Sara levantou-se correndo, com medo de ter despertado tarde demais e perdido o voo, afinal, havia organizado aquela viagem com tanto cuidado durante um ano que não podia acreditar que, por conta de uma falha no despertador do celular, iria ver todos os seus planos correndo entre seus dedos.
O alarme, na verdade, era o anúncio da mensagem recém-enviada por Nando, que, desde a noite anterior, tornara-se seu ex-namorado: “Mulheres que viajam sozinhas só podem ser loucas”, dizia o texto. A primeira reação de Sara foi soltar uma gargalhada bem alta, depois veio o receio… E se ele estivesse certo? Loucura, para muitos, ainda era um sinal de que havia algo errado a ser consertado, fora da norma, do padrão estabelecido pela sociedade. Desvio. Quebra de regras. Mas, e se justamente esse fosse o único jeito feliz de se viver? Bem, Sara não tinha tempo para grandes reflexões, precisava terminar de ajeitar a bagagem e seguir para o aeroporto.
Ao todo, foram dez horas dentro de uma aeronave cruzando o Atlântico e o Índico entre Brasil e Moçambique. Nunca em sua vida percorrera um caminho tão longo. Preferiu dormir para que o tempo passasse com um pouco mais de velocidade.
Desembarcando em terras nem assim tão firmes, logo se apressou para chegar ao ponto de onde partiria o machimbombo para seu destino final. Mais seis horas pela estrada e lá estava ela, somente com um leve vestido vermelho para proteger o corpo, pisando as areias finas de uma praia quase deserta.
Ainda parecia não acreditar no que via. O primeiro contato visual com a imensidão do mar sempre pode surpreender os olhares desavisados ou tão acostumados com paisagens nem assim tão belas. Sara estava em uma espécie de êxtase ao admirar aqueles tantos tons de azuis e a pensar no quanto havia sonhado estar ali.
Com pouco mais de quatro décadas de vida, dois filhos na bagagem e alguns relacionamentos desfeitos, essa era sua primeira viagem sozinha. Quando curiosos perguntavam qual seria o destino dessa “louca aventura”, ela teimava em responder: “Estou indo aonde meus pés me levarem”. E, assim, escolheu a África como destino. Muito mais do que um pensamento sobre um continente com tanta história, tratava-se de uma ligação marcada pela cor da pele e pelo sentimento de pertencimento àquela terra.
Sentou-se na areia e perdeu a noção do tempo observando o vaivém das ondas do Índico. Enquanto a noite se avizinhava, iniciou uma caminhada ao longo da praia, tocando, de vez em quando, os pés na água e agradecendo à Iemanjá por aquele momento.
O lugar era muito simples, não havia restaurantes chiques ou grandes casarões por perto, somente pequenas cabanas de palha e um bar que estava aberto naquele momento. Ela decidiu se arriscar, de novo e, adentrou o recinto. Os olhares masculinos a acompanhavam. Curiosos como se não pudessem acreditar no que viam: uma mulher sozinha, corpo úmido, carregava as sandálias nas mãos e parecia não se importar com ninguém ao redor. Caminhou até o balcão, pediu uma cerveja bem gelada e sentou-se à mesa aproveitando a brisa do mar e o som ambiente. Os homens, sempre tão corajosos e seguros de si, chegaram oferecendo “a melhor companhia da noite”. Sara, sempre com um leve sorriso no rosto, balançava a cabeça em tom negativo e dizia que aquela noite pertencia já estava dedicada a alguém muito especial. Em um misto de timidez e coragem, dançou sozinha duas músicas de Oliver Ngoma que embalaram a morna noite. E, finalmente, quando todos correram para perto da praia para acompanhar os poucos fogos de artifício que anunciavam a chegada de mais um novo ano, ela segurou o copo firme entre as duas mãos e levou-o ao céu brindando sua própria existência.
Crônica escrito pela Professora Valéria Lourenço – Escritora poeta e professora de língua portuguesa e literaturas no IFCE – Campus Crateús.
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Se viajar pela África é o seu sonho, Rebecca Aletheia, compartilha 10 dicas que irão dar-lhe razões de sobra para te inspirar a realizar de uma forma que nem imagina.
Em primeiro lugar, antes todas as dicas preciso dizer quais são os países que fazem parte da África Austral. São eles: África do Sul, Angola, Botsuana, ESwatini/Suazilândia, Lesoto, Madagáscar, Maláui, Moçambique, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué.
1 — Visto
Brasileiros dispensam de visto para entrar na África do Sul, Botsuana, Reino de ESwatini/Suazilândia e Namíbia, assim como podemos ficar até 90 dias.
Em relação aos demais países é possível tirar o visto na entrada do país, ou seja, nos aeroportos e fronteiras terrestres.
2 — Viajar por 2/3 países na mesma viagem
Ao mesmo tempo, uma dica ouro, é possível viajar mais de 2 países da África Austral na mesma viagem. Não vou estender-me nos roteiros, mas deixo aqui uma leve ideia do que é poderá fazer, são eles:
África do Sul, Moçambique, Reino de Eswatini
Uma viagem por Joanesburgo, Kruger Park, Maputo, Mebabane e Lombaba; é um roteiro possível e magnífico. Vivenciar as diferenças e similaridades perceptíveis pelas roupas tradicionais e línguas locais entre esses países traz a possibilidade de ver a migração dos povos zulu.
Essa viagem é possível via agências de turismo assim como de forma independente de ônibus, autocarro ou vans.
África do Sul e Namíbia
Um roteiro bem realizado nos últimos anos por carro saindo de Cape Town sendo possível visitar boa parte da Namíbia, ou seja, uma viagem pelo deserto africano regado de muita cultura e um país não muito explorado pelos turistas. É possível encontrar agências de viagem fazem esse passeio.
África do Sul e Lesoto
Joanesburgo, Pretoria e Lesoto — Um roteiro pouco realizado pelos viajantes, mas é possível ir para Lesoto e uma rota comum de carro pelos sul africanos.
Zimbabué, Botsuana e Zâmbia
Na região das Cataratas Vitórias é possível visitar os 3 países, pois são muito próximos, Zâmbia e Zimbabué dá para cruzar a fronteira caminhando, contemplando e sentindo toda a atmosfera da Victória Falls.
3 — Clima de inverno é possível
Engana-se quem pensa que na África só existe calor extremo, vou dizer-te que é possível passar frio por esses países, ou seja, é possivel encontrar neve em Lesoto devido a sua altitude, nos meses de maio a agosto tem mínima de -1 °C e máxima de 15 °C.
Nesta mesma época a temperatura não é diferente nos países ao redor, Zimbabué mínimo 8ºC e máxima de 22 ºC; ESwatini/Suazilândia o clima é entre 6 °C a 23ºC ; África do Sul de 2ºC a 26 °C.
4 — Festivais de música
Todos os países da África Austral contam com festivais musicais incríveis e muito bem organizados com infraestrutura de primeiro mundo, ocorrem em épocas diferentes e há uma movimentação enorme para estar presente e poder ouvir excelentes artistas. Deixo aqui alguns links do website desses festivais.
Bush Fire
O maior festival de música da África ocorre todos os anos em ESwatini vem pessoas do mundo inteiro para apreciar e poder vivenciar a tradição do festival, vale muito a pena esse festival! https://www.bush-fire.com/
Azgo
Festival de arte e cultura com um forte enfoque em artistas de Moçambique e de todo o continente africano. Me surpeendeu do começo ao fim, ou seja, se programe para ir neste festival! https://www.azgofestival.com/
Deixo aqui um relato e um vídeo que pude produzir este ano no festival.
Acontece em Lesoto mais especificamente próximo às cachoeiras Maletsunyane, sim na catarata que foi certificada pelo Guiness como o maior rappel de gota única, operado comercialmente pelo mundo. https://www.maletsunyanebraaifest.co.ls/
Lake of Stars
Este festival ocorre no Malawi ao redor do lago Malawi, e não há melhor combinação para uma só festa entre música, lago e cultura africana. https://lakeofstars.org/
5 — É possível viajar sozinha
Tomar a decisão de viajar sozinha é sempre uma grande e corajosa decisão. E uma das primeiras perguntas ao escolher o local é, este local é seguro para viajar sozinha? Para realizar essa viagem a “sós”, vou dizer-lhe que essa palavra a sós não existe, porque o espírito de coletividade e ajuda mútua é vivo em África. Porém, cuidado e cautela cabem em todos os lugares.
Países como Angola e Moçambique tem o português como língua oficial, ou seja, o que facilita muito aos não falantes de inglês.
Os demais países da África Austral é o inglês. Assim como, em muitas cidades irão encontrar o idioma de cada província, região, vilarejos. Porém a língua predominante é o inglês ou o português dependendo do país (Angola e Moçambique).
7 — Imersão cultural
De antemão, a imersão na cultura africana é algo que acontece naturalmente! Assim como, imergir na riqueza cultural gastronómica, danças, músicas, pinturas, cerimonias e rituais são momentos que precisam e devem ser vividos.
Cada país tem a sua própria cultura e arte, vale ressaltar a importância do respeito, assim como pedir licença para participar, assistir, filmar, fotografar.
Muitos ritos têm muito significado aos ancestrais, espíritos e para as comunidades. Conhecer a história do berço da humanidade, assim como, compreender o processo de imigração, escravização dos povos africanos é poder está disposto a trocar e aprender lições para a vida que talvez nunca foram contadas na escola.
8 — África é Rica
A África além de riqueza cultura, de pessoas afetuosas, do espírito mútuo, da coletividade e obviamente das riquezas naturais. É possível encontrar um país rico em desenvolvimento em muitas áreas.
As capitais são muito desenvolvidas assim como as Províncias/Estados possuem poder possibilitando autonomia nas suas fontes de renda e desenvolvimento local.
É possível encontrar pessoas com ótimas condições de vida. Um exemplo prático que gosto de compartilhar, África do Sul, por exemplo, em algumas cidades são possíveis encontrar UBER assim como Moçambique, app de táxi.
Os países têm buscado acompanhar o desenvolvimento mundial.
9 — Previna-se contra a Malária
Em primeiro lugar, é importante lembra malária é endémica na maioria desses países! Então, já anote, repelente nunca é D+, é aquele amigo para todas as horas e obviamente procure repelentes específicos para viagens.
Outra dica importante é beber a água tônica com quinina. Que nada mais é um alcaloide de gosto amargo que tem funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas, há estudos e relatos que a ingestão de uma lata diária previne malária, sendo assim, não custa acreditar.
Outra dica importante, caso a sua viagem seja maior 30 dias, há quem arrisque o uso da profilaxia antimalária. Mas lembre-se é importante sempre conversar com o seu médico sobre essa opção.
Ao mesmo tempo, se contrair malária é o seu maior medo para não viajar à África. Vou dizer-lhe que temos a Dengue no Brasil, que também mata se não tratada em imediato assim como a malária. Muitos desses países têm sistema de saúde excelente e com profissionais muito bem qualificados, África do Sul e Angola.
10 — Beleza Natural
África e os seus encantos! Quando viajamos queremos lugares paradisíacos, lindos, certo? E se possível na sua maior diversidade que são montanhas, praias, lagos, savana, cachoeiras, cataratas e deserto.
Há atividades para todos os gostos assim como a junção destes no mesmo local. Fazer a combinação de beleza natural com os esportes radicais são muito comuns assim como o maior Bungee Jump de ponte do mundo na ponte Bloukrans. A Victoria Falls, maior catarata e atração turística da África Austral.
O tal Safari e passeios marítimos
O safari sempre está entre as atividades mais famosas pelos seus belos animais da selva. Existe a possibilidade de ser feitos na maioria dos países citados, mas destaco 3 são eles: o Kruguer Park (África do Sul), Chope Nacional Park e/ou Okavango Delta, (Botsuana) Gorongosa (Moçambique) são alguns dos lugares desfrutar na África Austral.
Assim como, tem-se a possibilidade de ver pinguins, focas, tubarões e as baleias que no mês de julho encantam os mares do sul ao norte da costa do oceano índico. Indico um mergulho na praia do Tofo em Moçambique é de tirar o folego.
Espero que essas dicas tenham sido importante para que possa realizar o seu sonho de viajar pela África e neste caso a Austral ou simplesmente entrar na sua lista dos sonhos.
Por fim, te convido a acompanhar os destaques do instagram sobre esses países no meu instagram Rebecca Aletheia.
Vamos de poesia? Viajemos pelo universo poético de mulheres negras africanas e poeta. Uma poesia diretamente da cidade de Quelimane, feita por Fátima Abel de Matos
Manacage é a força da natureza
Manacage traz consigo as virtudes da vida
Tu Manacage Lutaste Pela Liberdade
Aqueles que hoje a humilham, não sabem o quanto custo a própria liberdade
Manacage é Ancestralidade
Manacage tu és o elemento Importante na Diversidade
Manacage és a Força viva de se tracejar
Manacage tens uma alma pura condenada em deixar o Próprio véu rastejar
Hoje te tornaram uma Manacage na desgraça nua
Os teus traços lindos perdidos na lua
Não sabes o quanto retardaste a minha Idade
Ah então é assim, nos dias de hoje faz-me perder credibilidade
No meu ventre te tornei um embrião
Ainda deixas mi dormir sem colchão
Porque a minha luz o incomoda é mi colocas no chão
Sou Manacage forte como a montanha, com um coração do tamanho do mar
Acolhedora como a mamã africa, aquela que acolhe todos quando a te chegar
Fatima Abel Matos, nasceu aos 10 de novembro de 1994 na cidade de Quelimane Província da Zambézia – Moçambique. Formada na área de educação de infância e empreendedorismo. Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras da Zambézia e Associação Raparigas+Visão. Trabalha no Departamento de Recursos humanos, exercendo a função como Técnica de RH na Universidade Católica de Moçambique /Quelimane, também é produtora do arroz orgânico na Zambézia, Ativista social, atualmente frequenta o 4 º ano no curso de Gestão de Recursos humanos na Faculdade de Ciência Sociais e Politica-UCM. Participou em 2019 na coletânea Internacional Intitulada “Mulher e os Seus Destinos “com uma Antologia de Poesia “Ser Mulher”, recentemente no Mês de Fevereiro de 2020 Participou na coletânea Nacional Intitulada “Poemas e Cartas Ridículas de Amor” com uma Antologia “Quero Construir.”
Mulheres negras por elas mesmas – 3 Negras viajantes que inspiram, a história de Dona Elza (mãe), da Odara (filha) e da Andreza Jorge do complexo da Maré para o mundo.
Hoje faz exato um mês que eu Andreza Jorge passei o primeiro dia em uma viagem internacional com minha mãe e minha filha.
Pra muitos esse feito talvez não signifique nada e tudo bem… acho estranho também isso significar tanto pra mim, mas a realidade é que tenho 31 anos de idade e já viajei internacionalmente 5 cinco vezes e todas elas tiveram a ver com minha trajetória e empreitada profissional depois dos 20 anos de idade, nunca foi por lazer simplesmente, como já vi acontecer por aí…
Minha mãe Elza Jorge tem 62 anos e foi a sua primeira viagem internacional, que só foi possível ser assim, por lazer, pq já há muitos anos trabalhou para que eu, hoje, possa viajar a trabalho.
No entanto, Alice Odara, com 5 anos de idade, tem sua primeira viagem internacional por lazer e ao lado de sua mãe e sua avó…
Inimaginável pensar nessa possibilidade se partir apenas de um recorte sobre minha trajetória que é marcada pelas desigualdades ao estamos inseridas… No entanto é também essa trajetória, forjada na maioria das vezes por mulheres e suas histórias que permitiram e permitem que os ciclos se renovem…
Foi preciso, mas eu desejaria profundamente que não, que Dona Tina, minha avó, não tivesse vivido em casa de madame desde sua infância até a vida adulta para criar 6 filhos, foi preciso que Dona Elza tivesse ousado romper com o ciclo de trabalho doméstico que se iniciou aos 14 anos em casa de família para conseguir outras oportunidades para criar 2 filhos e somente por isso, eu hoje acesso a lugares que sempre nos foi negado, para que Alice Odara, possa transcender a experiência única que dizem sobre seu corpo no mundo.
Alice Odara uma criança negra e favelada da Maré, experimenta e experimentará através desse ciclo e força de mulheres que nos antecede…Creio convicta.
Por isso, compartilho aqui tbm, mais uma feita, justo hj, no dia Internacional da Mulher….
Dona Tina, dona Elza e Alice Odara terão em minha vida a realização de um sonho: Ser a primeira da família a fazer um doutorado!!!
Ontem recebi a notícia de aprovação no doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ.
É a minha vida que faz a ligação entre trajetórias tão distintas como a da minha mãe e da minha filha, mas somente por elas e pelas que antes foram, que essa trajetória EXISTE.
É assim, sempre tem sido, mulheres negras por elas mesmas…somos muito além do que nos impuseram, pq nós somos circulares e sempre adiante…
Obrigada a todas envolvidas, as mulheres da minha família que entenderam o real significado da vida de Dona Tina e honram essa história partindo desse lugar de pertencimento e JAMAIS elegendo, ao votar em representantes que odeiam tudo que ela representou… Somente a esses familiares eu agradeço, aos outros eu só sinto pena msm.
Agradeço as minhas amigas que compreendem as vitórias individuais como sonhos coletivos e inspiradores…
Será muito desafiador, mas a Dona Tina merece ter uma neta doutora, a Dona Elza merece ter uma filha doutora e a Alice Odara merece ter uma mãe doutora!!!
Aqui quem vos escreve é Rebecca Alethéia, uma mulher negra viajante e cidadã do mundo que neste momento encontra-se na estação ferroviária de Caia, Província de Sofala — Moçambique e retrata mulheres negras viajantes.
Pensar em mulheres negras viajantes como forma de (R) existência é praticamente impossível não conseguir retratar este cenário do qual estou vivenciando, a ferroviária.
Talvez você não saiba que Moçambique tem caminhos de ferros que ligam boa parte do país e que funcionam muito bem, seguros e confortáveis. Decidi encarar essa viagem de comboio para realmente poder ter essa experiência de trem (comboio, como eles chamam por aqui).
Uma curiosidade é que existem muitos trens funcionais por países na África assim como já falei num vídeo no YouTube: trem na África do Sul.
As Mulheres negras viajantes e a sua (R) existência no mundo é algo milenar, tentarei contextualizar melhor sobre. Neste exato momento são quase 3 horas da manhã e adivinha? O trem que iria passar as 22horas atrasou, a previsão de chegada é as 5 da manhã.
A quantidade de mulheres me impressiona, mulheres de todas as idades, todas as religiões, solteiras, casadas, divorciadas e as viajantes com filhos. Engana-se quem pensa que as mulheres negras não viajam ou que apenas viajam as que tem dinheiro. Seguiremos viagem juntas por mais de 10 horas para a cidade de Tete – Moçambique. Esse é o meio mais barato e seguro.
As mulheres africanas trazem consigo particularidades, andam sozinhas, porém sempre juntas. Ela pode vir só, mas irá se juntar à la outras mulheres no intuito de serem mais fortes, de terem apoio, de uma proteger a outra.
Existem muitas mães com os seus filhos, a madrugada sempre é a hora da mamada das crianças, não me impressiona ver muitas delas despertando com uma leveza para dar de mamar aos seus filhos, com uma naturalidade que não há choro, gritos. O único som que ecoa é do bar próximo da estação de trem, que não abala a dormida coletiva na ferroviária.
Dormir no chão é um hábito africano, o sono vem e deitar no chão não tem sido problema, as mulheres para lá de prevenidas colocam a sua capulana no chão, assim como se enrolam com outra capulana para barrar a brisa da madrugada e se proteger dos insetos.
Trazem consigo as suas malas, cestas, trouxas e todos os itens necessários para a sua viagem. sinto-me em um cenário de filme de Hollywood ao ver na madrugada casais de jovens namorados a caminharem pelo trilho a se flertarem e esperarem o trem. Ela vai partir e ele irá ficar…
Existem 3 classes neste trem, 1ª, 2ª e 3ª. Infelizmente as pessoas só têm condições de comprar a terceira classe, mas te digo que a primeira já está cheia. O trem é o meio mais barato de locomoção e para essas mulheres o que importa é chegar.
No mês em que fazemos alusivo ao dia internacional da mulher, escrevo esse relato de história real de mulheres negras viajantes que talvez não seja instagramavel ou ganhadora de milhões de likes, mas que elas estão a se mover, percorrer e pertencer. Não é de hoje, é milenar, mulheres negras viajantes existem, resistem diariamente pelas estradas, rodoviárias, ferroviária e avião.
As nossas vidas são diferentes e precisam ser tratadas com diferenças, especificidades e cuidados, por esses e outros motivos por conhecer que a trajetória de uma mulheres negras tem o seu diferencial e trás consigo muita ancestralidade, os países africanos e continentes nomearam datas específicas para as mulher negras, além do dia 8 de março, por reconhecerem suas particularidades são elas:
30 de Janeiro —Dia da Mulher Guineense em homenagem a Titina Sila, a mesma lutou ao lado de Amilcar Cabral pela Independência da Guiné-Bissau. Foi morta em uma emboscada em 1973. Em sua homenagem, e as outras mulheres que combateram pela independência do país, foi instituído no aniversário da sua morte pelo dia Nacional da Mulher Guineense.
2 de Março –Dia da Mulher Angolana, celebra-se o reconhecimento ao seu papel empenhado na luta de resistência do povo angolano contra a ocupação colonial portuguesa.
7 de Abril — Dia da Mulher Moçambicana, aniversário de Morte de Josina Machel, segunda esposa de Samora Machel primeiro presidente de Moçambique, Josina Machel se juntou à luta armada de libertação ainda jovem e considerada uma heroína de Moçambique.
25 de Julho —Dia da mulher negra latino americana e caribenha, uma data para rememorar a luta de mulheres negras latino-americanas e caribenhas para uma sociedade mais justa. É dia para se relembrar a história de Tereza Benguela, líder quilombola símbolo da resistência contra escravização.
31 de Julho – Dia da Mulher Africana — este dia foi consagrado no ano de 1962 para a reflexão do papel da classe feminina de África na sociedade.
9 de Agosto — Dia da mulher Sul-Africana, essa data surgiu no ano de 1956 quando mais de 20 mil mulheres sul africanas de todos os pontos do país marcharam em direção ao Union Buildings (Palácio Presidencial em Pretória e Sede do Governo) em protesto contra a extensão das leis que restringia o movimento das mulheres.
Nesta ferroviária, são diversas histórias em um único cenário e consequentemente aqui está sendo escrita a minha história de vida, uma mulher negra viajante que (R) existe e que veio trabalhar como voluntaria em Moçambique, com uma mochila nas costas, vivenciando experiências em casas de família que sempre foram muito afetuosas e cuidados para comigo.
Agora eu preciso ir porque o trem acaba de chegar e irei embarcar, embarque você também nessa viagem.
O ano já começou e já planejou a sua viagem ou viagens para 2020 ou 2021, nós da Bitonga Travel daremos algumas sugestões de lugares para você se planejar e embarcar em vivências e experiências prá lá de especial, estão preparados?
Não vale arranjar desculpa de que não gosta de viajar sozinha/o as opções são grupos de viagens, assim você poderá viajar muito bem acompanhada/o.
E uma dica, quando você fechar qualquer viagem, mencione que foi indicação da BitongaTravel e você irá receber um brinde ou desconto, vamos?
Data: 20 a 22 de março (chegada sexta a noite e retorno domingo a tarde)
Local: Quilombo da Fazenda, Picinguaba, Ubatuba/SP
Valor: R$ 450,00 à vista (consulte opções de parcelamento)
Inclui: Duas noites de hospedagem coletiva em casa familiar; refeições completas (café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar); atividades da programação com monitores locais; e acompanhamento da equipe da Plana.
Destino: Expedição Palmares – Maceió De 20/03/20 – 24/03/2020 Chegada em Maceió, encontro no Aeroporto de Guarulhos para embarcar com destino a Maceió. Oportunidade de nos conhecer, conversar sobre nossas histórias até esse momento, e construir laços de afeto! Chegando em Maceió, teremos traslado até o hotel.
Pacote inclui: Passagens aérea saindo de São Paulo, 9 diárias de hospedagem com café da manhã no hotel Cartagena Plaza, Transfer In & Out + 3 passeios incríveis
Bom por hora é só, acredito que se você estava precisando de uma inspiração para sua ou suas viagens 2020 e/ou 2021, espero que esse cronograma tenha valido a pena.
Essas empresas são geridas por mulheres negras e acreditamos que potencializar o trabalho de mulheres negras é importante para uma sociedade mais igualitária.
Para quem não me conhece, me chamo Suzy Cruz. E neste relato irei compartilhar como foi a minha experiência de 35 dias em um mochilão Sabático em Alter do Chão – Pará
De 2017 a 2018, percorri inúmeros locais na Amazônia. Após navegar pelos rios Negro, Amazonas e Branco, e dar um pulo na Venezuela, decidi conhecer o caribe de águas doce do Brasil: Alter do Chão, Pará.
Segue algumas dicas, fotos e minhas percepções sobre a região. Lembrando que os preços estão desatualizados, visto que a viagem aconteceu em 2018. Porém, achei importante inserir para vocês terem noção. Surgiu dúvidas? Anotem meu ig ou enviem as perguntas para meu e-mail, terei prazer em responder: suzi.tour@gmail.com
Alter do Chão
Curiosas para conhecer ou relembrar? Naveguem comigo!
Reparem na cor dessa água que muda conforme a posição do sol
Meu início em Alter do Chão
Cheguei em Alter num domingo à noite e nem tinha onde ficar. Saí da Venezuela direto para o estado do Pará com a cara e a coragem. Não havia pesquisado nada.
Pernoitei num redário, mas ainda não estava confortável. Nada contra dormir em redes. Passei toda a minha viagem babando dessa forma. Depois que você aprende a dormir atravessado, parece que você está numa cama mesmo.
Continuando: Saí sem rumo em Alter no outro dia e, através da Paula, voluntária do Hostel Don Preguiça, fez questão de me apresentar aos donos do local. Como iria ficar um tempo considerável no distrito, trabalhar em troca de hospedagem seria supimpa.
Como o universo nos conecta com pessoas incríveis. Imaginava ficar apenas duas semanas, todavia, acabei aumentando para um mês e alguns dias minha estadia por lá.
Como cheguei nessa região?
– Barco de linha Manaus – Santarém: R$ 80,00;
– Ônibus coletivo Santarém – Alter do Chão: R$ 3,60.
Sobre as hospedagens em Alter…
– Há redários a partir de 15 pilas. Se ficar mais tempo, consegue pagar apenas R$ 10,00 por dia. Vale a pena conversar dependendo do tempo que ficará no local;
– Se a sua carteira está mais recheada, há pousadas requintadas. Em relação aos hostels, na época, encontrei quartos compartilhados, a partir de 35 reais;
– No meu caso, eu fiquei mais de um mês. Então, procurava um local para dormir em troca de trabalho. Tive direito a uma cama macia, ar condicionado, banheiro limpinho e café da manhã!
Flona de Tapajós
Antes de desvendar Alter do Chão, tive a oportunidade de pernoitar na Flona do Tapajós. Mas Suzy, o que isso? Significa Floresta Nacional. Tem como finalidade, o uso sustentável dos recursos florestais e, também, a pesquisa científica.
Como chegar na Flona?
Eu estava quase sem grana, então, fui de transporte público mesmo. Aliás, não tenho nenhum problema com isso. Praticamente, 99% das minhas viagens são aproveitadas dessa forma. Paguei 12 pilas. Baratíssimo. Saída do busão é em Santarém. O percurso dura, aproximadamente, 4 horas de viagem.
” Ainnn Suzy, muito tempo. Há outras formas de se chegar na floresta nacional? ” De barco, mas não recordo o valor. Quem souber e puder compartilhar…
Quantos dias ficou por lá?
Tive a oportunidade de ficar 3 dias na casa do Seu Bata e da Dona Socorro. Esse simpático casal mora na comunidade do Jamaraquá. Eles trabalham com turismo de base comunitária.
Dona Socorro, Seu Bata e eu
– Onde dormiu?
Para ficar no redário (local onde se coloca redes) dessa família, paguei um pacote 50 reais por dia, incluso as três refeições: café da manhã, almoço e jantar. Excelente custo benefício.
Redário
– Me fale mais sobre a trilha e guias
disponíveis na Flona.
Seu Bata foi meu
guia. Sabe de tudo sobre a floresta. Na trilha, contou muitas histórias. Desde
quando era criança até quando se deparou com onça. Possui um senso de humor
incrível. Evidente que há muitos outros guias, inclusive, os próprios parentes
do seu Bata. Caso ele não esteja disponível na data que almeja, peça indicações
em Alter do Chão – pousadas e hostels costumam informar. Ou vá direto ao local.
– Quanto custou a trilha?
A trilha que eu
fiz custou 150 reais divididos por 5 pessoas (30 reais para cada um). Conheci a
Samaúma, dentre outras árvores também importantes, um mirante e descemos até um
igarapé de águas límpidas! Aproximadamente 10 km (ida e volta).
Sumaúma ou Samaúma
Duração do percurso é de aproximadamente 4 horas. Se forem para a Flona, indico sua casa para pernoite e seu trabalho como guia de olhos fechados. Tenho certeza que será uma linda experiência!
Olha a cor dessa água
Carimbó
Uma das mais
tradicionais expressões culturais da região norte, chama-se carimbó. Provém de
uma fusão de influências indígenas, negra e ibérica. Desde 2014, é reconhecido
como patrimônio cultural brasileiro.
Casal dançando carimbo
Todos bailam
descalços. As mulheres sempre dançam com lindas saias coloridas e rodadas. Na
época, toda quinta-feira à noite, rolava apresentações na rua. De graça!
Mulher dançando carimbó
Ilha do Amor
Fica defronte a
região central do distrito. Na cheia, os quiosques desse local, ficam todos submersos.
Na seca, o rio recua e as praias se descortinam.
Ilha do Amor aparecendo
O lugar é
sensacional: possui águas claras, mornas e areia branquinha.
Ilha do Amor: quando as águas começam a baixar
Como chegar na Ilha do Amor?
Vá de catraia;
Barco comporta
até 4 pessoas;
Na época, paguei
5 reais (1 real e 25 centavos para cada um – valores de 2018).
Catraias
Ilha do Amor
Serra da Piraoca
Há, também, uma
trilha a partir dessa ilha, para chegar na serra da Piraoca ou Piroca. De lá,
tu tens uma visão 360º graus. Muitos vão no final de tarde para ver o pôr do
sol. Vale a pena! Em 20 minutos, cheguei ao cume. O início da trilha é bem
tranquilo. Quando começamos a subir a serrinha, há pedras soltas e o aclive é
intenso. Tomem cuidado para não escorregar. Água e lanterna é importante. E,
claro, câmera/celular para quem quer registrar o espetáculo.
Vista do Tapajós da serra da Piraoca
Outros Tours que Valem a
Pena
Passeio na Floresta e Igapó
Fui agraciada
com um passeio na floresta (em Alter do Chão) com o Seu Pitó (guia/nativo): beber
água direto do cipó, aprender o processo da seringa, ver uma infinidade de
plantas medicinais, comer formigas com gosto de bala refrescante, nadar num
igapó de águas cristalinas e, ainda, conhecer a formiga com propriedades de
repelente natural (basta pegar algumas e friccionar em qualquer parte do corpo).
Seu Pitó
– Suzy, me explica: o que é um igapó?
– É uma
floresta alagada. Caso queiram conhecer esse tipo de paisagem, tente ir antes
de agosto;
– É
seguro nadar? Minha amiga tu tá na floresta amazônica, então, sabe que nós que
invadimos esse ambiente e não o contrário. Antes de entrar em qualquer local,
pergunte a um nativo e/ou guia. Eles terão prazer em responder.
– Só explicando que no ano sabático que passei por lá, nunca fui picada por cobra, não fui mordida por piranhas, nem morcegos e nenhuma onça correu atrás de mim. Só tive um susto no rio Negro: estava tomando banho, quando um baita jacaré açu começou a vir na nossa direção. Eu nunca corri/nadei tão rápido na minha vida na água… Nem sei nadar, se quer saber. Com nossos gritos, o jacaré acabou se assustando e sumiu…
– Outro
detalhe é que voltei cheia de manchas na pele porque os insetos quase me
devoraram. Gente, eu trabalhei por mais de 4 meses dentro de um parque nacional
(floresta adentro). Natural ser picada por insetos. Tinha alguns que
simplesmente passavam pelo tecido. E a coceira? Sabe aquela coceirinha gostosa
que sai até sangue? Pois é. Aconteceu muito comigo. Mas, quer saber? Faria tudo
novamente.
– Mataraí
Na época, estava
sem grana para fazer passeios de barco e alcançar praias distantes. E ainda, ia
visitar Algodoal, Belém e adjacências. Então, precisava poupar o restante.
Estava viajando há 11 meses pela Amazônia com apenas 5 mil pilas. Tinha muito
pouco no bolso. E o que a gente faz? Trekking, arrasta o chinelo, bate perna,
come poeira. Eu amo caminhar e só a aventura de chegar nesse local, já super
valeu a pena! Uma hora e alguns quilômetros depois, surgiu uma praia deserta
com águas quentinhas e claras para chamar de nossa! Como cheguei por lá? Peguei
um atalho na Ilha do Amor e andei sem rumo. Aportei nesse paraíso!
Praia Super Deserta
Não é o
caso desse local, mas deixo um conselho: peça licença para a Mãe Natureza e
aproveite das experiências sem barulho. Nas minhas andanças, não só pela
Amazônia mas em outros locais do Brasil, percebi que as pessoas adoram fazer
algazarra, gritar, levar caixinhas de som… Atente-se aos sons naturais.
Respeite o silêncio!
– Encontro dos rios Amazonas e Tapajós em Santarém
Sabia que existe
outro encontro de rios fora o Solimões e Negro? Simmm! É o encontro dos rios
Amazonas (barrenta) e Tapajós (cristalina). Tem vontade de conhecer? Tenho uma
dica: há um mirante bem bacana para visualizar essa obra da natureza. Fica em
Santarém, na Praça da Fortaleza do Tapajós. Lembrando que é de graça, 0800,
free!
Caso não seja
essa experiência que tu queira, pode alugar um barco e ir até o ponto de
encontro desses dois rios. Também é válido!
Encontro dos rios Tapajós e
Amazonas
Pôr do Sol em Santarém
Mercadão (Santarém)
Recomendo visitar
o mercadão 2000. Geralmente, eu comprava frutas e verduras nesse local. Super
baratinho e melhor: você compra de produtores locais! Ah, o busão que vem de
Alter te deixa em frente.
Mercadão 2000
Bom, essas foram as minhas dicas e
imagens dessa linda região do Pará.
Foi uma experiência de 35 dias na região.
Curtiu? Já foi? Ficou com vontade de conhecer? Caso possuam meios e tempo para ir, aviso: irão se apaixonar!
Se surgirem dúvidas, enviem mensagens.
Fim de Tarde na Praia do
Cajueiro
Pôr do Sol na Praia do
Cajueiro
Passarela para o CAT- Centro
de Informações Turísticas
Dias eventuais, apenas eu
estava na praia
Encontro com mochileiras
em Alter
Nas
ruas do distrito
Infelizmente,
não sei a autoria do desenho
Há
outros locais que deixei para trás porque havia dias que queria ficar ociosa
mesmo. Quando digo ociosa, era passar horas no meu esconderijo, numa praia
quase particular, porque quase ninguém ia para lá. Confesso que, determinados
momentos, sou bem introvertida e gosto de ficar só. Aliás, não estava com
pressa e meu estilo de viagens é bem lento mesmo. Gosto de sentir a vibe,
conversar com os moradores, saber a história, compreender a rotina. Evidente
que, para quem trabalha e tem poucos dias de férias, isso realmente não
funcione, enfim… Só digo: cada um tem uma maneira de contemplar e
experimentar viagens.
Quando me perguntam sobre Caraíva-Bahia a e como é o Carnaval lá, me perco entre expressar meus sentimentos ou dar a informação ou os dois e, às vezes, preciso contar um pouco da minha vivência antes de responder.
Me chamo Karla Almeida, tenho 33 anos e a vida inteira ouvi falarem do verão como se fosse um evento de megas proporções, mas nunca entendi de onde vinha esse fascínio.
Foi somente no último ano morando em Caraíva, uma vila de pescadores com mais ou menos mil habitantes na Costa do Descobrimento no sul da Bahia, que entendi mesmo o que de fato é a época do verão brasileiro e entendi todo o frisson envolvido nessa estação mágica.
Sempre curti muito o Carnaval. Sou natural de Belo Horizonte e antigamente o Carnaval lá não era muito festejado, porém nós últimos 5 anos, BH tem recebido cada vez mais foliões do Brasil inteiro para curtir os tradicionais bloquinhos de rua e micaretas que pipocam pela cidade inteira.
Eu, claro, me jogava e dizia que aquele ali era o melhor Carnaval da vida!
A cidade toda fantasiada, crianças, idosos, cachorros, cadeirantes, ricos, pobres, direita, esquerda festejando e sendo feliz como nunca!
Claro que haviam os problemas que marcam grandes aglomerações de pessoas: roubos, furtos, algumas brigas, mas logo tudo era resolvido e a folia seguia.
Aquilo para mim era Carnaval de verdade.
Então em 2018 comecei a mochilar e conheci novos mundos fora da minha bolha.
Foi na Bahia que entendi e aprendi a amar o verão e tudo o que ele representava: agitação, oportunidade de ganhar dinheiro trabalhando na praia, conhecer pessoas novas e diferentes todos os a e muito sol.
Quando me vi dentro do Carnaval de Caraíva – Bahia então, tudo o que eu sabia que amava no Carnaval de BH, deu um salto quântico.
Ali tinha tudo o que tinha em BH mais o bônus de ser perto do mar e do rio!
Fui jogada dentro de uma energia tão grande de interação, música, sol, mar, pessoas desconhecidas que parecem ser da sua família ou amigos de longa data e paixão que percebi que eu não sabia nada de nada do que é um Carnaval numa praia da Bahia!
O Carnaval de 2019 foi, até agora, o melhor da minha vida.
Foi tão mágico, naquele lugar mágico que ainda hoje sinto em mim a alegria que sentia só de acordar todo dia sabendo que logo mais ia ter bloquinho, Netuno gelado, aqueles amigos lindos que fiz ontem e muita Divindade Faraó para dançar.
Continuei morando em Caraíva – Bahia depois do Carnaval ainda nessa aura de paraíso e lugar perfeito, pois é o que aquela vila é: um lugar onde a energia te faz viver e agradecer todos os dias só por respirar aquele ar.
Estava certa de que o Carnaval de 2020 seria ainda melhor pois eu estaria ainda mais integrada a vila, as pessoas e a Bahia em si.
Mas, de forma inesperada, meus sentimentos foram colocados em cheque nos últimos meses.
Recentemente andaram pipocando casos de assédios, agressões, tentativas de estupro e importunação sexual na vila.
Em um momento estávamos curtindo uma festa linda no dia de São Sebastião, santo padroeiro da região, e no outro, ficávamos sabendo que uma amiga nossa havia sido molestada dentro da própria casa.
Recebíamos diariamente noticias de uma menina que quase foi estuprada na praia a luz do dia ou que outra havia conseguido fugir de alguém que tentou puxá-la para o mato no escuro.
E eu ali no meio dessas mulheres, tão próximas que sofreram coisas que poderiam muito bem ter sido comigo.
E pior, estávamos todas ali convivendo com os agressores todo o momento, já que alguns deles eram homens conhecidos da comunidade e a impunidade para esses casos ainda resiste: ninguém tem coragem de depor contra um morador ou um nativo, já que as represálias são fortes.
Ali, estamos todos em terra indigena, sendo meros colonizadores da terra.
Se essas coisas aconteciam diariamente com as mulheres nativas da comunidade, porque deixaria de acontecer com as mulheres que não são?
O medo, a revolta, a raiva e a tristeza se mesclavam com a magia, a alegria e o que significa morar na vila. E estávamos todos tentando entender o que estava acontecendo.
Eu amo Caraíva. Eu amo as pessoas dali. Eu amo como a energia do lugar trabalhou na minha e mudou toda a minha vida.
Participei de um festival com vivências que foram muito importantes e impactantes na minha vida espiritual. Em uma dessas vivências, acessei memórias de infância onde uma pessoa que eu amava me estuprava. Bloqueei essas memórias ao longo da vida num trauma que me seguiu até a vida adulta.
Ali estava eu, com minhas próprias dores a pleno vapor, com amigas queridas sofrendo, sozinha, no meio do verão baiano bem na terra que me ensinou o que é Carnaval, o que é verão e como é delicioso curtir uma festa na Bahia!!
Não consegui completar outro verão ali. Acordava todos os dias querendo pegar o primeiro ônibus para longe, mas ao mesmo tempo com o coração partido de ir embora antes do Carnaval,mas não conseguia pensar em como meu Carnaval seria mágico novamente sabendo que estava tudo errado ali. Que eu estava errada.
Mas não sabendo se errada de achar que ali era o melhor lugar do mundo ou errada de estragada, desmontada mesmo. Precisando de conserto.
Mesmo depois de um ano desconstruindo e renascendo em Caraíva, eu precisava de um conserto novo: do apego que eu estava ao lugar.
Antes do final de janeiro sai de lá e agora estou em Itacaré. A saída foi como um parto difícil: demorou, doeu, trabalhoso e até o último minuto teve dificuldade, mas consegui.
Meu coração acelera cada vez que vejo uma publicação ou comentário de alguem sobre o Carnaval de lá.
Quase fiz as malas duas vezes e voltei.
A vontade de voltar é grande, mas ainda não curei esse sentimento de ter sido puxada de um sonho tão rápido.
Ainda amo Carnaval. Ainda amo Caraíva. E ainda acho que aquele foi o meu melhor Carnaval até hoje.
Mas eu ainda não tenho a resposta para a pergunta.
“E por ver que não achava aquilo que se encaixava no que eu buscava nas agências, eu decidir ser essa agência.” Camila França (Negras Viajantes que inspiram)
Nós da Bitonga Travel escolheremos uma mulher por mês para que possamos compartilhar suas histórias como mulheres negras viajantes que inspiram.
Depois de muito tempo tentando me entender e entender o meio em que estava, passando por um processo de depressão, mudanças de estado, acho que hoje eu finalmente estou mais perto de quem sou eu.
Gosto de estar no mundo sempre que possível, para conectar com o novo, dentro e fora de mim.
Não sou muito de só visitar, acabo morando por agum tempo nos lugares.
Fiquei 5 meses no Rio de Janeiro, 3 na Bahia e 2 no Chile, essas experiências me transformaram muito profissionalmente e pessoalmente, onde hoje os dois se completam.
Como já disse o turismo é minha profissão e minha vida.
Viajar para você é?
Minha vida! A viagem me ajudou muito em um período de depressão, e logo após mudar para Rio de Janeiro, comecei a pensar que além de ser algo que amava no pessoal, poderia ser no profissional também.
Então sempre falo que viajar, é o que me move, é o que me defini.
De onde surgiu a ideia de uma agência de turismo?
A ideia surgiu de poder fazer a diferença através de algo que amo tanto.
De poder mostrar para as pessoas que o turismo é transformador, interno, externo, social. Por não encontrar aquilo que se encaixava no que eu buscava nas agências de viagem/turismo, eu decidir ser essa agência.
Para você qual é importância do turismo sustentável?
Total, por que vemos o sustentabilidade só ligado ao meio ambiente, mas quando na verdade tem que ser social, financeiro e totalmente sustentável, pra ser um turismo de troca, trocas boas, entre o espaço e o visitante.
Como o Rotas Viagens e Experiências tem atuado?
Hoje de forma mais responsável, não somente com os clientes, mas com o destino e parceiros. A importância de que os 3 sejam complemento tem me mostrado um retorno muito grande de quem viaja comigo.
Estamos entrando agora mais para o turismo de experiência e de base comunitária (TBC) procurando sempre tentar conhecer o destino para oferecer algo que não seja só um lazer, mas uma conexão.
Conte mais sobre esse Turismo de Base Comunitária
Mais conhecido como TBC (Turismo de Base Comunitária), é um turismo voltado mais para o contato direto com as comunidades locais da região, além de ser desenvolvido por eles, onde se capacitam os moradores para que o Turismo seja uma fonte de renda, com retorno direto para os mesmo.
O contato com essa população é extremamente importante, ajuda a fortalecer culturas, e a recuperar tradições, além de mostrar um respeito que acabamos não tendo com os que ali vivem.
Afinal eles são os guardiões dos lugares em que visitamos.
Viagens em comunidades como vocês tem atuado?
Eu decidi iniciar um novo caminho no rotas, de trabalhar com TBC, mas a ideia de poder passar mais do que fomos, para que entendamos quem somos.
De respeito por aqueles que levam tanto, de geração para geração, de fortalecer as comunidades locais e trazer para as pessoas o turismo cultural.
Isso em todos os tipos de comunidades, não só quilombola, é o que falta no turismo, para que as pessoas respeitem mais, os moradores e o espaço que eles vivem.
Quais são os próximas vivências para 2020?
Março – 13/03 a 15/03 Parati Mirim – RJ Maio – 30/04 a 03/05 Parati Mirim – RJ Julho – 08/07 a 12/07 Serra Gerais -TO Outubro – 08/10 a 14/10 ou 22/10 a 28/10 Deserto do Atacama – Chile
Deixamos aqui o contato dessa mulher da série mulheres negras viajantes que nos inspiram diariamente a fazer o que amamos.
Rebecca Alethéia, idealizadora do projeto Bitonga Travel, mandou uma mensagem no grupo das correspondentes perguntando sobre quem tinha experiência em jornalismo. Lys Silva, jornalista e viajante, respondeu que tinha. Nascia assim a Bitonga Magazine – Revista de Afroturismo.
Rebecca Alethéia, the creator of the Bitonga Travel project, sent a message in a group of correspondents asking who had experience in journalism. Lys Silva, journalist, and traveler, replied that she had. Thus, Bitonga Magazine was born.
A maior missão dessa revista digital é ter a população negra como protagonista de sua própria história e narrativa.
The greatest mission of this digital magazine is the black population as the protagonist of its history and narrative.
A equipe completa inclui jornalistas, tradutoras, viajantes e entusiastas que perceberam a falta de protagonismo e de representatividade da comunidade negra nos meios de comunicação tradicionais voltados para o turismo.
The team includes journalists, translators, travelers, and enthusiasts who understood the lack of protagonism and representativeness of the black community in the tourism-oriented media.
“Temos certeza que nossa narrativa importa e que deve ser comunicada de maneira direta, leve e acessível para àqueles que compartilham do mesmo ponto de partida que nós e que vivenciam o turismo e a viagem de uma maneira única”, afirma Rebecca Aletheia, diretora da revista.
We are sure that our narrative matters and that should be transmitted easily, lightly and affordably to those who share the same starting point as us, and experience tourism and traveling uniquely, says Rebecca Aletheia, the magazine director.
A partir da Bitonga Magazine haverá a expansão da narrativa do corpo negro enquanto turista e viajante, estudante e expatriado, vivendo em diáspora.
From Bitonga Magazine, there will be an expansion of narratives of the black community as tourists, travelers, students, and expatriates, living in the diaspora.
“Sabemos que seremos capazes de dialogar, através da nossa revista, com diversas gerações que irão encontrar conteúdo relevante, informativo, leve e nichado”, comenta Lys Silva, editora chefe.
We know that we will be able to dialogue, through our magazine, with different generations that will find relevant, informative and exclusive content, comments Lys Silva, the chief editor.
O lançamento da Bitonga Magazine, a primeira revista de Afroturismo do Brasil, irá acontecer em abril de 2020 e terá uma rodada de eventos nacionais e internacionais. Acompanhe nossas postagens para mais informações e datas.
The release of the Bitonga Magazine will take place in April 2020 and will have a round of national and international events. Follow our posts for more information.