E todos são Pretos - Justiça por Moïse Kabamgabe - Por Valéria Lourenço

E são todos pretos!

e são todos pretos
eles
a noite
meus irmãos
filhos
Tios
Pai
Eu

e são todos pretos
os que vieram
de uma terra escura
construir um país
e o mar vermelho ficou

e são todas pretas
minhas lembranças do passado

e são pretos meus projetos de futuro
pretas as mãos de minha mãe
de minha vó

e preto o corpo da criança
de ontem
Preta a mulher arrastada no asfalto
preto o homem espancado hoje

preto um país
branco de vergonha
amarelo de covardia
preta a letra no jornal que
escreve o linchamento

minha mão
tão preta e
amarrada
minha boca
tão preta e
amordaçada

Minhas pernas igualmente pretas
tremem de medo

E meu coração agora preto de ódio

Leia também:

CRÔNICA – “AONDE MEUS PÉS ME LEVAREM”

Valéria Lourenço

Valéria Lourenço

Escritora poeta e professora de língua portuguesa e literaturas no IFCE – Campus Crateús.