Para quem não me conhece, me chamo Suzy Cruz. E neste relato irei compartilhar como foi a minha experiência de 35 dias em um mochilão Sabático em Alter do Chão – Pará
De 2017 a 2018, percorri inúmeros locais na Amazônia. Após navegar pelos rios Negro, Amazonas e Branco, e dar um pulo na Venezuela, decidi conhecer o caribe de águas doce do Brasil: Alter do Chão, Pará.
Segue algumas dicas, fotos e minhas percepções sobre a região. Lembrando que os preços estão desatualizados, visto que a viagem aconteceu em 2018. Porém, achei importante inserir para vocês terem noção. Surgiu dúvidas? Anotem meu ig ou enviem as perguntas para meu e-mail, terei prazer em responder: suzi.tour@gmail.com
Alter do Chão
Curiosas para conhecer ou relembrar? Naveguem comigo!
Reparem na cor dessa água que muda conforme a posição do sol
Meu início em Alter do Chão
Cheguei em Alter num domingo à noite e nem tinha onde ficar. Saí da Venezuela direto para o estado do Pará com a cara e a coragem. Não havia pesquisado nada.
Pernoitei num redário, mas ainda não estava confortável. Nada contra dormir em redes. Passei toda a minha viagem babando dessa forma. Depois que você aprende a dormir atravessado, parece que você está numa cama mesmo.
Continuando: Saí sem rumo em Alter no outro dia e, através da Paula, voluntária do Hostel Don Preguiça, fez questão de me apresentar aos donos do local. Como iria ficar um tempo considerável no distrito, trabalhar em troca de hospedagem seria supimpa.
Como o universo nos conecta com pessoas incríveis. Imaginava ficar apenas duas semanas, todavia, acabei aumentando para um mês e alguns dias minha estadia por lá.
Como cheguei nessa região?
– Barco de linha Manaus – Santarém: R$ 80,00;
– Ônibus coletivo Santarém – Alter do Chão: R$ 3,60.
Sobre as hospedagens em Alter…
– Há redários a partir de 15 pilas. Se ficar mais tempo, consegue pagar apenas R$ 10,00 por dia. Vale a pena conversar dependendo do tempo que ficará no local;
– Se a sua carteira está mais recheada, há pousadas requintadas. Em relação aos hostels, na época, encontrei quartos compartilhados, a partir de 35 reais;
– No meu caso, eu fiquei mais de um mês. Então, procurava um local para dormir em troca de trabalho. Tive direito a uma cama macia, ar condicionado, banheiro limpinho e café da manhã!
Flona de Tapajós
Antes de desvendar Alter do Chão, tive a oportunidade de pernoitar na Flona do Tapajós.
Mas Suzy, o que isso? Significa Floresta Nacional. Tem como finalidade, o uso sustentável dos recursos florestais e, também, a pesquisa científica.
Como chegar na Flona?
Eu estava quase sem grana, então, fui de transporte público mesmo. Aliás, não tenho nenhum problema com isso. Praticamente, 99% das minhas viagens são aproveitadas dessa forma. Paguei 12 pilas. Baratíssimo. Saída do busão é em Santarém. O percurso dura, aproximadamente, 4 horas de viagem.
” Ainnn Suzy, muito tempo. Há outras formas de se chegar na floresta nacional? ” De barco, mas não recordo o valor. Quem souber e puder compartilhar…
Quantos dias ficou por lá?
Tive a oportunidade de ficar 3 dias na casa do Seu Bata e da Dona Socorro. Esse simpático casal mora na comunidade do Jamaraquá. Eles trabalham com turismo de base comunitária.
Dona Socorro, Seu Bata e eu
– Onde dormiu?
Para ficar no redário (local onde se coloca redes) dessa família, paguei um pacote 50 reais por dia, incluso as três refeições: café da manhã, almoço e jantar. Excelente custo benefício.
Redário
– Me fale mais sobre a trilha e guias disponíveis na Flona.
Seu Bata foi meu guia. Sabe de tudo sobre a floresta. Na trilha, contou muitas histórias. Desde quando era criança até quando se deparou com onça. Possui um senso de humor incrível. Evidente que há muitos outros guias, inclusive, os próprios parentes do seu Bata. Caso ele não esteja disponível na data que almeja, peça indicações em Alter do Chão – pousadas e hostels costumam informar. Ou vá direto ao local.
– Quanto custou a trilha?
A trilha que eu fiz custou 150 reais divididos por 5 pessoas (30 reais para cada um). Conheci a Samaúma, dentre outras árvores também importantes, um mirante e descemos até um igarapé de águas límpidas! Aproximadamente 10 km (ida e volta).
Sumaúma ou Samaúma
Duração do percurso é de aproximadamente 4 horas. Se forem para a Flona, indico sua casa para pernoite e seu trabalho como guia de olhos fechados. Tenho certeza que será uma linda experiência!
Olha a cor dessa água
Carimbó
Uma das mais tradicionais expressões culturais da região norte, chama-se carimbó. Provém de uma fusão de influências indígenas, negra e ibérica. Desde 2014, é reconhecido como patrimônio cultural brasileiro.
Casal dançando carimbo
Todos bailam descalços. As mulheres sempre dançam com lindas saias coloridas e rodadas. Na época, toda quinta-feira à noite, rolava apresentações na rua. De graça!
Mulher dançando carimbó
Ilha do Amor
Fica defronte a região central do distrito. Na cheia, os quiosques desse local, ficam todos submersos. Na seca, o rio recua e as praias se descortinam.
Ilha do Amor aparecendo
O lugar é sensacional: possui águas claras, mornas e areia branquinha.
Ilha do Amor: quando as águas começam a baixar
Como chegar na Ilha do Amor?
Vá de catraia;
Barco comporta até 4 pessoas;
Na época, paguei 5 reais (1 real e 25 centavos para cada um – valores de 2018).
Catraias
Ilha do Amor
Serra da Piraoca
Há, também, uma trilha a partir dessa ilha, para chegar na serra da Piraoca ou Piroca. De lá, tu tens uma visão 360º graus. Muitos vão no final de tarde para ver o pôr do sol. Vale a pena! Em 20 minutos, cheguei ao cume. O início da trilha é bem tranquilo. Quando começamos a subir a serrinha, há pedras soltas e o aclive é intenso. Tomem cuidado para não escorregar. Água e lanterna é importante. E, claro, câmera/celular para quem quer registrar o espetáculo.
Vista do Tapajós da serra da Piraoca
Outros Tours que Valem a Pena
Passeio na Floresta e Igapó
Fui agraciada com um passeio na floresta (em Alter do Chão) com o Seu Pitó (guia/nativo): beber água direto do cipó, aprender o processo da seringa, ver uma infinidade de plantas medicinais, comer formigas com gosto de bala refrescante, nadar num igapó de águas cristalinas e, ainda, conhecer a formiga com propriedades de repelente natural (basta pegar algumas e friccionar em qualquer parte do corpo).
Seu Pitó
– Suzy, me explica: o que é um igapó?
– É uma floresta alagada. Caso queiram conhecer esse tipo de paisagem, tente ir antes de agosto;
– É seguro nadar? Minha amiga tu tá na floresta amazônica, então, sabe que nós que invadimos esse ambiente e não o contrário. Antes de entrar em qualquer local, pergunte a um nativo e/ou guia. Eles terão prazer em responder.
– Só explicando que no ano sabático que passei por lá, nunca fui picada por cobra, não fui mordida por piranhas, nem morcegos e nenhuma onça correu atrás de mim. Só tive um susto no rio Negro: estava tomando banho, quando um baita jacaré açu começou a vir na nossa direção. Eu nunca corri/nadei tão rápido na minha vida na água… Nem sei nadar, se quer saber. Com nossos gritos, o jacaré acabou se assustando e sumiu…
– Outro detalhe é que voltei cheia de manchas na pele porque os insetos quase me devoraram. Gente, eu trabalhei por mais de 4 meses dentro de um parque nacional (floresta adentro). Natural ser picada por insetos. Tinha alguns que simplesmente passavam pelo tecido. E a coceira? Sabe aquela coceirinha gostosa que sai até sangue? Pois é. Aconteceu muito comigo. Mas, quer saber? Faria tudo novamente.
– Mataraí
Na época, estava sem grana para fazer passeios de barco e alcançar praias distantes. E ainda, ia visitar Algodoal, Belém e adjacências. Então, precisava poupar o restante. Estava viajando há 11 meses pela Amazônia com apenas 5 mil pilas. Tinha muito pouco no bolso. E o que a gente faz? Trekking, arrasta o chinelo, bate perna, come poeira. Eu amo caminhar e só a aventura de chegar nesse local, já super valeu a pena! Uma hora e alguns quilômetros depois, surgiu uma praia deserta com águas quentinhas e claras para chamar de nossa! Como cheguei por lá? Peguei um atalho na Ilha do Amor e andei sem rumo. Aportei nesse paraíso!
Praia Super Deserta
Não é o caso desse local, mas deixo um conselho: peça licença para a Mãe Natureza e aproveite das experiências sem barulho. Nas minhas andanças, não só pela Amazônia mas em outros locais do Brasil, percebi que as pessoas adoram fazer algazarra, gritar, levar caixinhas de som… Atente-se aos sons naturais. Respeite o silêncio!
– Encontro dos rios Amazonas e Tapajós em Santarém
Sabia que existe outro encontro de rios fora o Solimões e Negro? Simmm! É o encontro dos rios Amazonas (barrenta) e Tapajós (cristalina). Tem vontade de conhecer? Tenho uma dica: há um mirante bem bacana para visualizar essa obra da natureza. Fica em Santarém, na Praça da Fortaleza do Tapajós. Lembrando que é de graça, 0800, free!
Caso não seja essa experiência que tu queira, pode alugar um barco e ir até o ponto de encontro desses dois rios. Também é válido!
Encontro dos rios Tapajós e Amazonas
Pôr do Sol em Santarém
Mercadão (Santarém)
Recomendo visitar o mercadão 2000. Geralmente, eu comprava frutas e verduras nesse local. Super baratinho e melhor: você compra de produtores locais! Ah, o busão que vem de Alter te deixa em frente.
Mercadão 2000
Bom, essas foram as minhas dicas e imagens dessa linda região do Pará.
Foi uma experiência de 35 dias na região.
Curtiu? Já foi? Ficou com vontade de conhecer? Caso possuam meios e tempo para ir, aviso: irão se apaixonar!
Se surgirem dúvidas, enviem mensagens.
Fim de Tarde na Praia do Cajueiro
Pôr do Sol na Praia do Cajueiro
Passarela para o CAT- Centro de Informações Turísticas
Dias eventuais, apenas eu estava na praia
Encontro com mochileiras em Alter
Nas ruas do distrito
Infelizmente, não sei a autoria do desenho
Há outros locais que deixei para trás porque havia dias que queria ficar ociosa mesmo. Quando digo ociosa, era passar horas no meu esconderijo, numa praia quase particular, porque quase ninguém ia para lá. Confesso que, determinados momentos, sou bem introvertida e gosto de ficar só. Aliás, não estava com pressa e meu estilo de viagens é bem lento mesmo. Gosto de sentir a vibe, conversar com os moradores, saber a história, compreender a rotina. Evidente que, para quem trabalha e tem poucos dias de férias, isso realmente não funcione, enfim… Só digo: cada um tem uma maneira de contemplar e experimentar viagens.
Desfrute!