Moda – Como vivenciar de modo sustentável

Vou começar este texto com um questionamento que já foi muito inquietante para mim: Você alguma vez já se perguntou para onde vão as roupas quando caem de moda e não desejamos mais usá-las? E, portanto a roupa de todo o mundo quando não são mais desejadas?

Pois é, até a presente data de 2020 não se comprovou a existência de um buraco branco onde tudo o que é despejado desaparece.

Então eu gostaria de propor algumas possíveis ações para lidarmos não apenas com estas peças indesejadas, mas também falar sobre opções do meio do caminho. Ou seja, como poderemos adquirir e ‘descartar’ roupas com menos culpa.

Vamos juntos pensar sobre isto?

O objetivo é pensar em aquisição de roupas, pensar sobre tendências que mudam rapidamente e sua posterior destinação quando não mais as desejamos, ou ainda o mais terrível…

Quando já saíram de moda!!!

Entretanto eu posso pensar que: Eu não posso ser responsável pelas escolhas das pessoas, seja em adquirir ou se desfazer de roupas.

Considero que vestir é uma necessidade essencial em nossa sociedade e, portanto, eu preciso comprar roupas. Além de ter o direito de me desfazer delas quando bem desejar ou precisar.

Interessada por Moda como sou, já li e ouvi falar bastante a respeito do quanto a indústria têxtil é poluente, o quanto muitas marcas utilizam forças de trabalho análogos à escravidão e não apenas isto, conta-se que menos de 1% do material produzido por esta indústria dá origem a novas peças e/ou tem possibilidade de ser reciclado.

Segundo a Fundação Ellen MacArthur, são gastos cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano na produção têxtil.

Você percebeu que eu escrevi Bilhões? Gente, é muita coisa.

Isto sem contar as Bilhões de toneladas de emissões de gases que causam o efeito estufa no Planeta.

Então o que temos como objetivo aqui é evidenciar que a necessidade suprema – da nossa sociedade atual – de vestir, não precisa necessariamente estar ligada ao consumo desenfreado proposto pelas grandes cadeias, redes e marcas de moda Fast Fashion que nos faz querer consumir exaustivamente as tendências que são ditadas de tempos em tempos (considere aqui os calendários de semanas de moda) sendo que, muitas vezes, quando a gente enfim adquire aquela peça ela já saiu de moda.

E isto nos leva a um looping infinito de aquisições e descartes para simplesmente seguir tendências, que nem sempre conversam com o nosso estilo, visão de vida, ou mensagem que desejamos passar através da nossa vestimenta.

Um belo exemplo: Quem já se rendeu à uma tendência de Moda que sequer era aquilo de que gostava levanta a mão.

Eu já: Houve um tempo em que a cor roxa, ou lilás, esteve muito ‘na moda’. Eu, embora não gostasse, adquiri uma blusinha da tal cor. Já uma amiga foi além: Ela também não gostava da cor, mas rapidamente adquiriu várias peças para seguir a tendência.

Ela, tendo melhores condições financeiras do que eu, poderia facilmente convencer seus pais a comprar várias peças novas e usar ou descartar quando bem quisesse. Já eu, que pude comprar apenas uma peça não tive grande prejuízo quando a tal moda acabou.

Passado este fato, houveram dois recursos que eu utilizei de maneira efetiva alguns anos depois: Senso crítico para pensar sobre a necessidade real de adquirir algo de que eu sequer gostava e que não me faria falta; e o acesso a roupas usadas, que diminuiria mais ainda o meu gasto. Assim eu pude começar a agir de acordo com uma visão responsável sobre o consumo consciente e sustentável de moda.

Porém antes disto e por muitos anos, eu tive muito receio de consumir roupas de brechó. Eu pensava que, assim como falavam, as peças poderiam ser sujas, com energia negativa por desconhecer sua procedência, que poderiam me trazer algum mal à saúde etc. Todas as crenças limitantes que circulavam por aí e depunham contra Brechós me assustavam.

Só que, ao mesmo tempo, eu tinha um incômodo muito grande com relação a:

  • Quando finalmente eu comprava a tal peça da moda, ela saía de moda. Porque afinal eu nunca tive dinheiro para comprar roupas assim que os desfiles lançavam a tendência;
  • Roupas ou combinações aclamadas pela mídia e que estavam em todas as lojas não me agradavam;
  • Eu detestava com força me sentir parte de um exército de pessoas que usavam a Mesma Roupa;
  • Eu tinha um medo supremo de ir a algum compromisso, como festa ou casamento, e encontrar alguma pessoa vestida igualzinha a mim, sendo então o que minha mãe chamava de “Par de Vasos”. Aqui eu fiz uma pausa grande para dar gargalhadas.

Já comprando roupa em brechó eu teria a possibilidade de encontrar roupas de qualquer parte do mundo, roupas antigas e de moda passada mas que poderia me agradar e compor um estilo muito legal em combinação com o que eu já tenho, ainda considerando oque eu falei logo na introdução deste texto: roupas que alguém não quer mais não desaparecem do planeta por osmose.

O Brechó é tipo um “mundo paralelo” cheio de recompensas para quem tem paciência e disposição em desbravá-lo, uma vez que se pode desenvolver um estilo próprio que conversa com suas crenças, neste caso a sustentabilidade.

Pode-se também diminuir grandemente o gasto com roupas, acessórios, calçados e até decoração, uma vez que as peças que se encontram lá tem um custo muito baixo. E caso você compre, digamos, uma roupa que está muito grande, um pouco pequena, com furo, rasgada etc, pode-se levar em uma costureira seja para fazer ajustes, customização, ou até mesmo reforma e transformação de uma peça em outra. Por exemplo: Você vê um vestido de uma cor que te agrada, com um tecido que você já sabe que é bom por ter resistido à ação do tempo. E então o transforma em uma camisa, faz um conjunto de saia e blusa. Enfim, são inúmeras possibilidades de se transformar totalmente uma peça, se beneficiar e ainda dispor do trabalho de uma costureira do seu bairro, que muitas vezes são senhoras que conhecem muito de moda e têm histórias incríveis para partilhar.

Talvez você diga: Ah, mas eu não conheço nenhum Brechó próximo da minha casa ou no meu caminho.

Gente, uma pesquisa no Google, Facebook, Instagram e afins abrirá um novo mundo, porque então começarão a surgir sugestões a partir desta primeira busca.

Outra dúvida: Tenho uma crença/ religião que me deixa preocupada com a energia trazida pela roupa.

Uma boa lavagem, eventualmente com sal grosso, antes do uso já resolve. Além da alegria de saber que está fazendo um consumo mais responsável.

Outra possível preocupação: Tenho muitas roupas que não uso mais, e sempre colocava no saquinho com o lixo para descarte.

Você já pensou que uma roupa que foi escolhida com cuidado e intenção de te embelezar, pode muito bem compor memórias felizes para outras pessoas? Então Doe! Seja para um Bazar de igreja, Venda ou Doe para Brechós, Venda On Line, Proponha troca com seus amigos e amigas. Existem muitas possibilidades.

O nome desta prática, junto com várias outras ações, é Slow Fashion. E consiste em repensar nosso consumo, tornando-o mais consciente tanto na aquisição quanto no repasse de roupas, a partir do momento em que passamos a ressignificar nossa vestimenta, valorizando cadeias que são mais justas e éticas com pessoas que atuam na moda como costureiras, pequenas e novas marcas, novos estilistas, marcas efetivamente sustentáveis, que respeitam os tempos de produção, cultura local, remuneram corretamente seus colaboradores etc.

Falando em Cultura Local, sugiro aproveitar sua próxima viagem e buscar um brechó. Quem sabe você volta para casa com uma peça que expressa a cultura do local onde você esteve.

A Rebecca, idealizadora deste Blog sempre faz isto. E na Casa MeMa tem peças lindíssimas que ela trouxe de várias partes da África.

Vou finalizar com algumas pistas de ideias para vocês seguirem: Temos diversas marcas brasileiras que seguem o conceito de Slow Fashion. Brechós como: Brechó Casa da Ro na Vila Galvão/SP (@brechocasadaro), Samburá, Casa André Luiz, AACD e vários outros são Excelentes locais para comprar peças usadas; Existe uma empresária brasileira que criou um App para alugar peças de roupas casuais; Guarda roupas compartilhado que pode funcionar entre amigues, etc.

Por agora é isto pessoal. Espero que gostem, fiquem a vontade para comentar, partilhar com seus amigos e amigas, e convido vocês para conhecer meus produtos através da página  @moda_tupinikin no Insta. Fiquem de olho que logo eu volto com mais matérias envolvendo Moda, ou Viagens, ou Ambos.  

Imagem: Photo by allison christine on Unsplash

 

Moda e viajem – Um encontrando no universo dos tecidos coloridos

Eu não sou do mundo da moda e nem tenho pretensão de entrar neste mundo. Mas eu preciso dizer que ao longo da minha vida de viajante e quando a gente se encontra, quando nos conhecemos como parte neste mundo se vestir flui e não se torna um peso, se torna algo prático. Mas chega de romance amiguinhxs, antes de mostrar por onde vivi e por onde passei precisamos mostrar a caminhada e relação entre moda e viajem.


Rebecca Aletheia – Victória Fall´s na Zámbia – Moda e viajem

Criar a minha identidade pessoal em uma infância discriminatória, racista e machista fora do meu ambiente familiar foram sempre muito difíceis porém sempre me fortaleceram, longe de mim ser a super poderosa, a melhor bla, bla, bla. Saiba que essa não é questão de me enaltecer porque eu não preciso disso. Mas é pensar de onde surgiu esse EU!

Como criar minha identidade após anos/décadas as minhas roupas serem mencionadas como baiana? Como conseguir sobreviver sã com esse assa grave discriminação racista e xenofóbica, o que me fez a ter a minha consciência política de que SIM! Eu estou BAIANA e isso para mim, significa que estou mais linda.

Meus avós, nesse caso os três, Vó Alice, Vó Maria e Vô Sebastião vieram da Bahia e sempre nos ensinaram a ter orgulho e quanto a Bahia tinha muito a contribuir para todo o Brasil e eu não tenho dúvida, eles estavam certo, mostrando a sua importância na história, certamente meus irmãos e primos lembram da vó Maria dizendo todos os artistas baianos e sua importância para a nossa valorização cultural.

Eu sofri, ahh sofri muito, mas nunca deixei de ser eu, ter a minha personalidade, de ser livre em fazer minhas escolhas. Já contei para vocês no relato da minha história profissional parte 3 sobre como foi dolorosa a minha questões com roupas até para ser aceita no meu grupo de amigas quando eu usava uniforme para ir à escola no período do noturno quando não era obrigatório e quase ninguém usava.

Misturo cores, hoje você diz ser bonito, mas por muito tempo eu ouvi ser dito como ridículo. Doeu, mas eu nunca esmoreci, sobrevivi, o que você diz ser moda e viajem hoje, eu te digo, foi a minha teimosia e resistência.

Sempre fui apaixonada por cores e tenho um pai que tem muito estilo até mais que mamãe, tudo tem que se conectar, combinar, ser original e autêntico. Aprendi a importância de valorizar os artesãos e os produtores locais que não há preço que pague esse trabalho e reconhecer quem produz.

Eu nem preciso dizer que AMO CORES e poder viver por mais de um ano nos países dos tecidos(Tadjiquistão e Moçambique) foi uma realização, era como se eu estivesse no universo mágico das cores, se você der um Google sobre Tadjiquistão você não irá encontrar muitas informações e para a minha felicidade ao chegar por lá o país é colorido e cheio de tecidos um mais lindo que o outro, cada esquina uma loja de tecidos, ahhh eu estava no paraíso e reacendia o meu contato com moda e viajem.

Moçambique o país das capulanas, assim como chamam os tecidos africanos por aqui, nem preciso dizer que amo e como eu não coso, isso mesmo, eu não COSO! Em Moçambique a palavra costurar é dita como Coser, amo criar amo olhar o tecido e pensar no que podemos transformar esse tecido e fazer com que fique mais lindo. Os tecidos africanos têm uma pegadinha com os desenhos precisam ser simetricamente compostos e isso é realmente para especialistas e eu não me arrisco a cozer. Queria fazer aula de costura, mas era muita atividade para uma mulher só, ainda amo poder cada dia descobrir uma nova costureira ou costureiro e pensar ideias juntas, poder imaginar uma nova roupa, poder contribuir mais para a comunidade.

Rebecca Aletheia - Estação ferroviária de Maputo - Viajem e moda
Rebecca Aletheia – Estação ferroviária de Maputo – Viajem e moda

Sou do universo criativo, não sou das habilidades manuais, eu não tenho muita paciência, quero que as coisas fiquem prontas rápidas, mas no universo da costura, da moda tudo tem o seu tempo. Eu consigo compreender que está tudo bem em eu não poder fazer tudo e que tem pessoas aptas para todos os tipos de atividade, porém preciso cooperar para que todos os produtores tenham o seu legitimo e merecido reconhecimento.

Vivendo no Tadjiquistão, mas especificamente na rota da seda, fiz questão de ir em uma plantação de algodão e colher para sentir na pele que tudo tem uns preços e valores que não fazemos ideia o quão trabalhoso é desde o plantio e a colheita. Eu senti a dor em colher algodão, assim machuquei a minha mão. Isso para mim era pensar em moda e viajem. Pude parar para admirar o agricultor a rezar para Alá agradecendo a possibilidade de não ter tido praga este ano.

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Tentei por diversas vezes aprender a costurar, mamãe tentou, porém, santa de casa não faz milagre. Minha primeira vez com uma professora de costura ela só falava em Tadjique, ou seja, era no olho e por algumas palavras que eu podia entender. Cheguei a comprar a minha primeira máquina de costura no Tadjiquistão, tive uma relação de amor e ódio, a gente não se entendia, eu não sabia costurar e não sabia quantos detalhes tem a máquina. Comprei com um rapaz que só falava tadjique e o Sasha(motorista) me ajudava a traduzir, mas ele não falava muito bem inglês e me traduzia como conseguia. Eu voltava com a máquina toda semana e dizia que não funcionava, até o Sasha sugerir que eu pedisse a um tradutor para ir comigo, mas nada de eu aprender a coser, não era nosso tempo. Aprendi a passar a linha na máquina, aprendi a rebobinar aprendi a ter paciência assim como doei a máquina a um colega do trabalho que queria presentear a esposa fazia anos, porém não tinha dinheiro. Ele me liga até hoje agradecendo a máquina.

Rebecca Alethéia com a sua primeira máquina de costura no Tadjiquistão - Moda e viajem
Rebecca Alethéia com a sua primeira máquina de costura no Tadjiquistão – Moda e viajem

Voltei ao Brasil e fiz um curso básico de corte costura com as Candaces Moda Afro, foi muito legal e dessa vez em Português. Hoje me sinto muito segura em fazer bainha, considero um trabalho árduo preciso dizer.

Aprendi também que implorar desconto nem sempre é justo com todos os meios de produção é negligenciar cada ato da produção, considero a importância de poder pensar nas minhas roupas. Valorizar os produtores das regiões, países dos quais passo e pensar em um consumo consciente em doar quando tenho em excesso e doar enquanto está em boa qualidade, de poder fazer meus bazares de troca assim como fazer meu brechó de desapego.
E hoje compartilho meu guarda-roupa de roupas para que as pessoas possam alugar peças ao redor do mundo na Ubuntu Guarda-Roupas

Diminui meu guarda-roupa e acredito que nossas roupas assim como eu uma viajante, as minhas roupas precisam voar, precisa encontrar outros corpos e fazer com que nossa energia circule (como a Thalita Fonseca me ensinou), não podemos nos apegar às peças de roupa, precisamos é saber que tudo deve ser consciente, que além de ter é ser! A roupa traça a nossa personalidade, mas podemos trazer a nossa personalidade a roupa e é isso que temos que fazer.

Rebecca Aletheia - em uma festa de casamento tocando instrumento tradicional - Moda e viajem
Rebecca Aletheia – em uma festa de casamento tocando instrumento tradicional – Moda e viajem

Esta é a minha história com moda e viajem, viajem e eu. Conte-nos a sua história

https://www.instagram.com/rebeccalethei/

Poesia – A vida e o medo

Poesia de Alê Adão

Para os dias de tristeza, viva como um adolescente
Não daqueles que gritam sem parar ou choram sem motivo
Mas, daqueles destemidos, que riem do nada e para o nada
Que falam alto, cantam, dançam e vivem tão intensamente …
Como se aquele momento fosse eterno.

Para os dias incertos, enxergue como um adolescente , Que acredita que o agora, o presente  é o que importa. E, realmente importa. Mesmo que nos nublados dias a dúvida pairar, olhe para o horizonte como esse jovem, que apenas vê um horizonte, sol, chuva ou senti o vento. 

Por instantes, permita-se ser esse adolescente, sem precisar arrumar resposta pra tudo e pra todos. Sinta o dia, a vida, o vento, o momento intenso que é estar no agora, no presente. Além disso, perceba quão importante é estar e viver aqui. 

Como aquele adolescente, você meio que no turbilhão da onda pode escolher.  Se viver intensamente ou curtir o marasmo?! Se ir a praia com os amigos ou ficar em casa?! Se ter ou não amigos?! Se sentir o pulsar da vida nas veias?!

Ainda que lá no futuro, e não um futuro longe. Mas o futuro do daqui a pouco, que  possa te fazer se arrepender de algo, apenas se dê conta. Que no final das contas, quem sempre teve a rédea de tudo foi você. 

Esse adolescente às avessas, em meio a risos e choros, alegrias e tristezas, caminhadas acompanhadas ou sozinhas, na chuva ou no sol conseguiu chegar até aqui.  Fácil não foi!  Mas, foi necessário viver tudo isso até agora. 

Texto escrito por

Alê Adão - Poesia  " A vida e o medo"
Alê Adão – Poesia ” A vida e o medo”

Alê Adão – jornalista, professora, mulher negra e mochileira. Nas horas vagas se aventura a escrever alguns versos, como os recitados no vídeo. Além de já ter viajado por 7 países, ter contribuído em 2 publicações/coletânea, ama escrever poesia e sentir a sensação de liberdade e de estar ainda mais viva quando viaja. A propósito, a poesia ” A vida e o medo” teve início ou inspiração numa tarde no Rio Vermelho, em Salvador em 2018. 

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Por trás de cada viagem, há uma história de superação

Da série mulher negra viajante que inspira contamos a história da Carina Silva, uma empreendedora que traz consigo a superação por de trás de cada viagem. Proprietária das empresas Destino Afro e Black Travelers .

Para algumas pessoas, viajar é um sonho nem sempre fácil de se realizar. Certa vez, uma colega me disse que queria muito de viajar, mas não tinha coragem devido ao medo de viajar sozinha. Ela dizia que viajar era um risco e que estar longe de casa em um imprevisto era arriscado. Na época eu era funcionária de uma agência de viagens e sugeri viagens em grupos e leituras sobre viagens. Ela até se animou, mas depois hesitou.

Carina Silva - Proprietária da agência de viagem Destino Afro e Black Travelers. Mulher negra viajante que inspira
Carina Silva – Proprietária da agência de viagem Destino Afro e Black Travelers

Quando penso na minha relação com viagens, vejo que desde o início sou uma viajante que sempre teve facilidade de viajar sozinha, seja pelo Brasil ou por exterior.

E faço isso quase que sem pensar em medos e anseios, na verdade, sei que viajar envolve desafios, mas o desejo e agora o hábito de viajar sempre foram mais fortes. E era interessante que esta paixão por viagens influenciava outras pessoas a viajar comigo. Em 2012 convenci minha mãe, irmã e ex namorado a viajar para Salvador juntos – foi a nossa primeira vez de avião. Foi fantástico. Nos próximos anos, isso se repetia – eu pensava em uma viagem, comprava a passagem e em seguida, amigos tomavam a coragem e vinham comigo. E foi assim para Gramado, Fortaleza, Europa e África do Sul. De certa forma, eu conseguia passar segurança para que as pessoas decidissem viajar.

Em 2018, já com minha primeira empresa aberta – a Black Travelers, eu fiz minha primeira viagem à África, e fui sozinha – uma amiga decidiu passar uma semana comigo na Cidade do Cabo :D. O meu plano era passar 3 meses na África do Sul, mas lá inclui Moçambique de última hora. E fui. Em Maputo, pesquisei regiões próximas para visitar e cheguei a praia de Macaneta. Um vilarejo de casas sem muros, sem barulho e caminhos de areia. A praia era enorme, uma longa faixa dourada de areia entre o verde da vegetação e o azul do mar e do céu. A paisagem era linda. E não havia ninguém ali. Devo confessar que está praia me trouxe medo. Sabe por quê? Eu estava sozinha, era deserta. 

Entre o medo e a coragem, decidi ficar. Caminhei por cerca de 30 minutos na presença da vegetação, areias, vento e cheiro do mar. Nenhum rastro de aves, muito menos de outro ser humano. Pensava em voltar, mas qual seria meu medo? Se não havia ninguém ali. Então continuei a caminhar e encontrei uns barcos de pescadores e cabanas onde fiz umas fotos.  Clique para ver a Foto

Esta caminhada na praia sozinha, me fez superar um medo que eu não sabia que tinha: de estar sozinha com a natureza. Foi um momento de entrega, reflexão e acima de tudo superação. Quando vi que não sentia mais medo de estar sozinha, decidi voltar para a Pousada. 

Ali mesmo, caminhando foi que pensei, se posso motivar amigos e familiares a viajar comigo, por que não motivar brasileiros a viajar para África e países da Diáspora? Senti que era um chamado. E dali decidi lançar o Grupo 2019, que me permitiu voltar a Moçambique com pessoas desconhecidas, que simplesmente foram tocadas por minhas histórias e vivências de viagens. O Grupo 2020 aconteceu em março em Cartagena na Colômbia, pouco antes da pandemia alastrar, mesmo em um cenário de futuro incerto, nosso grupo viveu momentos tão maravilhosos, que quase todos os dias compartilhamos fotos e vídeos sobre quão felizes estávamos apesar de as sombras das incertezas estarem na porta. E logo que a viagem encerrou, as janelas do mundo foram fechadas pela quarentena. O que fica? A gratidão em perceber que minha história pode ajudar pessoas a superarem medos e a ver quão belo, complexo e diverso o mundo é. Sejam elas físicas ou mentais, viajar é sobre superar fronteiras. Cruze as tuas!

 Viagem Destino Afro para Cartagena na Colômbia 2020 - Mulher negra viajante que inspira
Viagem Destino Afro para Cartagena na Colômbia 2020

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O Coronavírus no continente Africano

Quem vôs escreve este texto é Rebecca Alethéia, enfermeira, infectologista e mestre em ciências da saúde, mas não quero colocar o ponto de vista de uma especialista do coronavírus porque neste exato momento sou uma mulher negra viajante, sozinha pelo continente Africano e quero falar nesta perspectiva de viajante pelo mundo.

Após 1 ano de voluntariado em Moçambique e viajando por países da África Austral, decidi revisitar outros países (África do Sul) assim como conhecer novos (Malawi, Tanzânia, Ruanda, Uganda, Quênia e Etiópia).

Com tudo que tem acontecido no mundo, parece que estou fora dele neste exato momento, não há pânico, medo, quarentena. Vos escrevo diretamente da Tanzânia em Zanzibar, precisava procurar um lugar em paz e para definitivamente tirar minhas férias uma vez que provavelmente não tenho muito para onde correr.

Zanzibar - 25 de março. O Coronavírus -19 no continente Africano
Zanzibar – 25 de Março de 2020 O Coronavírus -19 no continente Africano

Falar de um continente e neste caso o africano e de uma pandemia denominado coronavírus em geral é delicado, pois como sabemos ou deveríamos saber a África possui 54 países e é dividida em África do Norte que é designada como a “África Branca” (Argélia, Egito, Libano, Marrócos, Saara Ocidental e Mauritânia) e África Negra ou subsaariana composta por 47 países África do Sul, Angola, Benin, Botsuana, Burkina Fasso, Burundi, Camarões, Cabo Verde, Chade, Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Guiné Equatorial, Eritreia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Ilhas Comores, Lesoto, Libéria, Madagascar, Malauí, Mali, Mauritânia, Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Quênia, República Centro-Africana, Ruanda, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.

Quero trazer algumas reflexões das minhas percepções de que como ainda possamos ter países onde os casos sejam Zero ou menores de 100 casos continente Africano? Quando pensamos em  números de óbitos esses números também são menores comparado a outros países ao redor do mundo?  E novamente nos remetemos essa disparidade aos países África Subsaariana, a África Negra.  (dados do dia 26/04/2020.)

A segunda reflexão é saber que na África do Norte (5 países), contabilizam mais de 12. 480 casos confirmados da doença e 918 óbitos, o que somando toda a África Subsaariana (47 países) arredondo para um montante de 382 casos, sendo 87 desses casos da África do Sul, e porque eu destaco a áfrica do Sul, pela população não negra vivendo no país. ( Dados do dia 19/03/2020), é uma discrepância quando se falar no mesmo continente, não acha? Mais uma vez estamos diante da questão racial.

Gosto de trazer a reflexão referente aos países do continente africano quando temos a grande circulação de Chineses, há quem diga que são os novos colonizadores da África, desde 1990 sua entrada tem tido uma ascensão e  2013 quando se tornou o parceiro econômico da África de países como Botsuana, Gana, Nigéria, Angola, Quênia, Madagascar, Namíbia, Tanzânia, África do Sul, Zâmbia Zimbábue e Djibuti, todos esses localizados na África Subsaariana, região que se concentra grande parte do investimento chinês. Acredito que não restam dúvidas da grande circulação, moradores e trabalhadores chineses em África, assim como turistas, viajantes de continente americano e europeus ao redor de África, o local onde o aumento do turismo foi mais de 40% nos últimos anos.

Outra questão que considero importante refletirmos sobre “casos ZERO”, é pensar que não há capacidade de diagnóstico em muito desses países, sabemos a escassez de recursos que existe em alguns países africanos e laboratórios de ponta. Não acredito que não sejam capazes de diagnosticar, não estou dizendo isso, mas sabemos a precariedade que os serviços públicos têm de acessarem tecnologias e neste caso laboratório para confirmação diagnóstica. São os serviços públicos que devem traçar resposta de emergência e atuar frente a uma epidemia. Existem serviços privados na África, porém quando eles não conseguem dar resposta a muitas doenças e são os serviços públicos que devem dar uma resposta rápida e eficaz. E os serviços muitas às vezes não são gratuitos.

Caso Zero pelo fato de as pessoas serem a sua maioria jovem? Boa parte da população africana é menor de 60 anos, o que é comum encontrarmos um maior número da população idosa no cenário asiático, europeu e americano, porém em África também tem as tais comorbidades o que não exclui tal acometimento severo à esta população assim como as vivendo com HIV/AIDS, tuberculose, malária.

 Atravessei 3 fronteiras de países do continente africano e estive em 4 países no período de incertezas sobre o novo coronavírus, porém a calma e tranquilidade comparada ao que vejo na televisão de outros países, é dizer que estamos em completa paz por aqui. Os supermercados não têm escassez de produtos, encontro dificuldade de achar álcool em gel que só é comercializado nas farmácias, não porque não tenha, mas pelo fato de realmente não trabalharem com estoque. Mas sempre dizem: volte amanhã que terá, ou seja, não há falta no país.

As rotinas diárias seguem como nada estivesse acontecendo, e fico perguntando como isso pode acontecer? Perguntar ao garçom, motoristas de táxi, ao recepcionista de hotel, médicos do país. Não há respostas, o que compreendo é que para muitos dos países do continente africano o viver é hoje, esses países sempre foram e são assolados com epidemias – cólera, ebola e a pandemia de HIV/AIDS, H1N1 e agora Coronavírus. Não precisamos dizer a resistência e existência quando o assunto é epidemias e pandemias não é mesmo?

O Coronavírus -19 no continente Africano - Alunos malawianos 15 de março quando a pandemia já tinha sido anunciada
O Coronavírus -19 no continente Africano – Alunos malawianos no restaurante na capital foto do dia 15 de março

Home-office e quarentena, como traduzir tais recomendações da Organização Mundial da Saúde para o continente africano? Quando a população vive da sua agricultura local e dos pequenos negócios? Como trabalhar de casa para não disseminar o vírus, como sustentar a família uma vez que a renda só dá para alguns dias? Onde está o dinheiro para fazer estoque de reserva e onde se estocar o mantimento é meio irônico tais recomendações como se pensar meios de adequação para tal?

Vendedor informal no Malawi - O Coronavírus -19 no continente Africano
Vendedor informal no Malawi – O Coronavírus -19 no continente Africano

Outro fato importante são os recursos de água e sabão para higiene das mãos, comunidades e grandes centros e serviços de saúde e espaços públicos onde temos a escassez de água?    

O que pensar enquanto estrangeira na África Subsaariana, confesso que fui bem tratada, quando não havia mais turistas nos países, não sofri qualquer discriminação por ser estrangeira ou proibida de entrar em hotel, Airbnb muito pelo contrário, eu era vista como a potencial consumidora e fonte de renda mesmo que fosse para auxiliar 1 família, cada compra era um lucro para aquela população. Por incrível que pareça mesmo as fronteiras sendo fechada eu recebia convites de uma comunidade de Uganda para trabalhar como voluntária.

Otimista que sou, a experiência em contenção de disseminação do ébola em países africanos me dão a grande certeza de que sim, é possível países africanos conseguirem ter estratégias de controle de disseminação, gosto de pensar sobre.

Aproveito este período para recomendar que assistam o filme nigeriano 93 Days, disponível no Netflix, que retrata a história de como a Nigéria atuou para salvar 21 milhões de vidas contra um surto de Ébola em 2014 com exemplo de sucesso, um filme que vale a pena ser visto ou revisto. Deixo o trailler do filme

Assim como um texto do que produzi sobre Coronavírus o que fazer durante a viagem e o aumento do dólar.

https://www.worldpackers.com/pt-BR/articles/coronavirus-aumento-dolar-viagem

Como ir para a Suazilândia de Maputo

https://rebeccaaletheia.wixsite.com/rebecca/post/como-ir-de-maputo-a-eswatini-de-machimbombo-ou-van-ou-%C3%B4nibus

Reserva Mantenga - Reino de Eswatini - Suazilandia
Reserva Mantenga – Reino de Eswatini – Suazilandia

Em minhas idas e vindas para Maputo, capital de Moçambique, sempre via no mapa o país Reino de Eswatini, antiga Suazilândia, buscava por informações entre conversas e panfletos, de como chegar e quando ir, não eram tão fáceis de encontrar… E sempre vinha na minha mente, devo me arriscar .

Há agências de viagem que fazem day trip (bate e volta), mas não me adaptava ao roteiro e queria ir para a estrada, chegar como as pessoas que moram por lá chegavam.

Após a minha experiência eu quer compartilha tudinho com vocês, e são elas: existem duas opções para chegar ou de van ou de transporte público até a fronteira e depois é só pegar uma van até a capital.

Quanto custa atravessar a fronteira Suazilandia via Maputo?

A passagem de Van custou R$25,00, oi??? Isso mesmo para ir de uma capital à outra custava 90 Rands. A van só sai após encher o carro, isso significa que você poderá esperar uma eternidade 2 a 4 horas, considere que você irá esperar e muito comum e normal. Como as pessoas já sabem que só enche lá pras 11horas elas esperam 10:50 pra sair de casa com direito de pedir para motorista ligar quando estiver saindo.

Outra dica importante é que eles vão ficar segurando os passaportes para garantir o seu lugar. Talvez você terá receio de entregar, tive, mas depois compreendi como funcionava e fiquei mais tranquila e até ele já sabia que eu era uma estrangeira cheia de manias e mil recomendações de segurança.

Você também pode pegar uma van no terminal rodoviário Transfala, a oralidade é algo que você encontrará em Moçambique, ou seja, todas essas informações parecem uma escrita de pessoa maluca, que você não entenderá nada, mas fará muito sentido na pártica. Pergunte onde fica o terminal de ônibus de Maputo localizado na Baixa, as pessoas irão te ajudar.

Outro jeito de ir é de transporte público, viva eles existem!!! Porém saem por volta das 6 da manhã na frente do terminal de trem de Maputo, deixa em uma cidade e depois você deverá fazer baldeação, eu não lembro o nome das cidades porém em breve atualizo e o total foi R$4,00 até a fronteira e depois lá pega uma van de 70 Rands que deixa na capital.

Um mês depois fiz esse roteiro de transporte público e embarquei pela Baixa da cidade, quer dizer, fui até lá, cheguei 5:30 (tinha aprendido a lição de chegar cedo), porém o motorista da van me confirmou que só consegue encher às 11h da manhã ou no mínimo às 10 da manhã. Isso significa que há de esperar. Mas os rapazes que trabalham no terminal me deram outra alternativa de ir roots, ou seja, de transporte público (ônibus/auto carro) até a fronteira. Eles me deixaram dentro do ônibus municipal, a minha dica é vá lá e peça aos seguranças essa orientação de como ir até à fronteira Naamacha.

Quanto tempo de viagem?

A viagem pode demorar no mínimo 3 horas (depende de onde vai descer…) as vans vão direto e tem que passar pela fronteira.

De onde sai os Machibombo / Van?

Eu posso te garantir que essa foi uma das respostas mais difícil de encontrar mesmo eu estando em Maputo. Disseram que eu deveria ir para a Junta, um terminal de ônibus/vans que fica bem afastada da cidade, se informe porque a maioria dos ônibus/machibombo passam por lá e sai por 10 meticais o equivalente à R$0,60; se for de taxi vai ser o equivalente à R$36,00, ou seja, 600 meticais. Pasmem, é verdade o taxi para circular dentro da cidade é mais cara do que você viajar para outro país! Então vale a pena ir de ônibus/machibombo e as linhas locais passam a todo minuto. Foi aqui que eu paguei R$25,00 na van e demorou mais de horas para sair

Descobri apenas quando estava na eSwatini que tem vans que saem da Baixa da cidade, ou seja, dentro da cidade e não precisa dar essa volta toda pela cidade. Talvez o preço tenha uma diferença de 10 meticais da passagem, mas é mais perto.

Horário de partidas

Como dito anteriormente, as vans só saem se estiverem cheias, ou seja, você pode esperar muito, então a dica é chegue cedo aos pontos de partida, 5:30 da manhã é o melhor horário, porque assim você vai na primeiro carro. Mas se você chegar atrasada e estiver animada, tem rapazes que passam fazendo as unhas com desenhos e tudo e acompanha toda a vida no terminal da cidade. Eu esperei 5 horas, eu cheguei as 6:45; ainda paguei 2 passagens extra e fizemos vaquinha para que a van saísse mesmo sem o número total de passageiros, mas com o número de pagantes.

Fronteira e visto

Brasileiros não precisam de visto. Que ótima notícia #PARTIUeSWATINI!

Super Dica: você também pode ir de Johanesburgo para eSwatini, mas sinceramente não sei detalhes de preços, mas é muito comum, possível e fácil. E você pode ir de Eswatini até Moçambique ou Africa do Sul – Johanesburgo, tem transporte diários a saída e chegadas são de Manzini.

Espero que você arrisque e me conte, ou quem sabe eu faça essa rota!

O que fazer em eSwatini?

Bom, isso deixo para próxima postagens

Leia também:

Medo da Imigração – um texto de Rebecca Alethéia
Rebecca Alethéia fala de gastos e custos de um mochilão por 6 países da África Austral

https://www.site-antigo.bitongatravel.com.br/destaques/gastos-e-custos-de-um-mochilao-por-6-paises-da-africa-austral/

Crônica – “Aonde meus pés me levarem”

Crônica de Valéria Lourenço

Sara levantou-se correndo, com medo de ter despertado tarde demais e perdido o voo, afinal, havia organizado aquela viagem com tanto cuidado durante um ano que não podia acreditar que, por conta de uma falha no despertador do celular, iria ver todos os seus planos correndo entre seus dedos.

O alarme, na verdade, era o anúncio da mensagem recém-enviada por Nando, que, desde a noite anterior, tornara-se seu ex-namorado: “Mulheres que viajam sozinhas só podem ser loucas”, dizia o texto. A primeira reação de Sara foi soltar uma gargalhada bem alta, depois veio o receio… E se ele estivesse certo? Loucura, para muitos, ainda era um sinal de que havia algo errado a ser consertado, fora da norma, do padrão estabelecido pela sociedade. Desvio. Quebra de regras. Mas, e se justamente esse fosse o único jeito feliz de se viver? Bem, Sara não tinha tempo para grandes reflexões, precisava terminar de ajeitar a bagagem e seguir para o aeroporto. 

Ao todo, foram dez horas dentro de uma aeronave cruzando o Atlântico e o Índico entre Brasil e Moçambique. Nunca em sua vida percorrera um caminho tão longo. Preferiu dormir para que o tempo passasse com um pouco mais de velocidade. 

Desembarcando em terras nem assim tão firmes, logo se apressou para chegar ao ponto de onde partiria o machimbombo para seu destino final. Mais seis horas pela estrada e lá estava ela, somente com um leve vestido vermelho para proteger o corpo, pisando as areias finas de uma praia quase deserta. 

Ainda parecia não acreditar no que via. O primeiro contato visual com a imensidão do mar sempre pode surpreender os olhares desavisados ou tão acostumados com paisagens nem assim tão belas. Sara estava em uma espécie de êxtase ao admirar aqueles tantos tons de azuis e a pensar no quanto havia sonhado estar ali.

Com pouco mais de quatro décadas de vida, dois filhos na bagagem e alguns relacionamentos desfeitos, essa era sua primeira viagem sozinha. Quando curiosos perguntavam qual seria o destino dessa “louca aventura”, ela teimava em responder: “Estou indo aonde meus pés me levarem”.  E, assim, escolheu a África como destino. Muito mais do que um pensamento sobre um continente com tanta história, tratava-se de uma ligação marcada pela cor da pele e pelo sentimento de pertencimento àquela terra.

Sentou-se na areia e perdeu a noção do tempo observando o vaivém das ondas do Índico.  Enquanto a noite se avizinhava, iniciou uma caminhada ao longo da praia, tocando, de vez em quando, os pés na água e agradecendo à Iemanjá por aquele momento.

O lugar era muito simples, não havia restaurantes chiques ou grandes casarões por perto, somente pequenas cabanas de palha e um bar que estava aberto naquele momento. Ela decidiu se arriscar, de novo e, adentrou o recinto. Os olhares masculinos a acompanhavam. Curiosos como se não pudessem acreditar no que viam: uma mulher sozinha, corpo úmido, carregava as sandálias nas mãos e parecia não se importar com ninguém ao redor. Caminhou até o balcão, pediu uma cerveja bem gelada e sentou-se à mesa aproveitando a brisa do mar e o som ambiente. Os homens, sempre tão corajosos e seguros de si, chegaram oferecendo “a melhor companhia da noite”. Sara, sempre com um leve sorriso no rosto, balançava a cabeça em tom negativo e dizia que aquela noite pertencia já estava dedicada a alguém muito especial. Em um misto de timidez e coragem, dançou sozinha duas músicas de Oliver Ngoma que embalaram a morna noite. E, finalmente, quando todos correram para perto da praia para acompanhar os poucos fogos de artifício que anunciavam a chegada de mais um novo ano, ela segurou o copo firme entre as duas mãos e levou-o ao céu brindando sua própria existência.

Crônica escrito pela Professora Valéria Lourenço Escritora poeta e professora de língua portuguesa e literaturas no IFCE – Campus Crateús.

Valéria Lourenço - escritora da Crônica - Aonde meus pés me levarem
Valéria Lourenço – escritora da Crônica – Aonde meus pés me levarem


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Deseja aparecer por aqui? Envie a sua crônica para bitongatravel@gmail.com

10 dicas imperdíveis para viajar pela África Austral

Se viajar pela África é o seu sonho, Rebecca Aletheia, compartilha 10 dicas que irão dar-lhe razões de sobra para te inspirar a realizar de uma forma que nem imagina. 

Em primeiro lugar, antes todas as dicas preciso dizer quais são os países que fazem parte da África Austral. São eles: África do Sul, Angola, Botsuana, ESwatini/Suazilândia, Lesoto, Madagáscar, Maláui, Moçambique, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué.

1 — Visto 

Brasileiros dispensam de visto para entrar na África do Sul, Botsuana, Reino de ESwatini/Suazilândia e Namíbia, assim como podemos ficar até 90 dias.

Em relação aos demais países é possível tirar o visto na entrada do país, ou seja, nos aeroportos e fronteiras terrestres. 

2 — Viajar por 2/3 países na mesma viagem

Ao mesmo tempo, uma dica ouro, é possível viajar mais de 2 países da África Austral na mesma viagem. Não vou estender-me nos roteiros, mas deixo aqui uma leve ideia do que é poderá fazer, são eles:

África do Sul, Moçambique, Reino de Eswatini

Uma viagem por Joanesburgo, Kruger Park, Maputo, Mebabane e Lombaba; é um roteiro possível e magnífico.  Vivenciar as diferenças e similaridades perceptíveis pelas roupas tradicionais e línguas locais entre esses países traz a possibilidade de ver a migração dos povos zulu.

Rebecca ALethéia na ferroviária de Maputo - Viajar pela África Austral
Rebecca ALethéia na ferroviária de Maputo – Viajar pela África Austral

Essa viagem é possível via agências de turismo assim como de forma independente de ônibus, autocarro ou vans.

África do Sul e Namíbia

Um roteiro bem realizado nos últimos anos por carro saindo de Cape Town sendo possível visitar boa parte da Namíbia, ou seja, uma viagem pelo deserto africano regado de muita cultura e um país não muito explorado pelos turistas. É possível encontrar agências de viagem fazem esse passeio. 

 Rebecca ALethéia na Victória Falls Zambia - Viajar pela África Austral
Rebecca ALethéia na Victória Falls Zambia – Viajar pela África Austral

África do Sul e Lesoto

Joanesburgo, Pretoria e Lesoto — Um roteiro pouco realizado pelos viajantes, mas é possível ir para Lesoto e uma rota comum de carro pelos sul africanos.

Zimbabué, Botsuana e Zâmbia

Na região das Cataratas Vitórias é possível visitar os 3 países, pois são muito próximos, Zâmbia e Zimbabué dá para cruzar a fronteira caminhando, contemplando e sentindo toda a atmosfera da Victória Falls. 

Rebecca ALethéia na Victória Falls Zambia – Viajar pela África Austral

3 — Clima de inverno é possível

Engana-se quem pensa que na África só existe calor extremo, vou dizer-te que é possível passar frio por esses países, ou seja, é possivel encontrar neve em Lesoto devido a sua altitude, nos meses de maio a agosto tem mínima de -1 °C e máxima de 15 °C.

Nesta mesma época a temperatura não é diferente nos países ao redor, Zimbabué mínimo 8ºC e máxima de 22 ºC; ESwatini/Suazilândia o clima é entre 6 °C a 23ºC ; África do Sul de 2ºC a 26 °C.

4 — Festivais de música

Todos os países da África Austral contam com festivais musicais incríveis e muito bem organizados com infraestrutura de primeiro mundo, ocorrem em épocas diferentes e há uma movimentação enorme para estar presente e poder ouvir excelentes artistas. Deixo aqui alguns links do website desses festivais.

Rebecca Aletheia no Festival Bush Fire – Reino de Eswatini

Bush Fire

O maior festival de música da África ocorre todos os anos em ESwatini vem pessoas do mundo inteiro para apreciar e poder vivenciar a tradição do festival, vale muito a pena esse festival! https://www.bush-fire.com/

Azgo

Festival de arte e cultura com um forte enfoque em artistas de Moçambique e de todo o continente africano. Me surpeendeu do começo ao fim, ou seja, se programe para ir neste festival! https://www.azgofestival.com/

Deixo aqui um relato e um vídeo que pude produzir este ano no festival.

https://rebeccaaletheia.wixsite.com/rebecca/post/azgo-let-s-go-na-mafalala-2019

Rebecca Aletheia no 9º Festival Internacional de Arte e Cultura em Moçambique

Maletsuanyane Braai

Acontece em Lesoto mais especificamente próximo às cachoeiras Maletsunyane, sim na catarata que foi certificada pelo Guiness como o maior rappel de gota única, operado comercialmente pelo mundo.  https://www.maletsunyanebraaifest.co.ls/

Lake of Stars

Este festival ocorre no Malawi ao redor do lago Malawi, e não há melhor combinação para uma só festa entre música, lago e cultura africana. https://lakeofstars.org/

5 — É possível viajar sozinha

Tomar a decisão de viajar sozinha é sempre uma grande e corajosa decisão. E uma das primeiras perguntas ao escolher o local é, este local é seguro para viajar sozinha? Para realizar essa viagem a “sós”, vou dizer-lhe que essa palavra a sós não existe, porque o espírito de coletividade e ajuda mútua é vivo em África. Porém, cuidado e cautela cabem em todos os lugares. 

  Rebecca ALethéia em Vilankulos Moçambique - Viajar pela África Austral
Rebecca ALethéia em Vilankulos Moçambique – Viajar pela África Austral

Bem como, deixo aqui um relato do meu mochilão viajando sozinha por 6 países da África Austral

6 — Língua oficial Português ou Inglês

Países como Angola e Moçambique tem o português como língua oficial, ou seja, o que facilita muito aos não falantes de inglês. 

Os demais países da África Austral é o inglês. Assim como, em muitas cidades irão encontrar o idioma de cada província, região, vilarejos. Porém a língua predominante é o inglês ou o português dependendo do país (Angola e Moçambique). 

7 — Imersão cultural

De antemão, a imersão na cultura africana é algo que acontece naturalmente! Assim como, imergir na riqueza cultural gastronómica, danças, músicas, pinturas, cerimonias e rituais são momentos que precisam e devem ser vividos.

Rebecca ALethéia em Chikawa Malawi de grupo de apoio de Mulheres
Rebecca ALethéia em Chikawa Malawi de grupo de apoio de Mulheres – Viajar pela África Austral

Cada país tem a sua própria cultura e arte, vale ressaltar a importância do respeito, assim como pedir licença para participar, assistir, filmar, fotografar.

Muitos ritos têm muito significado aos ancestrais, espíritos e para as comunidades. Conhecer a história do berço da humanidade, assim como, compreender o processo de imigração, escravização dos povos africanos é poder está disposto a trocar e aprender lições para a vida que talvez nunca foram contadas na escola.  

8 — África é Rica 

A África além de riqueza cultura, de pessoas afetuosas, do espírito mútuo, da coletividade e obviamente das riquezas naturais. É possível encontrar um país rico em desenvolvimento em muitas áreas.

As capitais são muito desenvolvidas assim como as Províncias/Estados possuem poder possibilitando autonomia nas suas fontes de renda e desenvolvimento local.

É possível encontrar pessoas com ótimas condições de vida. Um exemplo prático que gosto de compartilhar, África do Sul, por exemplo, em algumas cidades são possíveis encontrar UBER assim como Moçambique, app de táxi.

Hotel Emerson Spice - em Zanzibar - Tanzania
Hotel Emerson Spice – em Zanzibar – Tanzania

Os países têm buscado acompanhar o desenvolvimento mundial. 

9 — Previna-se contra a Malária

Em primeiro lugar, é importante lembra malária é endémica na maioria desses países! Então, já anote, repelente nunca é D+, é aquele amigo para todas as horas e obviamente procure repelentes específicos para viagens.

Outra dica importante é beber a água tônica com quinina. Que nada mais é um alcaloide de gosto amargo que tem funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas, há estudos e relatos que a ingestão de uma lata diária previne malária, sendo assim, não custa acreditar. 

Outra dica importante, caso a sua viagem seja maior 30 dias, há quem arrisque o uso da profilaxia antimalária. Mas lembre-se é importante sempre conversar com o seu médico sobre essa opção. 

Ao mesmo tempo, se contrair malária é o seu maior medo para não viajar à África. Vou dizer-lhe que temos a Dengue no Brasil, que também mata se não tratada em imediato assim como a malária. Muitos desses países têm sistema de saúde excelente e com profissionais muito bem qualificados, África do Sul e Angola.

10 — Beleza Natural 

África e os seus encantos! Quando viajamos queremos lugares paradisíacos, lindos, certo? E se possível na sua maior diversidade que são montanhas, praias, lagos, savana, cachoeiras, cataratas e deserto.

Há atividades para todos os gostos assim como a junção destes no mesmo local. Fazer a combinação de beleza natural com os esportes radicais são muito comuns assim como o maior Bungee Jump de ponte do mundo na ponte Bloukrans. A Victoria Falls, maior catarata e atração turística da África Austral. 

Rebecca Alethéia e Sonia Regina (mãe) viajando por Moçambique na Ilha de Moçambique
Rebecca Alethéia e Sonia Regina (mãe) viajando por Moçambique na Ilha de Moçambique

O tal Safari e passeios marítimos

O safari sempre está entre as atividades mais famosas pelos seus belos animais da selva. Existe a possibilidade de ser feitos na maioria dos países citados, mas destaco 3 são eles: o Kruguer Park (África do Sul), Chope Nacional Park e/ou Okavango Delta, (Botsuana) Gorongosa (Moçambique) são alguns dos lugares desfrutar na África Austral.

Assim como, tem-se a possibilidade de ver pinguins, focas, tubarões e as baleias que no mês de julho encantam os mares do sul ao norte da costa do oceano índico.  Indico um mergulho na praia do Tofo em Moçambique é de tirar o folego.

Safari em Botsuana - Sinceramente um dos mais lindos que já vivenciei na vida
Safari em Botsuana – Sinceramente um dos mais lindos que já vivenciei na vida

Espero que essas dicas tenham sido importante para que possa realizar o seu sonho de viajar pela África e neste caso a Austral ou simplesmente entrar na sua lista dos sonhos. 

Por fim, te convido a acompanhar os destaques do instagram sobre esses países no meu instagram Rebecca Aletheia.

Ser Mulher é Ser Manacage

Vamos de poesia? Viajemos pelo universo poético de mulheres negras africanas e poeta. Uma poesia diretamente da cidade de Quelimane, feita por Fátima Abel de Matos

Manacage é a força da natureza

Manacage traz consigo as virtudes da vida

Tu Manacage Lutaste Pela Liberdade

Aqueles que hoje a humilham, não sabem o quanto custo a própria liberdade

Manacage é Ancestralidade

Manacage tu és o elemento Importante na Diversidade

Manacage és a Força viva de se tracejar

Manacage tens uma alma pura condenada em deixar o Próprio véu rastejar

Hoje te tornaram uma Manacage na desgraça nua

Os teus traços lindos perdidos na lua

Não sabes o quanto retardaste a minha Idade

Ah então é assim, nos dias de hoje faz-me perder credibilidade 

No meu ventre te tornei um embrião

 Ainda deixas mi dormir sem colchão

Porque a minha luz o incomoda é mi colocas no chão

Sou Manacage forte como a montanha, com um coração do tamanho do mar

Acolhedora como a mamã africa, aquela que acolhe todos quando a te chegar

Manacage tu és o símbolo da Humanidade.

Autora ꓽ Fátima Matos

Fatima Abel Matos, nasceu aos 10 de novembro de 1994 na cidade de Quelimane Província da Zambézia – Moçambique.  Formada na área de educação de infância e empreendedorismo. Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras da Zambézia e Associação Raparigas+Visão. Trabalha no Departamento de Recursos humanos, exercendo a função como Técnica de RH na Universidade Católica de Moçambique /Quelimane, também é produtora do arroz orgânico na Zambézia, Ativista social, atualmente frequenta o 4 º ano no curso de Gestão de Recursos humanos na Faculdade de Ciência Sociais e Politica-UCM. Participou em 2019 na coletânea Internacional Intitulada “Mulher e os Seus Destinos “com uma Antologia de Poesia “Ser Mulher”, recentemente no Mês de Fevereiro de 2020 Participou na coletânea Nacional Intitulada “Poemas e Cartas Ridículas de Amor” com uma Antologia “Quero Construir.”                               

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Mochilão sabático em Alter do Chão

Mulheres negras por elas mesmas – 3 Negras viajantes que inspiram

Mulheres negras por elas mesmas – 3 Negras viajantes que inspiram, a história de Dona Elza (mãe), da Odara (filha) e da Andreza Jorge do complexo da Maré para o mundo.

Hoje faz exato um mês que eu Andreza Jorge passei o primeiro dia em uma viagem internacional com minha mãe e minha filha.

Pra muitos esse feito talvez não signifique nada e tudo bem… acho estranho também isso significar tanto pra mim, mas a realidade é que tenho 31 anos de idade e já viajei internacionalmente 5 cinco vezes e todas elas tiveram a ver com minha trajetória e empreitada profissional depois dos 20 anos de idade, nunca foi por lazer simplesmente, como já vi acontecer por aí…


Minha mãe Elza Jorge tem 62 anos e foi a sua primeira viagem internacional, que só foi possível ser assim, por lazer, pq já há muitos anos trabalhou para que eu, hoje, possa viajar a trabalho.

Mulheres negras por elas mesmas - 3 Negras viajantes que inspiram Elza Jorge, Alice Odara e Andreza Jorge
Elza Jorge, Alice Odara e Andreza Jorge


No entanto, Alice Odara, com 5 anos de idade, tem sua primeira viagem internacional por lazer e ao lado de sua mãe e sua avó…


Inimaginável pensar nessa possibilidade se partir apenas de um recorte sobre minha trajetória que é marcada pelas desigualdades ao estamos inseridas… No entanto é também essa trajetória, forjada na maioria das vezes por mulheres e suas histórias que permitiram e permitem que os ciclos se renovem…


Foi preciso, mas eu desejaria profundamente que não, que Dona Tina, minha avó, não tivesse vivido em casa de madame desde sua infância até a vida adulta para criar 6 filhos, foi preciso que Dona Elza tivesse ousado romper com o ciclo de trabalho doméstico que se iniciou aos 14 anos em casa de família para conseguir outras oportunidades para criar 2 filhos e somente por isso, eu hoje acesso a lugares que sempre nos foi negado, para que Alice Odara, possa transcender a experiência única que dizem sobre seu corpo no mundo.

Alice Odara uma criança negra e favelada da Maré, experimenta e experimentará através desse ciclo e força de mulheres que nos antecede…Creio convicta.

Negras Viajantes que inspiram - Alice Odara
Alice Odara


Por isso, compartilho aqui tbm, mais uma feita, justo hj, no dia Internacional da Mulher….

Dona Tina, dona Elza e Alice Odara terão em minha vida a realização de um sonho: Ser a primeira da família a fazer um doutorado!!!


Ontem recebi a notícia de aprovação no doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ.

É a minha vida que faz a ligação entre trajetórias tão distintas como a da minha mãe e da minha filha, mas somente por elas e pelas que antes foram, que essa trajetória EXISTE.

É assim, sempre tem sido, mulheres negras por elas mesmas…somos muito além do que nos impuseram, pq nós somos circulares e sempre adiante…


Obrigada a todas envolvidas, as mulheres da minha família que entenderam o real significado da vida de Dona Tina e honram essa história partindo desse lugar de pertencimento e JAMAIS elegendo, ao votar em representantes que odeiam tudo que ela representou… Somente a esses familiares eu agradeço, aos outros eu só sinto pena msm.


Agradeço as minhas amigas que compreendem as vitórias individuais como sonhos coletivos e inspiradores…

Negras Viajantes que inspiram - Andreza Jorge, Alice Odara e dona Elza Jorge em Nova York na primeira viagem internacional
Andreza Jorge, Alice Odara e dona Elza Jorge em Nova York na primeira viagem internacional

Será muito desafiador, mas a Dona Tina merece ter uma neta doutora, a Dona Elza merece ter uma filha doutora e a Alice Odara merece ter uma mãe doutora!!!

https://www.instagram.com/andrezajorge01/

Axé e bons ventos sempre!!!

Conte sua história para gente e vamos mostra aos quatro cantos histórias de mulheres negras viajantes que inspiram.

bitongatravel@gmail.com