SalvAmor – amor de carnaval

Queridos leitores, é importante que eu diga, é textão! rs

Hoje é mais uns daqueles dias, que a gente se pergunta por qual motivos aceitamos relações abusivas e tóxicas na nossa vida. Daqueles dias que ficamos reflexivos sobre vender nossa alma pro capitalismo na ilusão de conseguir nosso lugar ao sol.

Eis que bateu uma saudade da minha trip pelo Nordeste e para amenizar as dores da alma, quero falar de amor! Quero escrever sobre a oportunidade, possibilidade e privilégio em ressignificar afetos!

Contamos o milagre, mas não o santo, então para vocês, o codinome dele é Leandro.

Conhecemos-nos em Salvador, fomos apresentados por uma amiga em comum, na fila do teatro. De longe quando o vi, pensei: “ credo, que menino nada a ver “ e cheguei a comentar com nossos amigos … Mas a vida nos surpreende, e as vezes, faz a gente comer no prato que cuspimos rapidamente – como diria minha avó rsrs

No momento que nos aproximamos e ficamos cara a cara – pensei – “ eu quero esse homem pra mim “ ! rsrsrsrs

Em tempo, assistimos a peça “ Pele Preta Mascaras brancas, se baseia em tese homônima de Frantz Fanon e é uma obra de ficção que se vale de quase todas teorias e ainda traz personagens analisadas pelo psiquiatra e filósofo. A obra fanônica se constitui numa leitura obrigatória para aqueles que discutem, estudam e lutam contra o racismo.

Pós teatro fomos jantar e para minha sorte, Leandro sentou ao meu lado, o que facilitou o contato visual, algumas trocas de olhares e uma boa conversa. De lá, fomos para a praia, ficamos no calçadão no Rio Vermelho. Em algum momento no restaurante, eu avisei meus amigos que estava interessada, que era para eles facilitarem e deixarem a gente em paz hahahaha

Assim foi feito, enquanto estávamos olhando pro mar e conversando sobre “N’’ coisas, nossos amigos nos deixaram a sós. É importante que eu diga: não criem ilusões haha pensem em duas pessoas tímidas e inseguras – o primeiro beijo demorou umas três horas para acontecer – foi uma longa noite, confesso que já estava entediada.

Ilha de Itaparica – Bahia

Mas o moço que estava ao nosso lado, paquerando outro cara, também sem sucesso, chamou a gente e perguntou o que tava faltando pro beijo acontecer – JURO, FOI BEM ASSIM E A GENTE FICOU DE CARA. Eu bem afrontosa respondi: “ Também não sei o que ta faltando, tá difícil aqui amigo “

Foi engraçado, Leandro ficou SUPER tímido e respondeu “ eu não sei se posso fazer isso “ . Entendi que naquele momento, as cartas estavam na mesa e foi quando o beijei ! Oh sorte !

Que homem carinhoso. Quanta simplicidade e humildade em uma pessoa só.

Nossa historinha de amor, durou os três meses que fiquei por Salvador.

Pela primeira vez na vida, me senti respeitada e desejada ao mesmo tempo. Pela primeira vez na vida que não me senti objetificada.

Depois de 10 anos aceitando relações destrutivas, abusivas e tóxicas, tive o privilégio em conhecer um homem – preto – em constante construção de uma masculinidade não tóxica e disposto a ouvir e dividir questões tão cruciais quanto as que nós temos.

Natal – Rio Grande do Norte

Se nosso encontro foi agradável, eu diria que a nossa primeira noite juntos, foi uma das noites mais incríveis que eu vivi em toda minha vida sexual e afetiva. Acredito que tenha sido espiritual e faço votos para que todas as mulheres tenham a possibilidade de viver isso uma vez na vida.

Desde o momento que chegamos na casa de Leandro, ele foi super atencioso e solícito. Não foi aquele cara escroto, que já chega tirando sua roupa e querendo partir para os finalmente, como se fosse um objeto que ele pega na instante a hora que bem entender. TUDO com ele funciona a base do diálogo e eu nunca tinha vivido isso antes – foi incrível conhecer e desvendar os mistérios dia após dia.

Menino Leandro é um homem intelectual, academicista, e isso desde o primeiro momento me travou muito, pois eu não acreditava estar no mesmo patamar de conhecimento e ficava me auto sabotando sobre não ser uma mulher boa o suficiente para estar ao seu lado.

Acredito fielmente que isso foi o que me fez apaixonar:

A todo instante fazia questão de dizer o quanto gostava de estar na minha Cia. Sempre que estávamos juntos dizia o quanto era especial, e o quanto me admirava pelas minhas vivencias e não por ter um diploma, um canudo para ficar ostentando status. Em momento algum me tratou com indiferença ou se sentia melhor ou superior, por seus diplomas, pelo contrario, esse assunto deu pano para manga em muitas das nossas conversas e curamos diversos traumas e medos através do diálogo acerca desse assunto.

Sensibilidade deveria ser o seu sobrenome, desde o jeito de olhar, o tato ao toque até o momento de fazer amor, talvez eu esteja exagerando, porque é isso, quando a gente recebe algo que nunca teve antes, fica meio boba e tende a criar um mundo de ilusão – mas realmente foi incrível, calmo, carinhoso.

Sempre disposto, muito cuidadoso e à todo momento perguntava se estava bom, se eu queria, o que eu queria e como queria – sem contar nas mãos de fada, no toque e no jeito de olhar singular que deixa qualquer pessoa envolvida!

Super atento a TUDO o que eu dizia, a todos os movimentos e o melhor ouvinte que eu já pude ter ao lado, interessado ao diálogo e a troca de afeto. Preocupado em agradar e em saber se estava confortável para ambos.

Em Fevereiro eu estava careca, meu cabelo tava crescendo – me sentia péssima, não conseguia ver beleza, mal olhava no espelho – ele beijava minha cabeça, fazia cafuné e dizia que também estava linda careca – foi muito importante na minha aceitação em ser uma mulher sem cabelo e em conseguir enxergar beleza para além dos cabelos longos…

Confesso, que todas as vezes que estávamos juntos, eu pedia pra Deus deixar esse homem na minha vida – e olha que eu nem sou religiosa, tão pouco, acredito num Deus, mas em algum momento, cheguei a clamar pelas forças do Universo me deixar viver mais um pouco tudo aquilo, pois tava difícil acreditar que era realidade.

Leandro é muito admirável:

Daquele que abre a porta, daquele que te busca e leva no ponto, que paga o uber para voltar para casa, daquele que manda mensagem no outro dia, que para o ônibus, deixa você subir primeiro e te aperta na cintura para você se sentir segura, que vai pro rolê com você e te deixa livre para dançar e arrastar a raba no chão sem dar piti, que enquanto você dorme, faz o café (sem açúcar porque faz mal a saúde) e trás na cama – com direito a tapioca e ovos mexidos.

E falando em cozinhar, ele fez um dos melhores feijão que já comi na vida – insistia que eu deveria comer bem porque estava viajando.

Do tipo que escolhe a playlist na hora de fazer amor, que acende vela para deixar um climão bão como diz os mineiro rs – SIM, EU FIQUEI CHOCADA A PRIMEIRA VEZ. Que faz massagem, que pede desculpa pela casa não estar organizada e por não ter chuveiro quente. Daquele que após o sexo, adora conversar, cantar, fazer palhaçada e ainda se propôs a fazer comida ou preparar algo pra comer.

Na ultima vez que nos vimos, ele abriu um vinho e não foi aquele de R$ 7 reais – sim, pontuo esse fato, porque geralmente os homens pagam um chocolate e acham que estão fazendo muito e que é o suficiente – é importante quando o homem se propõe a fazer diferente nos pequenos detalhes, é muito gostoso sentir que o outro te trata como prioridade –  a gente se sente viva. Leandroo brindou a minha viagem, a minha vida, ao nosso encontro e eu não sei se consegui agradecer à altura, na verdade, eu não consegui dizer a ele metade do que escrevo agora nesse texto.

Ilha de Itaparica – Bahia

Ele é daquelas Cia de conversa fácil, riso encantador, respeitoso, muito charmoso e sedutor, um verdadeiro homem de Wakanda. Pela primeira vez na vida, me senti contemplada, parecia que eu tinha ganhado na mega cena, eu arrisco dizer, que ganhei na mega cena do amor. Me senti realizada em entregar meu corpo, em compartilhar minha vida com alguém tão especial.

Menino Angelo ressignificou tudo e todos os relacionamentos que eu vivi nos últimos anos e me faz pensar porque nós, mulheres, aceitamos tantas migalhas, se podemos ser tratadas como Rainhas – sim, eu sei que essa história é exceção, principalmente para Mulheres Pretas e por isso, sou muito grata. Já perdi a conta de quantas vezes agradeci pela possibilidade e privilégio em viver essa história.

Se eu pudesse escolher uma trilha sonora para essa história, seria Mel Duarte – das letras mais bonitas que já ouvi e que traduz todo meu sentimento .

https://www.youtube.com/watch?v=5rOv-Nz0Jx8

Ainda há muito para ser dito sobre esse romance de carnaval, ele realmente é incrível, porém, por hoje chega e sobre a pergunta que não quer calar…

Eu vim embora para SP, ele continua em Salvador, ou seja, não ficamos juntos. Hoje ele namora e eu preferi não manter mais contato, para não viver um amor platônico hahaha

No mais, eu gostaria de deixar registrado nessa rede e para o  mundo, que por um pequeno intervalo de tempo, eu fui feliz e tive o privilégio de viver uma relação saudável e que não me permito mais viver relações abusivas.

Axé – Amém

Het Heru

Bárbara, nome de batismo, mas prefiro Het Heru, que é o mesmo que Oshum. Nome é a única coisa que o pobre tem, não é mesmo?! Sendo assim, acredito que quanto mais próximo estivermos de nossa ancestralidade, mais estaremos conectados com nossa Mãe África...

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