Em primeiro lugar, você sabe qual é o seu papel como turista responsável nos destinos que visita? Ser um turista responsável é muito mais que escolher uma hospedagem “sustentável” que utiliza painéis solares para gerar energia elétrica, ou que utiliza torneiras com acionamento por tempo determinado pra economizar água. Depois que fiz o curso Curso ‘Turismo Responsável: Tirando seu Projeto do Papel’ tive muito o que pensar a respeito do que é de fato um turismo responsável. De acordo com a definição da Organização Mundial do Turismo:
“O turismo sustentável pode ser definido como o turismo que considera as repercussões atuais e futuras, econômicas, sociais e de meio ambiente para satisfazer as necessidades dos visitantes, da indústria, de todo entorno e as comunidades anfitriãs. ”
Organização Mundial do Turismo (UNWTO)
Com o afrouxamento das restrições para viagens em decorrência do Coronavírus, muitas pessoas estão aproveitando para voltar a viajar. Carnaval está aí, apesar de adiamento dos festejos, o feriado será mantido em grande parte do Brasil e muitos destinos vão receber viajantes.
Seria turismo responsável sinônimo de boas práticas sanitárias?
Em tempos de pandemia de Covid-19, turismo responsável virou sinônimo de seguir boas práticas sanitárias para evitar que o vírus se alastre e o turista possa viajar com segurança. Mas será que é só isso? O selo “Selo de Turismo Responsável, limpo e seguro” criado em 2020, pelo Ministério do Turismo, que estabelece práticas a serem seguidas pelos estabelecimentos, é apenas um selo simbólico, sem nenhum tipo de fiscalização por parte das autoridades sanitárias do país.
Seno assim, esse contexto é importante lembrar que nem sempre o que uma marca vende é real. Existe um termo chamado “greenwashing” (lavagem ou maquiagem, verde em português) que é quando uma empresa ou uma marca se vende como sustentável, praticando ações que na realidade não impactam em nada na sustentabilidade. Na verdade, elas não estão fazendo mais que sua obrigação.
Vale lembrar que impactos ambientais não são só aqueles ligados à natureza, mas também ao social, visto que o ser humano depende da natureza para moradia e alimentação.
Um meio ambiente ruim e degradado também causa impactos negativos para as pessoas que vivem naquele local. Alguns exemplos são a falta de saneamento básico (abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto), falta de coleta de lixo e reciclagem, preço abusivo dos itens básicos de subsistência por conta de alta demanda de visitação, especulação imobiliária que expulsa os nativos de suas terras em troca de baixas indenizações. Como dizia meu professor de Geografia Aplicada ao Turismo, no primeiro semestre de curso “um lugar só é bom para os turistas, se é bom para os moradores.”
Overtourism
O overtourism é um outro problema que sofrem alguns lugares turísticos. Destinos que estão saturados, pois recebem um turismo de massa e não respeitam a capacidade de carga local, impactando diretamente na qualidade de vida na população local, que acaba vendo o turismo como um problema e não uma solução. Isso acontece mais na Europa, lugares como Barcelona e Veneza que despontam no turismo mundial em termo de visitação. Aqui na América Latina também temos esse problema em alguns atrativos, como mostra a matéria De qual overturismo estamos falando na América Latina?
É um tema complicado e delicado, porém importante que deve ser olhado com cautela, principalmente no Brasil onde o turismo em sua maior parte é feito à base de exploração.
Dessa forma, questione:
Em síntese, vamos pensar. Com relação aos destinos e serviços contratados numa viagem:
- a empresa contratada no destino gera oportunidades de emprego para população local?
- está realmente envolvida positivamente com na mitigação dos impactos ambientais locais?
- tem no seu quadro de funcionários negros, mulheres, LGBTs e deficientes?
- utiliza produtos produzidos localmente?
- promove algum tipo de turismo que envolva de forma negativa fauna e flora local sem fins de preservação?
- promove algum tipo de impacto positivo na comunidade? Oferece cursos de capacitação, oficinas de empoderamento econômico local?
- evita o desperdício alimentar e utiliza materiais reutilizáveis?
- contrata guias locais, assim se tem a certeza que a renda gerada está beneficiando economicamente a comunidade local.
Essas são apenas algumas perguntas que devemos fazer antes de viajar para um destino ou escolher um serviço turístico.
É importante termos essa consciência e entender que o turismo, apesar de um momento agradável para quem está viajando, pode sim ter consequências negativas. Muitas das quais nem imaginamos, ou seja, a responsabilidade também é nossa e devemos fazer a nossa parte.
Como ser um turista responsável?
Então aqui vão algumas dicas de como ser um turista responsável:
- Apoie a economia local comprando principalmente de pequenos empreendedores;
- Escolha agências de guias locais, que conhecem bem o lugar onde vivem;
- Visite comunidades tradicionais (aldeias, quilombos)
- Não realize turismo que promova a interação com animais ou que tenham como atrativos animais em cativeiros. Aqui neste post tem dicas de passeios com animais livres em seu habitat
- Procure programar a visita aos atrativos de forma a evitar os horários mais cheios.
- Busque atrativos fora dos tradicionais, pois estes costumam estar já saturados.
- Se possível viaje fora da alta temporada. Além de evitar aglomeração, ainda ajuda a economia local a sobreviver em períodos fora da sazonalidade.
Por fim, responda pra gente, você se considera um turista responsável? Assim como, leva em consideração algum desses fatores na hora de escolher um destino?
Juh Oliveira – Bora Descobrir
Turismóloga, Arquiteta e Urbanista e Guia de turismo. Habitante da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. Viajante pobre latinoamericana. Apaixonada por viagens, fotografia e conhecer novas culturas. Quero inspirar as pessoas a viajar e pensar no seu papel como viajante responsável, consciente de seus impactos nos locais que visita.