Em primeiro lugar antes de começarmos a falar das 3 enfermeiras negras abolicionistas que fizeram história nos EUA, gostaria de trazer a reflexão sobre essa profissão.
A enfermagem é a arte do cuidar e não seria diferente o cuidar quando o assunto é combater desigualdades e nesse caso a escravidão. Afinal de contas, ser livre, ter direitos, não sofrer racismo é gozar de saúde, não é mesmo?
Mas, frente a tanto racismo e apagamento histórico que a história colonial é capaz de nos omitir. Sendo assim, compartilho 3 enfermeiras negras abolicionistas que fizeram história nos EUA.
Harriet Tubman
Além de nascida sem sua liberdade, Tubman foi escravizada assim como, espancada e açoitada por seus vários senhores durante a infância. Ainda jovem, ela sofreu uma lesão craniana traumática quando um senhor de escravo jogou um pesado peso de metal num escravo fugitivo, mas acabou acertando-a. Diante de tanta injustiça, não deixou de lutar pela abolição, de pessoas escravizadas entre elas familiares e parentes.
Durante a Guerra Civil, ela se ofereceu como cozinheira e enfermeira para o Exército da União, e logo depois como batedora armada e espiã. Há registros em 1865, Harriet cuidou de pacientes negros feridos no Hospital Fortress Monroe, Virgínia. Ela fervia raízes e ervas e fazia uma tintura para ajudar os pacientes a se recuperarem de disenteria e outras doenças.
Foi a primeira mulher a liderar uma expedição armada na guerra, guiando o ataque no rio Combahee, que liberou mais de 700 escravos. Depois de sua morte em 1913, tornou-se um ícone de coragem e liberdade e atualmente.
Sojourner Truth ou Isabela Baumfree
Isabella Baumfree, nascida como escrava renomeada como Soujourner Truth. O que não pouco conhecido sobre Truth é que ela foi uma pioneira na prática e educação de enfermagem.
Truth primeiro serviu como enfermeira enquanto era escrava da família de John Dumont em West Park, Nova York. Ela escapou para a liberdade antes do Ato de Emancipação de 1827 e inicialmente se estabeleceu em Michigan durante a Guerra Civil, onde coletou alimentos e roupas para os regimentos Negros.
Em 1863, Truth mudou-se para Washington, D.C., onde trabalhou nos hospitais da Union, cuidando de pacientes doentes e feridos, ensinando habilidades domésticas e se dedicando ao trabalho de ajuda humanitária para pessoas libertadas.
Como uma mulher livre, Truth defendeu programas formais de educação em enfermagem junto ao Congresso, embora ela própria nunca tivesse tido essa oportunidade. A insistência de Sojourner Truth em padrões mais elevados de cuidado e limpeza teve um impacto duradouro no campo da enfermagem.
Susie King Taylor
Assim como as demais Taylor também foi à guerra, porém, se destaca em ser primeira mulher a primeira enfermeira negra do exército na Guerra Civil. Foi libertada da escravidão em 1861, colocou suas habilidades em uso para o Exército da União.
A enfermeira Taylor cuidou de soldados feridos, chegando a se infiltrar nas tendas de soldados que foram colocados em quarentena com varíola para ajudá-los a se recuperarem. Ela finalmente começou uma escola para crianças e soldados negros e serviu por mais de três anos viajando com as 33ª Tropas de Cor dos EUA. Seu ativismo certamente preparou o terreno para que as enfermeiras sindicais fossem compensadas com salários justos.
Racismo, gênero e Classe
É importante lembrar que todas as enfermeiras abolicionistas descritas aqui não foram pagas pelos cuidados de enfermagem que prestaram. Aliás muitas delas e bem referenciado por Soujourner Thuth – “E eu não sou mulher?”. Embora seus trabalhos tenham sido subestimados, seus ativismos são guias para o compromisso contínuo das enfermeiras em acabar com a opressão e a desigualdade salarial, enquanto lutam por justiça racial e um mundo saudável para todas as pessoas.
E conte para nós, você conhecia a história dessas 3 Enfermeiras negras abolicionistas que fizeram história nos EUA? Lembra de mais alguém, compartilhe conosco.
Neste dia 12 de maio que celebra-se o dia da Enfermagem, damos voz à todas as pessoas que atuam nessa profissão nos 4 cantos do mundo. Quando digo enfermagem leia auxiliares, técnicos, enfermeiro, parteiras, obstetras…
Em primeiro lugar, PARABÉNS Enfermagem pelo dia 12 de maio! Mesmo sabendo que está palavra é muito pequena para expressar tudo o que você fez e tem feito por essa profissão.
A pandemia COVID-19 e a Enfermagem
Antes mesmo de oficializarem uma pandemia, nós já víamos que algo estava acontecendo e que evoluía muito rápido para o óbito. Fomos nós, quem prestamos na sua maioria os primeiros cuidados a essa nova doença chamada COVID-19. Assim como em conjunto com a equipe de higienização fomos as/os primeiros a ficar sem EPI.
Somos nós que quando falta profissional de limpeza, médico, nutricionista, psicólogos diretores da unidade que estamos ali prontamente para quebrar o galho. Aliás, sabemos que nunca fugimos da luta e tivemos essas disciplinas na nossa formação: gerenciamento, limpeza, desinfecção e as práticas clínicas.
Não podíamos e não nos deixam reclamar, aliás, somos a enfermagem! Aquela profissão que muitas às vezes estudam mais de 6 anos e as pessoas estremecem a voz em dizer a Doutora!
Uma enfermeira Dra, onde já se viu isso? Se for destaque na excelência do saber associam à: quase médica/o; ou seja, mais uma vez a menosprezo aos nossos saberes.
Nessa tal pandemia não desistimos da luta! Já estávamos destruídes e com todas as LERS(Lesão por Esforço Repetitivo), DOT (Doença Ocupacional do Trabalho) e a tal Burnout, permanecemos nesta guerra. O serviço essencial não pode parar, troca plantão aqui, faz plantão para amiga que está familiares doente. Deixe de corpo mole, afinal, você enfermagem não pode parar!
Cuida ali e acolá e ainda tem que estar na sua integralidade para a família. O desejo de dormir por mais de 12h seguidas parece um sonho, mas a mente não desliga. Sempre pensando nas rotinas do trabalho que ainda precisa fazer, preocupada com o paciente que piorou, projeto para entregar, mais isso e aquilo…
Dessa guerra estamos esgotades, mas nossa súplica e lamento é apenas um murmúrio para muitos porque somos a mera enfermagem.
Jornadas de Trabalho
Muitos de nós começamos como voluntariados para ter a tal experiência, aliás nenhum serviço quer profissional inexperiente principalmente quando o assunto é saúde.
Salário baixo, condições precárias de trabalho, somos o sustento de nossas famílias, não se poder negar trabalho. Na sorte conseguimos 2/3 empregos na promessa que será só por um tempo e esse um tempo virou uma vida. Mas é para pagar a faculdade do filho, terminar de reformar a casa ou pagar o carro.
Além dos pacientes, nossas e nossos amiges de profissão estão partindo! Somos a classe trabalhadora que mais está morrendo nesse momento pandêmico e no Brasil então, nem se fale….
Enfermagem – A profissão com identidade
Uma profissão que é marcada de identidade forte de gênero, raça, orientação sexual (gays, lésbicas, bi e trans), ou seja, a população mais negligenciada desse planeta chamado terra.
O nosso ar está acabando, não deixe a nossa profissão morrer! Não podemos romantizar tudo isso frente a tantos profissionais incríveis e invisíveis que fazem e fizeram parte dessa trajetória profissional.
Feliz dia, SIM! Porém, queremos ser dignamente tratades como PROFISSIONAIS. Assim como ter a garantia de melhor condições de trabalho, reconhecimento profissional monetário, por jornadas humanas de trabalho e sem assédio profissional.
O ano 2020 foi instituído pela Organização Mundial da Saúde(OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS), como o ano internacional da Enfermagem e Obstetrícia. Mediante a este marco iremos apresentar ou relembrar 12 enfermeiras negras negligenciadas na história para conhecer.
Não foi à toa que se instituiu este ano para esta celebração,
mas por duas razões: o mundo precisa de mais de 9 milhões de enfermeiras(os) e obstetrizes
para atingir a meta de cobertura universal de saúde até 2030. E pelo 200º aniversário
de nascimento da Florence Nightingale – a fundadora da enfermagem moderna.
No dia internacional da Enfermagem, 12 de maio, escrevo este texto com um histórico racial para que pensemos enfermeiras negras, que talvez não nos contaram nas aulas de história da enfermagem ou que no nosso dia-a-dia são negligenciadas devido seu estereótipo racial.
A enfermagem é conhecida como a arte do cuidar. E vamos trazer o histórico de mulheres negras tiradas forçadamente da África para o mundo, sendo submetidas a situação de escravidão e prestação do cuidado à todas as pessoas da sociedade colonial, em situações de manutenção da saúde ou na doença em todas as etapas do ciclo de vida. Neste contexto de escravidão nota-se que essas mulheres negras muitas vezes eram impedidas de cuidar de outras pessoas escravizadas e familiares, pois o cuidado exercido por estas mulheres negras no período colonial tinha como função social a servidão escravocrata. As mulheres negras prestavam o cuidado como negras domésticas, mães pretas, parteiras, enfermeiras e amas-de-leite.
No Brasil não seria diferente, o cuidado é/era exercido majoritariamente por mulheres negras. Atualmente no país há cerca de 3,5 milhões de profissionais da saúde, e aproximadamente 50% são da enfermagem, destes 86% são mulheres e 53% são negras e negros.
Neste texto gostaríamos de apresentar 12 mulheres negras que atuam como enfermeiras que fizeram e fazem parte da nossa história à nível mundial.
Mary Jane Seacole – Enfermeira negra jamaicana atuante na guerra da Crimeia, isso mesmo, a mesma guerra onde se tem o destaque para Florence Nightingale. Mary aprendeu através dos ensinamentos de sua mãe negra que praticava cuidados através da medicina tradicional, assim como o tratamento aos doentes e combate às doenças endêmicas. Em 1854, inscreveu-se para participar da equipe de enfermagem da Florence para cuidar dos soldados feridos da Guerra da Criméia, porém não foi aceita, apesar das cartas de recomendações dos governos da Jamaica e Panamá.
Um não, não é suficiente para barrar uma mulher negra, Mary Seacole arrecadou fundos para viajar por conta própria à frente de batalha. Com o dinheiro que obteve montou o British Hotel onde vendia comida e bebida aos soldados para custear as despesas do atendimento a doentes e feridos dos dois lados, teve como nome – Mãe Seacole.
Mary foi ignorada no Memorial da Guerra da Criméia, em Londres
em 1915, até ter sua autobiografia encontrada em um sebo. Onde foi homenageada
no Reino Unido e na Jamaica, onde dá nome à sede da Associação Jamaicana de
Enfermagem.
Ressaltamos a história de Mary Elisa P. Mahoney, primeira mulher negra americana diplomada enfermeira pelo New England Hospital for Women and Children, em Boston
Na história Brasileira, também temos a guerra e neste caso a do Paraguai e a enfermeira branca destaque – Ana Neri a percussora da Enfermagem no Brasil, como destacado na literatura. A guerra do Paraguai se deu no período da escravidão, ou seja, muitas mulheres negras enfermeiras estavam envolvidas porém com suas histórias negligenciadas.
Maria Jose Barroso, depois conhecida como “Maria Soldado” foi uma notória enfermeira de guerra. Atuou na guerra civil da revolução constitucionalista de 1932, inicialmente, seus feitos e posicionamento político eram exercidos como “enfermeira” da Legião Negra, posteriormente passando a atuar na linha de frente de batalha. Maria Soldado, é considerada a precursora da enfermagem moderna no Brasil. A mesma não ingressou em uma instituição de nível superior para diplomação em Enfermagem, pois não tinha os requisitos de ser a mulher ideal para compor a enfermagem profissional no Brasil por não ser “branca, culta, jovem e saudável”, assim excluía – se as mulheres negras.
A profissão de enfermeira para mulheres negras no Brasil foi negada durante 2 décadas 1920 e 1930, ou seja, na primeira escola de enfermagem, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro – UNI-RIO, mulheres negras não eram bem-vindas.
Lydia das Dores Matta, Josephina de Melo, Lucia Conceição e Maria de Lourdes Almeida no ano 1943 na cidade de São Paulo, são as primeiras negras oriundas de estados pobres e distantes a ingressarem no Curso Básico de Enfermagem na Universidade de São Paulo, a escola de maior projeção da América Latina na época a ingressarem na universidade assim como formam-se en Enfermagem. A escola de enfermagem da USP foi criada em 1940, 3 anos depois ingressam as primeiras negras a cursar a universidade.
Rosalda Paim iniciou o curso em Enfermagem em 1947
pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa – EEAAC da Universidade
Federal Fluminense – UFF, na época denominada Escola de Enfermagem do Estado do
Rio de Janeiro, graduando – se em 1950. Com um currículo invejável de especializações,
visava romper com o modelo hegemônico curativista a o trazer conceitos que
ainda não eram discutidos e utilizados no sistema de saúde como, integralidade,
humanização, hierarquização dos serviços, referência e contra-referência.
A trajetória profissional de Rosalda Paim é norteada por
marcos teóricos, sociais e políticos da virada do século XX para o XXI no
Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, de modo que a mesma teve um papel de
destaque no processo de modernização da enfermagem brasileira, na formação do
enfermeiro e profissionais de saúde, na democratização brasileira e na mudança
de paradigma na atenção em saúde.
Rosalda Paim, a primeira enfermeira parlamentar e negra do Brasil, exerceu o mandato de Deputada Estadual do Rio de Janeiro, pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT no período de 1983 a 1987. Utilizando-se de sua formação em educação, saúde e enfermagem Paim criou e teve aprovada 20 leis na área de saúde e assistência social, assim ela exerceu uma atuação política notória e importante para a sociedade carioca e brasileira.
A enfermeira negra Izabel Santos iniciou sua trajetória profissional no Serviço Especial de Saúde Pública – SESP ligado a Opas – Organização Panamericana de Saúde na década de 50, onde atuou por 20 anos, posteriormente passou a integrar o quadro de professores Universidade Federal de Pernambuco – UFPB e por fim retoma seu vínculo com a OPAS em 1976, onde atuou como consultora até 1997, assessorando o Ministério da Saúde. A sua contribuição de maior destaque está na formação profissional de enfermagem, sobretudo no nível técnico com a idealização do Programa de Qualificação de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem – PROFAE.
Maria Stella de Azevedo dos Santos – Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi, iniciou a graduação de enfermagem aos 15 anos de idade, tornou-se enfermeira pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Após sua formatura especializou-se em Saúde Pública e passou integrar o quadro de enfermeiras sanitaristas da Secretária de Saúde do Estado da Bahia – SESAB em um Centro de Saúde.
Enfermeira e Iyalorixá torna-se imortal em 12 de setembro de
2013 ao assumir a cadeira de número 33 na Academia de Letras da Bahia após ser
eleita por unanimidade. Por essa cadeira que tem o poeta Castro Alves como
patrono, já foi ocupada pelo seu amigo, o também escritor Ubiratan Castro de
Araújo
Dona Ivone Lara formou-se
pela Faculdade de Enfermagem do Rio (atualmente Faculdade Alfredo Pinto, da
UNIRIO). Dedicou-se intensamente à profissão, especialmente à Saúde Mental.
Costumava percorrer as enfermarias e pavilhões do Instituto Psiquiátrico
Pedro II em busca das histórias, referências e laços familiares dos pacientes.
Era uma rotina, que além de dar-lhe satisfação, fazia parte do tratamento
terapêutico.
Prestou concurso público para o
Ministério da Saúde em 1942, antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira,
onde atuou por mais de três décadas com pacientes afetados por graves
transtornos mentais. Fazia plantões de 24/48 horas que, segundo ela, eram
desgastantes, mas, ao mesmo tempo, muito gratificantes já que ajudavam a
diminuir o sofrimento dos que procuram as unidades públicas de saúde.
Atuou com Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que rebelou-se contra a
lobotomia, eletrochoques e outros métodos agressivo de tratamento de Saúde
Mental, defendendo um tratamento humanizado da loucura. Com Nise,
especializou-se em terapia ocupacional.
Soube combinar a música e as habilidades de enfermeira para ajudar seus
pacientes a enfrentar transtornos mentais. A música funcionava como um bálsamo
consolador nas inúmeras festas que promovia com suas colegas de trabalho. Ela
cantava e dançava com os pacientes e, assim, transformava aquela rotina, tantas
vezes esgotantes, em momentos de felicidade.
E não poderia deixar de mencionar as duas ex-esposas de Mandela que se formaram enfermeiras Winnie Mandela e Evelyn Mase, mas essas histórias ficarão para outro texto.
Não há dúvidas que na nossa história existem muitas enfermeiras negras que fizeram e fazem história e que tem importância política nesta atuação, dispondo-se para serviços de guerras, endemias, pandemias, assim como atuação nas atividades científicas, hospitalares e nas comunidades.
Que essa profissão seja reconhecida e valorizada e com o seu devido destaque para a questão de gênero e raça.
Referência para esse texto foi o excelente estudo de graduação de Cláudio Bonfim de Oliveira Nascimento Junior: BLACK LADIES NURSES?! SIM: Enfermeiras negras e a construção da identidade da Enfermagem no Brasil