e são todos pretos
eles
a noite
meus irmãos
filhos
Tios
Pai
Eu
e são todos pretos
os que vieram
de uma terra escura
construir um país
e o mar vermelho ficou
e são todas pretas
minhas lembranças do passado
e são pretos meus projetos de futuro
pretas as mãos de minha mãe
de minha vó
e preto o corpo da criança
de ontem
Preta a mulher arrastada no asfalto
preto o homem espancado hoje
preto um país
branco de vergonha
amarelo de covardia
preta a letra no jornal que
escreve o linchamento
minha mão
tão preta e
amarrada
minha boca
tão preta e
amordaçada
Minhas pernas igualmente pretas
tremem de medo
E meu coração agora preto de ódio
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Escritora poeta e professora de língua portuguesa e literaturas no IFCE – Campus Crateús.