curtir o último show, os últimos minutos no Festival do Bush Fire, assim como eu!
Após expor minha situação, eles não hesitaram e era 20h estávamos nós com o pé na estrada correndo para cruzar a fronteira antes de fechar a imigração, viajamos a noite toda tudo para que eu não perdesse o vôo. E mais uma vez, sem assédio sem nada em troca, foi bem legal esse apoio mútuo.
Em todos os momentos e todos as passagens sempre houve muito cuidado para comigo. Em nenhuma hora me senti ameaçada ou insegura, muito pelo contrário, sempre protegida. Assim como na Swazilandia após andar 45 minutos na estrada um Rastaman parou o carro e me deu carona de 10 minuto na maior camaradagem, conversamos, ficamos mudos e rimos muito.
Solidariedade Africana à uma mulher viajando sozinha pela África
No Zimbábue, não tinha 1 dólar na carteira, pois tinha perdido/esquecido minha bolsa no aeroporto de Johanesburgo – o problema de ficar 72h curtindo um festival sem dormir. Tinha de emergência apenas um cartão de crédito que não funcionava muito bem no país por conta dos problemas econômicos, ou seja, não me servia de nada. Para piorar o Hostel que iria ficar não aceitava o cartão e não conseguia sacar, ou seja, estava com um grande problema e comecei a andar pela cidade de Harare com todas as minhas malas(uma mochila) a procurar um hotel ou Hostel barato que aceitassem cartão.
Andando sem conseguir pensar o que fazer e como fazer, eis que um rapaz me para e pergunta se estava tudo bem. Explico a história para ele, comenta que já tinha me visto andar desde o centro de cidade até esse bairro e estava preocupado por ver alguém está andando tanto com a mochila e saco de dormir.
Ele me ofereceu ajuda, disse que me levaria a um hotel de confiança que com certeza meu cartão passaria e que eu não deveria ficar a vagar pela cidade de malas. Ele é um médico, não me lembro a especialidade, me apresentou o pai, a filha e o filho; era o horário das rotinas familiares, acompanhei e ele me deixou no hotel recomendado, foi caríssimo, porém entendo o cuidado que ele teve para comigo.
Agradecer sempre pela proteção e cuidado recebido – Obrigada Mãe África
Muitas pessoas me perguntam se não tenho medo e como faço para saber em quem confiar, sinceramente ainda não sei, mas sei que os meus passos tem sido guiado por onde ando.
Foram tantos cuidados, tanta proteção que alguns dizem que tenho sorte, diga o que você quiser, mas te digo que é muita prece, orações, devoções e pessoas que querem o meu bem, assim como eu também às quero bem. Sempre existirá alguém intercedendo e rogando por mim, gratidão por pedir proteção e condução divina aos meus passos.
Obrigada mãe África por me abraçar nesses dias que tive viajando sozinha. Enquanto todos diziam não vá, você me conduziu e esteve a cuidar de mim! Sou grata as divindades e ao solo africano por fazer com que o medo fosse traduzido em sabedoria, determinação, mandingas e perspicácia.
Pela primeira na minha vida eu – Joelma Maciel, senti o que é sofrer um racismo, e aconteceu na Croácia. País que amo, na cidade de Rijeka, uma cidade encantadora de praias belíssimas. Vale lembrar que continuo gostando do país! Assim como, encontrei muitas pessoas boas e incríveis por lá, por isso esse fato não serve de julgamento para generalizar o lugar.
Já tinha sofrido xenofobia no Brasil, ao sair da Paraíba e ir morar em São Paulo. Muitas brincadeirinhas com o meu sotaque, na universidade e no trabalho. Ser motivo de piada por ter um sotaque, foi uma sensação bem desconfortável e quando isso aconteceu há 15 anos atrás, não soube lidar, minha postura foi apenas me isolar.
O ato de racismo sofrido na Croácia:
Aconteceu em uma loja de roupa e artigo de artesanato localizada em um shopping no centro da cidade. Estava vestida com roupa de praia, percebi que a loja era um pouco luxuosa mas, não tenho problema em entrar em nenhum lugar, mesmo que não esteja vestida “adequadamente”.
Na loja tinha apenas duas pessoas, um homem e uma mulher, que acredito que era o dono ou gerente e uma funcionária, no momento que comecei a olhar as peças de roupa o homem falou alguma coisa para mulher em Croata.
Então, ela então começou a me seguir, cada passo que eu dava, ela caminhava junto, quando pegava em alguma coisa, ela depois checava se eu coloca de volta no lugar.
Peguei algumas roupas para provar ao sair do provador a funcionária estava lá na porta me esperando. Perguntou se gostei das roupas, falei que sim e que iria levar uma, nesse momento os dois se olharam e aguardaram eu efetuar o pagamento.
O desconforto…
Fiquei tão desconfortável com a situação que na hora do pagamento peguei o cartão errado e deu erro na compra. O homem começou a falar algo em Croata para ela bem irritado. Pedi desculpas, e efetuei o pagamento com o outro cartão e fui embora.
Sentimentos e pensamentos após ser vitima de racismo
No caminho minha cabeça esta explodindo de pensamentos:
Será que eles agiram assim porque eu não estava bem vestida?
Porque eu sou imigrante?
Porque eu sou negra?
Sentir vontade de chorar! Lembrei que antes de viajar para Croácia uma amiga Croata, falou que isso poderia acontecer, que infelizmente as cidades pequenas que não recebem muitos turistas são racistas.
Não podemos nos calar
Não conseguia parar de pensar na cena, nessa noite não conseguir dormir, precisava fazer alguma coisa, busquei na internet algum contato ou email da loja mas, sem sucesso. Porém, encontrei o perfil do shopping e enviei uma mensagem relatando o ocorrido. Eles me responderam pedindo desculpas, que a administração do shopping desaprova este tipo conduta, que a loja seria notificada e que aproveitasse a minha viagem.
Depois disso, sentir que fiz a minha parte, ou seja, que não poderia ficar calada e simplesmente aceitar.
Hoje percebo que muita coisa mudou dentro de mim, que qualquer sinal de preconceito meus olhos conseguem captar e não importa onde esteja, não vou me calar.
Por esse e outros motivos é necessário ter um Coletivo de mulheres negras viajantes, pois nosso choro, nossas frustrações e pensamentos devem e precisam ecoado e ouvidos. Obrigada Joelma por contar esse relato de dor, sinta-se abraçada e acolhida, pois Racistas não passarão! Faça como Joelma envie seu texto para nós e não se cale!
Me chamo Joelma, também conhecida como Viajante Imigrante, nordestina, negra e atualmente estou na Europa viajando sozinha e conhecendo lugares incríveis. Até o momento estive em 07 Países, fiquei hospedada como voluntária, recebendo alimentação e hospedagem em troca de algumas horas de trabalho, partilho em meu blog – A Imigrante – minhas vivências positivas e negativas com o intuito de incentivar e/ou alertar o leitor mas, o meu maior propósito é mostrar que somos capazes de chegar em qualquer lugar, enfrentando o preconceito e desafios.
Vamos fazer um passeio pela música colombiana? Este texto produzido por Valéria Lourenço.
A salsa nasceu oficialmente nos Estados Unidos da América. Oi? Você sabia dessa informação? Eu não! Confesso. Mas Juan, meu guia pelas ruas de Bogotá, me contou um pouco dessa história: migrantes de vários países latinos estavam nos Estados Unidos, Nova Iorque mais precisamente, “tentando” a vida (é no mínimo instigante o uso desse verbo para se referir a esse deslocamento que muitos fazem ao saírem de seus lugares de origem para trabalhar) e ali nasce esse ritmo que, em espanhol, significa tempero ou molho.
A capital da Salsa
Bem, dito isto, o que eu sabia até então sobre a música colombiana, é que Cali era a capital mundial da salsa. Eles conseguiram esse título e parecem, com razão, fazer questão de defendê-lo com todo carinho. Assim, em TODOS, sem exceção, TODOS os lugares de Cali, é possível ouvir salsa. Seja em uma lanchonete de esquina, em um espetinho na praça, nos táxis, nas festas de família, a cidade respira salsa. Para além disso, há várias escolas de salsa na região e, também, muitos hotéis que já incluem entre suas atividades o ensino do ritmo para seus hóspedes. Ou seja, há um turismo forte pautado no que a cidade tem de mais potente: a salsa.
Feria de Cali
Em Cali, anualmente acontece a “Feria de Cali”, de 25 a 30 de dezembro, e a cidade para, ou melhor, baila, todos os dias e em diferentes horários, e tem até um salsódromo em que os bailarinos das escolas de salsa se apresentam. Cali parece não dormir. Você pode rumbar (dançar, festejar) de segunda a segunda, sem intervalo já que os caleños dançam muito e todos os dias.
Entre as centenas de clubes de dança, a gente pode se deliciar no La Topa Tolondra e se imaginar em um filme dos anos 1920 com a decoração do Malamaña. Além destes bares, há a Calle 66 e as ruas ao redor do Parque Alameda, espaços que reúnem dezenas de discotecas de salsa para todos os gostos. Devido à mistura de influências musicais que criou o ritmo, incluindo os toques de tambores, para nossos ouvidos, a salsa soa a todo momento como um som familiar que parece já conhecíamos desde sempre.
Importante destacar que a salsa é dançada com uma sincronia quase perfeita dos pés do casal de dançarinos. Eles têm tanta agilidade que faz com que não consigamos desgrudar os olhos daquelas pernas e pés que se mexem freneticamente.
Mas e a Shakira?
Talvez essa seja aquela impressão estereotipada e superficial que temos de um determinado país: a tal história única a que Chimamanda Adichie se refere. A Colômbia tem diversos ritmos musicais, entre eles, a cumbia, o vallenato, o reggaeton, a bachata, o RAP e o currulao, para citarmos somente alguns. Também poderíamos fazer uma lista imensa de cantores e conjuntos de salsa que fazem a festa nos sons espalhados por toda Colômbia. Joe Arroyo, Jairo Varela, Orquestra Calibre, Orquestra Guaycán, são alguns desses artistas.
Então, sinto muito em decepcioná-lo (a) caro (a) amigo (a), mas durante tantos dias em que estive na Colômbia, só ouvi uma música da Shakira e uma única vez. Lembro-me exatamente o dia e a hora. Estava em Santa Marta conversando com um grupo de jovens de Medellín e, depois de descobrirem que eu era brasileira, decidiram colocar alguma música para dançarmos todos juntos. Naquele momento, iniciou-se uma disputa entre ouvir J. Balvin ou Calle 13 (aquele grupo de Porto Rico que tem uma música bonita chamada “Latinoamérica”. Se você não conhece, dá um Google rapidim). Mas, não sei como a Shakira se meteu ali no meio, e também não me lembro qual foi a música tocada.
Tarde da noite, a caminho do hotel, me lembrei daquela menina tímida que tentava pronunciar as palavras que o professor de espanhol nos ensinava durante as aulas do Ensino Médio no Colégio Estadual Círculo Operário, lá em Xerém. Aprendíamos com músicas diversas. Mas me lembro bem de Shakira: “Perteniceste a uma raza antigua de pies descalços y de sueños blancos. Fuiste polvo, polvo eres que el hierro siempre al calor es blando”. Quase 30 anos depois, percebi que não me esqueci de algumas palavras daquela época e que o rebolado… Ah! Seria capaz de fazer Shakira morrer de inveja.
Por fim…
Faça como a Valéria Lourenço, envie o seu texto para nós através do nosso e-mail: bitongatravel@gmail.com
Escrito por Giselle Cristina vem-se a pergunta: A quem é concedido o direito a conhecer o mundo?
Viajante inveterada, a preta é muito bem humorada, bem disposta e acima de tudo generosa. Não demorou muito e as peripécias de viagem dela viraram meu melhor entretenimento no final do dia, não tinha novela das 9h que batia.
Não era só ver por onde ela passou, era sentir o que ela sentia, era saborear cada comida de rua, gargalhar com as dancinhas nos monumentos e até se aperrear com os perrengues que ela passava e ainda compartilhava com a gente, afinal a vida da mulher negra viajante, NÃO É FÁCIL rs.
Rodar com ela por esse mundo sempre curiosa pra saber o próximo destino foi a minha grande diversão em 2021, mas ainda assim a mente e o coração já estavam conformados que só assistir já estava bom.
Vem comigo, no caminho eu explico
No meio do segundo semestre de 2021 Rebecca Aletheia “lançou a braba”, quem quer viajar comigo põe o dedo aqui que já vai fechar o abacaxi. Mas Rebe, vamos pra onde? E essa era a grande sacada, literalmente Rebecca Aletheia estava propondo um VEM COMIGO, NO CAMINHO EU EXPLICO. E qual foi a minha surpresa quando disse sim sem nem pensar, sem fazer contas, sem escolher destino, sem controlar a minha própria vida.
Quando me dei conta estava fazendo várias coisas pela primeira vez, trabalhando insanamente em um emprego na minha área, me programando pra viajar “sozinha” me arriscando a conhecer pessoas absolutamente novas e ainda não.controlando nada (sou leonina com ascendente em touro, controlo tudo o tempo todo).
Estava apreensiva, mas em nenhum momento senti medo. Eu fui acolhida e muito bem amparada, principalmente depois do choque de saber que a viagem era internacional e eu não tinha nem passaporte. Fui conduzida e até ciceroneada pelas burocracias que cercam um evento desses e acima de tudo fui inspirada por todas as mulheres que toparam essa jornada gloriosa e cheia de perrengues.
6 mulheres negras viajando juntas
Nós viajamos ao todo em 6 mulheres, e eu era a única virgem de trip, mas as trocas entre a gente foram tão genuínas e intensas que parecia que aquilo era comum pra mim também.
Cada uma de nós era muito boa em alguma coisa e isso facilitou a nossa longa estadia de 20 dias perambulando para lá e para cá, tinha dia que uma tava rica e outra tava pobre (problemas de câmbio) mas nenhuma de nós passou vontade de nada, as finanças eram do grupo e todas nós nós responsabilizamos por todas as contas conjuntas. E tudo isso ainda com uma liberdade nunca experimentada antes.
Por mais que fosse uma viagem em grupo, não foi uma viagem engessada, cada uma fez o seu roteiro e assim teve gente que chegou antes, que chegou no meio que ficou mais em determinada cidade e menos em outra. Mas mesmo assim nós.estavamos juntas tomando conta uma da outra.
Voltando ao Brasil da Colômbia por terra
Acompanhar o ritmo da blogueira de viagem não é fácil e voltamos da Colômbia por terra, passando dois dias dentro de um barco até Manaus, uma das experiências mais incríveis da minha vida.
Resumindo conhecemos 6 cidades na Colômbia e duas no norte do Brasil, Rebecca ainda emendou Rondônia e Acre, mas a estreante aqui já estava sem forças e só pensava na própria cama.
De toda essa experiência eu só tenho duas certezas, mulheres pretas podem fazer qualquer coisa nesse mundo todo e que eu vou usar esse mundo todo pra fazer todas as coisas.
Escute e imagine a quem é o direito de conhecer o mundo:
Giselle Christina
Consultora em diversidade e inclusão (D&I corporativa) é Mestranda em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades pela Universidade de São Paulo – USP e Bacharel em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP.
Entusiasta em Data Science, Fundamentos de Estatística e Processos de Decisão, possuí vasta experiência na execução de pesquisas qualitativas, quantitativas, mercadológicas e desenvolvimento de projetos de inteligência de mercado e consumer insights.
Destacam-se os projetos realizados para clientes como Afrobras, Faculdade Zumbi dos Palmares, Feira Preta, EmpregueAfro (censo da diversidade Médicos Sem Fronteiras), Campari (censo da diversidade) no desenvolvimento de análise de dados, produção de relatórios, pesquisas e planejamento estratégico.
E aí, a quem é concedido o direito de conhecer o mundo? Assim como a Giselle, envie o seu texto para nós e tenha o seu texto divulgado por aqui: faleconosco@www.site-antigo.bitongatravel.com.br ! Será um prazer ter o seu texto aqui conosco.
Antes de compartilhar esse relato de viagem pelo Rio Amazonas, cruzando a fronteira Colômbia – Brasil e percorrendo o maior rio do mundo de Tabatinga até Manaus. Primeiramente, vou me apresentar, me chamo Luciene Silva, formada em Geografia, professora ensino fundamental e EJA em São Paulo.
A Amazônia
Eu nunca havia chorado por estar em um lugar, mas a Amazônia é o sítio mais vivo. Que eu já estive. É a vida sobre as águas, é o caminho das águas, são encontros que se dão a partir das margens. As casas nas margens são o aspecto central da perspectiva de quem está no barco, no meio do Rio Solimões, estar a margem aqui é estar bem localizado. Tem barco grande, tem barco pequeno, tem lancha tem canoa, tem com motor e tem movido a remo. Tem com ar condicionado, tem ar úmido do vento. Tem barco de dezenas e tem barco de um só. Serão 32 horas nas águas. Tem muita água pra rodar… A cada parada nos portos nas cidades ribeirinhas, São famílias que se encontram com mulheres crianças seguras pelas mãos, são despedidas de olhares de quem diz “Vá com Deus”, Vá com Deus não, minha avó diria que é mal agouro o certo é olhar de “Deus te acompanhe”.
Tabatinga – Manaus
Descer de Tabatinga até Manaus de barco, não é trajeto, é uma experiência que realmente inunda a nossa alma e nos faz perceber que a vida sobre as águas é muito mais movimentada e fluida do que trafegar sobre o concreto.
Sobre a funcionalidade da lancha
Para chegar precisamos antes encontrar um Tuk Tuk (triciclo que só pode rodar na Colômbia mas pode cruzar a fronteira do Brasil com passageiros) tínhamos marcado horário com um motorista mas ele não compareceu e ficamos e mercê de encontrar um encima da hora. Assim que encontramos fomos ao porto hidroviário, no mesmo local em que havíamos reservado as passagens na lancha rápida Madame Crys (gostei do nome).
O Valor de 880 reais para uma viagem de 32 horas, a passagem é cobrada por trecho percorrido. Chegamos, formamos uma fila com as bagagens, porém, na hora em que liberou a partida foi cada um por si e bom pra quem corre mais. Entre as bagagens se avistava uma TV 60 polegadas e uma gaiola de ramisters , no cartão do que não transportam animais, mas acho que os ramiters eram quase da família…
Tem ar condicionado, como eu não gosto, foi a sala de refeição e lá permaneci pois é ao ar livre e sem ar condicionado. Café da manhã com variedades, almoço muito bom, TV por satélite com filmes que eu nunca assistia por inteiro porque a paisagem sempre me desperta a atenção para a sua beleza.
Ao anoitecer…
Fiquei num lugar muito barulhento, no motor da lancha, acho que vou ficar com zunido o dia todo, tudo isso pra não enfrentar o ar condicionado… Aqui no fundo, ao anoitecer, as pessoas começaram a se ajeitar pra deitar, quem não conseguiu banco forrou o chão com toalha ou coberta e se ajeitou.
A moça sozinha se agasalhou, o moço desconhecido ofereceu seu próprio colo para o descanso dos pés da moça, ao perceber o frio ainda jogou uma toalhinha. A mãe e o pai que não conseguiram poltrona para a filha, cederam seus lugares para que a menina deitasse e velaram o seu sono. A outra mãe se deitou embaixo do banco com o filho.
O sonho coletivo
Ahh eu também me deitei, não iria ficar fora desse sonho coletivo. Dividi o a beira do banco com outra ribeirinha, fizemos uma espécie de símbolo do Ying Yang para aconchegar nossos corpos no banco estreito… 32 horas sob as águas do Solimões de muita água rolando, de muita vida fluindo de muita beleza pelas margens.
As pessoas
A moda das mulheres ribeirinhas transborda feminilidade: aqui tem muito brilho nas roupas e nos acessórios, muito rosa do bebê ao pink, tem pele exposta, shorts curtos, as unhas, as unhas sempre bem feitas e com arte, as mulheres são imensamente perfumadas. As mulheres aqui, em geral, não são magras como as modelos de passarela dos anos 90, nem são as aclamadas mulheres de cintura fina e quadril grande da população. Elas aqui tem ombros largos e cintura troncuda, como esperar cintura fina e estreiteza de quem gera uma humanidade no ventre e carrega um mundo nas costas?
Os homens são atentos aos cortes de cabelo impecáveis, pulseiras e colares são sempre vistos, que gente cheirosa! A tripulação da lancha é constituída apenas por homens, parece que a manutenção da estética é muito rigorosa.
Por hoje é só, deixo aqui esse relato de viagem pelo Rio Amazonas de Tabatinga a Manaus percorrendo o maior rio do Mundo. 08/01/2022, por Luciene Silva
Bem vidas, me chamo Rebecca Aletheia e gostaria de trazer alguns relatos da importância de ter anticoncepcional na mala de viagem, evitando assim perrengues e desconforto à mulheres viajantes.
Sou uma viajante solo na maioria das vezes. Sim, nós mulheres temos prazeres, conhecemos pessoas incríveis, outras nem tanto e rola aquele sexo. Mas infelizmente nem tudo são flores e a camisinha pode estourar ou as vezes ela nem aparecer neste momento.
Gostaria de compartilhar histórias e relatos de mulheres sobre os perrengues e vexames desnecessários de viajantes que encontrei na estrada.
Como pedir pílula do dia seguinte em francês?
Era Paris, a viagem dos sonhos assim como o homem perfeito para a ocasião de amar e ser amada. Mas infelizmente a camisinha estourou… No dia seguinte, cada um por si, este problema só cabia a mulher resolver. Ele não falou nada, muito menos perguntou ou ofereceu apoio.
Procurou no google como se fala e escreve pílula do dia seguinte em francês, deu print de tela e foi à farmácia. Esperou ser chamada pela balconista mulher, mas quem à chamou foi um homem, tentou disfarçar que não queria ser atendida, e ele insistia.
Logo que a balconista mulher ficou livre ela correu para ser atendida por uma mulher querendo ser acolhida e entendida. Mostrou o print de tela de que queria uma pílula do dia seguinte e adivinha? A balconista gritou para a farmácia toda o pedido. Sem saber onde enfiar a cara, comprou a pílula e sumiu, na certeza que ninguém, mas com a certeza que foi exposta a um vexame.
Pílula Vencida
A milhas e milhas distante do seu país e das mil estórias que pode acontecer com uma viajante, a camisinha ficou dentro. Mais uma vez o problema parece não ser do homem, esse problema é apenas da mulher.
Sendo quase 72h para encontrar a pílula do dia seguinte, era 68h após o ato e ela só queria uma pílula. Conseguiu uma farmácia, já sabia falar o nome na língua local, eis que quando entrou no carro pronta para tomar a pílula se atentou que estava vencida. Sendo assim, voltou correndo para a farmácia e a resposta do balconista foi: – Desculpe só temos vencida, não vendemos muito esse medicamento por aqui. Em um mix de medo e incertezas, tomou a pílula e pediu muita proteção ao corpo e ao útero para não engravidar.
Neste país não se vende pílula
O subtítulo já diz tudo e essa foi a resposta ouvida no balcão da farmácia! O desespero, o choro de uma mulher por 30 dias sem saber o que esperar daqueles próximos meses. Na proteção de Obá, nada lhe aconteceu!
Kit PREEP na mala com Medo de violência pela estrada
Em contrapartida, em uma das minhas viagens, tive muito medo de violência sexual e uma amiga me ofereceu um kit de emergência, chamado PrEP caso alguma coisa acontecesse. O kit PrEP de profilaxia pós exposição sexual que alguns países possuem gratuitamente após qualquer exposição sexual consentida ou não. Que ponto chegamos, estava realmente com muito medo, você tem noção disso?
No momento em que poderia levar, roupas, maquiagem, biquini você dá espaço para frascos de medicamentos prevendo e supondo uma possível violência que pode te acontecer na estrada. E graças a Deus, nada me aconteceu, infelizmente alguns medicamentos estragaram, era muito tempo tomando sol e sem o correto armazenamento.
Por algumas fronteiras fui questionada e julgada pela medicação que levava na mala se eu estava doente, porque usava tudo aquilo de remédios.
Anticoncepcional na mala de viagem da viajante
São por essas e várias outras histórias e algumas delas trágicas por abuso sexual que digo à mulheres viajantes a importância de levar pílula do dia seguinte na mala de viagem. Porém, também ciente de que não é só da gravidez que temos que ter medo, são várias outras doenças sexualmente que estamos em risco.
Assim como, trago também a reflexão de que encontramos poucos homens parceiros à ponto de se responsabilizar e saber que o corre pela busca da pílula do dia seguinte também é dele. A responsabilidade afetiva tem faltado muito, na hora de dividir o valor, pagar pela pílula, perguntar como ela se sente, está com a mulher após o ato é necessário.
Esses e outros perrengues, violências e sufocos não nos compete!
Por fim, de todas as culpas que já temos essa não é nossa, e com o objetivo de minimizar mais um stress neste momento exaustivo, uma sugestão é: leve anticoncepcional na mala de viagem.