Vou começar este texto com um questionamento que já foi muito inquietante para mim: Você alguma vez já se perguntou para onde vão as roupas quando caem de moda e não desejamos mais usá-las? E, portanto a roupa de todo o mundo quando não são mais desejadas?
Pois
é, até a presente data de 2020 não se comprovou a existência de um buraco
branco onde tudo o que é despejado desaparece.
Então
eu gostaria de propor algumas possíveis ações para lidarmos não apenas com
estas peças indesejadas, mas também falar sobre opções do meio do caminho. Ou
seja, como poderemos adquirir e ‘descartar’ roupas com menos culpa.
Vamos juntos pensar sobre isto?
O
objetivo é pensar em aquisição de roupas, pensar sobre tendências que mudam
rapidamente e sua posterior destinação quando não mais as desejamos, ou ainda o
mais terrível…
Quando
já saíram de moda!!!
Entretanto
eu posso pensar que: Eu não posso ser responsável pelas escolhas das pessoas,
seja em adquirir ou se desfazer de roupas.
Considero
que vestir é uma necessidade essencial em nossa sociedade e, portanto, eu
preciso comprar roupas. Além de ter o direito de me desfazer delas quando bem
desejar ou precisar.
Interessada
por Moda como sou, já li e ouvi falar bastante a respeito do quanto a indústria
têxtil é poluente, o quanto muitas marcas utilizam forças de trabalho análogos
à escravidão e não apenas isto, conta-se que menos de 1% do material produzido
por esta indústria dá origem a novas peças e/ou tem possibilidade de ser
reciclado.
Segundo
a Fundação Ellen MacArthur, são gastos cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de
água por ano na produção têxtil.
Você
percebeu que eu escrevi Bilhões? Gente, é muita coisa.
Isto
sem contar as Bilhões de toneladas de emissões de gases que causam o efeito
estufa no Planeta.
Então
o que temos como objetivo aqui é evidenciar que a necessidade suprema – da
nossa sociedade atual – de vestir, não precisa necessariamente estar ligada ao
consumo desenfreado proposto pelas grandes cadeias, redes e marcas de moda Fast
Fashion que nos faz querer consumir exaustivamente as tendências que são
ditadas de tempos em tempos (considere aqui os calendários de semanas de moda)
sendo que, muitas vezes, quando a gente enfim adquire aquela peça ela já saiu
de moda.
E
isto nos leva a um looping infinito de aquisições e descartes para simplesmente
seguir tendências, que nem sempre conversam com o nosso estilo, visão de vida,
ou mensagem que desejamos passar através da nossa vestimenta.
Um
belo exemplo: Quem já se rendeu à uma tendência de Moda que sequer era aquilo
de que gostava levanta a mão.
Eu
já: Houve um tempo em que a cor roxa, ou lilás, esteve muito ‘na moda’. Eu,
embora não gostasse, adquiri uma blusinha da tal cor. Já uma amiga foi além:
Ela também não gostava da cor, mas rapidamente adquiriu várias peças para
seguir a tendência.
Ela,
tendo melhores condições financeiras do que eu, poderia facilmente convencer
seus pais a comprar várias peças novas e usar ou descartar quando bem quisesse.
Já eu, que pude comprar apenas uma peça não tive grande prejuízo quando a tal
moda acabou.
Passado
este fato, houveram dois recursos que eu utilizei de maneira efetiva alguns
anos depois: Senso crítico para pensar sobre a necessidade real de adquirir
algo de que eu sequer gostava e que não me faria falta; e o acesso a roupas
usadas, que diminuiria mais ainda o meu gasto. Assim eu pude começar a agir de
acordo com uma visão responsável sobre o consumo consciente e sustentável de
moda.
Porém
antes disto e por muitos anos, eu tive muito receio de consumir roupas de
brechó. Eu pensava que, assim como falavam, as peças poderiam ser sujas, com
energia negativa por desconhecer sua procedência, que poderiam me trazer algum
mal à saúde etc. Todas as crenças limitantes que circulavam por aí e depunham
contra Brechós me assustavam.
Só
que, ao mesmo tempo, eu tinha um incômodo muito grande com relação a:
- Quando finalmente eu comprava a tal
peça da moda, ela saía de moda. Porque afinal eu nunca tive dinheiro para
comprar roupas assim que os desfiles lançavam a tendência;
- Roupas ou combinações aclamadas pela
mídia e que estavam em todas as lojas não me agradavam;
- Eu detestava com força me sentir
parte de um exército de pessoas que usavam a Mesma Roupa;
- Eu tinha um medo supremo de ir a
algum compromisso, como festa ou casamento, e encontrar alguma pessoa vestida
igualzinha a mim, sendo então o que minha mãe chamava de “Par de Vasos”. Aqui
eu fiz uma pausa grande para dar gargalhadas.
Já
comprando roupa em brechó eu teria a possibilidade de encontrar roupas de qualquer
parte do mundo, roupas antigas e de moda passada mas que poderia me agradar e
compor um estilo muito legal em combinação com o que eu já tenho, ainda
considerando oque eu falei logo na introdução deste texto: roupas que alguém
não quer mais não desaparecem do planeta por osmose.
O
Brechó é tipo um “mundo paralelo” cheio de recompensas para quem tem paciência
e disposição em desbravá-lo, uma vez que se pode desenvolver um estilo próprio
que conversa com suas crenças, neste caso a sustentabilidade.
Pode-se
também diminuir grandemente o gasto com roupas, acessórios, calçados e até
decoração, uma vez que as peças que se encontram lá tem um custo muito baixo. E
caso você compre, digamos, uma roupa que está muito grande, um pouco pequena,
com furo, rasgada etc, pode-se levar em uma costureira seja para fazer ajustes,
customização, ou até mesmo reforma e transformação de uma peça em outra. Por
exemplo: Você vê um vestido de uma cor que te agrada, com um tecido que você já
sabe que é bom por ter resistido à ação do tempo. E então o transforma em uma
camisa, faz um conjunto de saia e blusa. Enfim, são inúmeras possibilidades de
se transformar totalmente uma peça, se beneficiar e ainda dispor do trabalho de
uma costureira do seu bairro, que muitas vezes são senhoras que conhecem muito
de moda e têm histórias incríveis para partilhar.
Talvez
você diga: Ah, mas eu não conheço nenhum Brechó próximo da minha casa ou no meu
caminho.
Gente,
uma pesquisa no Google, Facebook, Instagram e afins abrirá um novo mundo, porque
então começarão a surgir sugestões a partir desta primeira busca.
Outra
dúvida: Tenho uma crença/ religião que me deixa preocupada com a energia
trazida pela roupa.
Uma
boa lavagem, eventualmente com sal grosso, antes do uso já resolve. Além da
alegria de saber que está fazendo um consumo mais responsável.
Outra
possível preocupação: Tenho muitas roupas que não uso mais, e sempre colocava
no saquinho com o lixo para descarte.
Você
já pensou que uma roupa que foi escolhida com cuidado e intenção de te
embelezar, pode muito bem compor memórias felizes para outras pessoas? Então Doe!
Seja para um Bazar de igreja, Venda ou Doe para Brechós, Venda On Line,
Proponha troca com seus amigos e amigas. Existem muitas possibilidades.
O
nome desta prática, junto com várias outras ações, é Slow Fashion. E consiste
em repensar nosso consumo, tornando-o mais consciente tanto na aquisição quanto
no repasse de roupas, a partir do momento em que passamos a ressignificar nossa
vestimenta, valorizando cadeias que são mais justas e éticas com pessoas que
atuam na moda como costureiras, pequenas e novas marcas, novos estilistas,
marcas efetivamente sustentáveis, que respeitam os tempos de produção, cultura
local, remuneram corretamente seus colaboradores etc.
Falando
em Cultura Local, sugiro aproveitar sua próxima viagem e buscar um brechó. Quem
sabe você volta para casa com uma peça que expressa a cultura do local onde
você esteve.
A
Rebecca, idealizadora deste Blog sempre faz isto. E na Casa MeMa tem peças
lindíssimas que ela trouxe de várias partes da África.
Vou finalizar com algumas pistas de ideias para vocês seguirem: Temos diversas marcas brasileiras que seguem o conceito de Slow Fashion. Brechós como: Brechó Casa da Ro na Vila Galvão/SP (@brechocasadaro), Samburá, Casa André Luiz, AACD e vários outros são Excelentes locais para comprar peças usadas; Existe uma empresária brasileira que criou um App para alugar peças de roupas casuais; Guarda roupas compartilhado que pode funcionar entre amigues, etc.
Por agora é isto pessoal. Espero que gostem, fiquem a vontade para comentar, partilhar com seus amigos e amigas, e convido vocês para conhecer meus produtos através da página @moda_tupinikin no Insta. Fiquem de olho que logo eu volto com mais matérias envolvendo Moda, ou Viagens, ou Ambos.
Imagem: Photo by allison christine on Unsplash