Em primeiro lugar, olá manas, me chamo Ariani Teodoro e quero falar de 12 livros de mulheres negras para ler em 2022.
O ano de 2022 já iniciou, mas todo janeiro sempre temos aqueles planos que por muitas vezes ficam na gaveta ou que nos forçamos para executar e não conseguimos seguir o ano todo; mas….estamos aqui para motivar vocês para um desses planos que sempre ficam na nossa cabeça e listinha de afazeres: “Preciso ler mais!”
E…porque não lermos Mulheres Negras? Sendo assim, que tal começar a ler separando no mínimo um livro ou livros por mês de mulheres negras necessárias para adquirir mais conhecimento, habito de leitura e conhecer e contar nossa história? Além de viajar pelo mundo, porque aqui tudo termina em viagem! Sendo assim, se prepare para conhecer mulheres negras escritoras do mundo todo!
Assim, separamos um livro para cada mês para você se deliciar e conhecer mais, são eles:
1 – Pequeno Manual Antirracista – Djamila Ribeiro
Este é um realmente um pequeno livro que ainda dá tempo de ler em Janeiro, ou seja, uma leitura super rápida e que com certeza vai te dar um gás para os próximos meses.
“O Racismo não é um ato de vontade individual mas sim, um complexo sistema de opressão, que cria desigualdade social e abismos entre as pessoas”
Partindo desse princípio, Djamila propõe nesse manual 11 estratégias pautadas em filosofia, sociologia, lugar de fala e como transformar nossa sociedade questionando mitos como a meritocracia com muito embasamento sempre citando outros autores.
Assim como, com várias reflexões, nos levando a pensar em melhores políticas públicas, questionar cultura que consumimos, atos e falas, Djamila nos dá esperança e inteligência para criar um diálogo limpo, coerente e um futuro melhor para todos.
2 – Insubmissas lágrimas de mulheres – Conceição Evaristo
Neste livro de contos, pautado pela sua escrevivência, como gosta de pontuar, Conceição Evaristo, nossa inspiração da militância negra e da escrita brasileira entrevista mulheres negras de todas as idades e através das entrevistas nos brinda com 13 contos que misturam realidade e ficção.
Nesse sentido, Evaristo faz questão de pontuar que essa obra é uma mistura das entrevistas, com suas próprias experiências, a famosa “escrevivência” que ela adotou e também com experiências vividas por tantas mulheres negras nesse país racista e desigual.
O que é bem interessante é que a maioria dos contos é em primeira pessoa, então você sente que aquela mulher está abrindo seu coração e vida para você leitor ❤
3 – Fique Comigo – Ayobami Adebayo
Vamos levar em consideração que Março é um mês longo…um mês que precisamos de ânimo e nos manter animadas, portanto a dica para o terceiro livro ou livro para Março é da Nigeriana Ayobami Adebayo: Fique Comigo, seu primeiro livro, um premiado romance de 2019 que nos ensina um pouco sobre a cultura nigeriana: de casamentos poligamicos ao papel imposto pela sociedade à mulher: apenas procriar e; quando não o faz é porque esta amaldiçoada.A história é contada por Yejide, que acreditando ser estéril espera por um milagre: um filho.
Yejide trabalha e é casada com Akin já por quatro anos e não aguenta mais a pressão da família do marido e aceita, (acreditando estar amaldiçoada a não ter filhos) a receber uma segunda esposa para seu marido… a partir daí manas… surge um suspense e um drama incrível. Na Nigéria de 1980, além do contexto político severo retrato no livro, vemos como casais que tentam não ser poligamicos sofrem e acompanhamos Yejide por momentos desesperadores: De uma suposta gravidez de mais de 1 ano até uma subida de joelhos nas montanhas seguimos Yejide na luta constante em estar “de acordo” com o que a mulher necessita.
Além disso, o final é arrebatador e INESPERADO! Nos faz refletir em vários aspectos: como se sentem as segundas, terceiras esposas? Assim como, discussão sobre Maternidade Real ou Imposta? Do mesmo modo questiona, existe um felizes para sempre? Em contrapartida, é possível ser mãe completa?
O livro se encerra em 2008 num misto de tristeza, raiva, felicidade, amor…vários sentimentos e muitos questionamentos.
Prepara o lencinho porque desde as primeiras páginas as lágrimas já rolam!
4 – A terceira vida de Grange Coperland – Alice Walker
“Como pode uma família, uma comunidade, uma raça, uma nação, um mundo, ser saudável e forte se uma metade domina a outra por meio de ameaças, intimidações e atos reais de violência?”
Alice Walker, negra, celebrada escritora, poeta e ativista nos presenteia com uma narrativa impossível de parar de ler
A história se passa na Geórgia, nos Estados Unidos em 1940, no auge da segregação e a dura realidade de tratamento irracional dos negros como mercadoria e escravização continua nos campos em troca de abrigo e comida.
Durante três gerações, o livro conta o cotidiano de uma família negra, oprimida pelo racismo estrutural, misoginia, alcoolismo e violência em todos os sentidos.
Em suma, passamos pelas três vidas de Grange, que abandona a família para tentar a vida no Norte e causa uma grande dor e reviravolta na família e acompanhamos a dor de sua esposa e de seu filho.
Em sua terceira vida, Grange nos surpreende…e como sempre uma mulher muda tudo!!! (risos)
Alice, escreve um posfácio onde conta com exatidão como era ser negra nos EUA nessa época, e escreve uma frase que para mim resume muito deste livro: “Em uma sociedade em que tudo parece descartável, o que deve ser valorizado, protegido a todo custo, defendido com a própria vida?”
5 – Caminhando contra o vento – Igiaba Scego
Falei que iriamos viajar, né? Então agora se prepara para uma afro-italiana, Igiaba Scego nasceu em Roma, mas sua família de origem somali refugiada em Roma, como tantos outros refugiados sentiram na pele o racismo e as dificuldades de uma vida pautada de lutas e sobrevivência.
Igiaba trabalhava em uma loja de discos onde se deparou com o disco Cores, Nomes um dos mais populares de discos de Caetano Veloso que contém a famosa musica Sina: música que homenageia Djavan… Então, é à partir daí Igiaba nos contempla uma narrativa com um mix de sua vida pessoal pautada pela música popular brasileira na Itália! Olha que Mara!
6 – Heroínas Negras Brasileiras – Jarid Arraes
Voltamos ao Brasil com Jarid: nordestina, cordelistas e escritora aprendemos em forma de cordel e com lindas ilustrações 15 histórias necessárias e lindas de heroínas brasileiras
7 – Minha história – Michelle Obama
Mês 7 – Julho: Férias para algumas ….hora de por o pijama e assistir um documentário e ler um livro motivador: Minha História, que também originou o documentário que nos mostra o lançamento do livro no streaming Netflix.
Michelle retrata diversas situações nas quais nós, mulheres negras diariamente enfrentamos: A necessidade imposta pela sociedade de estarmos num padrão; um padrão que muitas vezes não condiz com nossa ancestralidade e com nosso coração, sem contar em “pintar” mulheres fortes como raivosas ou egoístas.
Além de detalhes de sua infância, adolescência e relacionamento com Barack Obama, Michelle retrata o dia dia de uma mulher negra referência para o mundo, inspira e nos faz acreditar que não estamos sozinhas, que de alguma maneira nós, mulheres, principalmente as negras estamos conectadas, além de uma leitura leve e com muitas fotos, lemos detalhes da casa Branca, dos encontros políticos e também curiosidades vividas pela família Obama (a minha favorita, é o encontro com Rainha!)
8 – Por um feminismo afro-latino americano – Lélia Gonzalez
“Leiam Lélia Gonzalez!”, convocou a filósofa americana Angela Davis sua visita no Brasil em 2019.
Após essa convocação feita por Davis, Lélia já com vasta publicações se torna mais procurada, conhecida e finalmente louvada! Este livro traz textos produzidos de 1979 a 1994 e que marcaram diversos processos brasileiros e também o “pretuguês”. Um livro lindo e necessário!
“Eu sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo.” ― Angela Davis
9 – Quarto de Despejo – Carolina Maria de Jesus
Primeiramente, se você planejar esse livro para Outubro, necessita começar em setembro: Carolina nos dá um show de política e que tipo de governantes precisamos! Bem como, em 2022 teremos eleições decisivas para nosso país esse ano, essa inspiração é necessária.
Nascida em Sacramento, Minas Gerais, em 1914, se mudou para São Paulo em 1947, onde foi empregada doméstica e, depois passou a catar papel e outros materiais recicláveis.
Apaixonada pela leitura, via a escrita como uma forma de esquecer as amarguras da vida e da fome.
Sobretudo, Quarto de Despejo foi seu maior sucesso: 30 mil exemplares vendidos apenas na primeira edição em 1960 e traduzido para treze idiomas.
Carolina: negra, mãe solo, com pouca escolaridade e moradora da periferia. Extremamente politizada foi mais uma vítima do racismo estrutural presente em nossa sociedade e não teve todo o prestígio que merecia em vida, sempre soube que teria seus mais de 20 cadernos encontrados no lixo e com exímios detalhes da vida dura na favela: suicídio, bebida, assédio….publicados.
… A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro
10 – Filhos de Sangue Osso – Tomi Adeyemi
Antes de mais nada, para quem gosta de Harry Potter é uma obra e tanto, de início quero ressaltar que Tomi é uma nigeriana americana, que vive hoje nos EUA e depois de se graduar com honras em Literatura de Língua Inglesa pela Universidade de Harvard, estudou mitologia, religião e cultura africana em Salvador, no Brasil, onde ela deixa bem explicado em seus vídeos que foi a inspiração para seu livro.
Filhos de Sangue e Osso é o primeiro de uma triologia, e é contada por seus personagens:
Zélie é uma MAJI (tem magias especiais enviadas por deuses) que teve a família destruída pelo Rei e sua família; um rei que destruiu a Magia que tinham os MAJIS e todos hoje vivem na pobreza e em busca de não deixar a Magia acabar de vez, montada em Nailah seu bicho de estimação luta para sobreviver com seu pai e seu irmão Tzain.
Numa de suas negociações é surpreendida por AMARI, a princesa que viu o que o pai pode fazer com a Magia e procura ajuda.
Nesse encontro Zélie, Tzain e AMARI tem a chance de fazer a Magia de volta e o povo de Zelie feliz novamente.
Porém, muitos mistérios rondam essa felicidade e busca, um deles é o irmão de Amari: INAN que esconde muitos segredos e pode atrapalhar essa busca.
Além disso, este é um livro que nos remete diversas questões simbólicas de orixás, família, diversidade, opressão.
Como é uma trilogia, o final fica “meio aberto” mas é uma fantasia escrita por uma mulher negra e que trata a questão da religião com muita delicadeza e naturalidade, principalmente onde infelizmente no nosso país, vivemos a cada dia mais cenários de intolerância religiosa.
O terceiro livro ainda não foi lançado e a previsão é para 2023 nos EUA, porém o segundo já está aí: Filhos de Virtude e Vingança! E é mara!
11 – Minha mãe usa touca de cetim – Cintia Santos
Em sua primeira obra Cintia, juntou o desejo de ser escritora à um foto tirada por seu companheiro que representa além da maternidade, a importância da afirmação às nossas crianças negras de como elas são lindas e descendentes de reis e rainhas 🤴🏽👸🏿🤴🏿👸🏿👸🏽 cheio de representatividade, potência, amor e fofuuuuuraaaaaaaaa
Sobretudo, essa pequena obra, guia adultos e crianças a amar seus cabelos, sua origem e conhecer grandes nomes como bell hooks e Conceição Evaristo.
Sabe o mais legal? Você pode gratuitamente fazer o download, assim como, ler online direto no site da editora: https://www.letraria.net/minha-mae-usa-touca-de-cetim/
Dessa forma, o livro físico é tão lindo e tão fofo que vale a pena ter na prateleira viu!
“Ler para e com uma criança é partilhar amor, afeto, histórias, esperança e alegria”
12 – As lições que eu aprendi viajando e morando na China – Joana Silva
Por fim, porém não menos importante, vamos fechar com chave de ouro nossas dicas com um livro de uma das nossas!
Jô, negra, baiana e correspondente Bitonga Travel lançou seu primeiro livro em 2021
Ao passo que, com muita leveza e paixão, nos guia para um passeio emocionante pelo país. É mais que um livro de viagens: é uma jornada profunda rumo a si mesma. Uma viagem pelo desconhecido, guiada pela intuição. Sem julgamentos ela divide com os leitores sua experiência pela China, nos transportando para uma realidade diferente.
Como ela define na sinopse é uma viagem que nos faz mergulhar num processo de desconstrução de preconceitos e visões ocidentais
E assim encerramos nossas dicas de 12 livros escritos por mulheres negras para ler 2022 que você deve colocar na sua listinha de desejos do ano! Conta aí, mais algum que você acrescentaria nessa lista?