12 enfermeiras negras negligenciadas na história para conhecer

O ano 2020 foi instituído pela Organização Mundial da Saúde(OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS), como o ano internacional da Enfermagem e Obstetrícia. Mediante a este marco iremos apresentar ou relembrar 12 enfermeiras negras negligenciadas na história para conhecer.

Não foi à toa que se instituiu este ano para esta celebração, mas por duas razões: o mundo precisa de mais de 9 milhões de enfermeiras(os) e obstetrizes para atingir a meta de cobertura universal de saúde até 2030. E pelo 200º aniversário de nascimento da Florence Nightingale – a fundadora da enfermagem moderna.

No dia internacional da Enfermagem, 12 de maio, escrevo este texto com um histórico racial para que pensemos enfermeiras negras, que talvez não nos contaram nas aulas de história da enfermagem ou que no nosso dia-a-dia são negligenciadas devido seu estereótipo racial.

A enfermagem é conhecida como a arte do cuidar. E vamos trazer o histórico de mulheres negras tiradas forçadamente da África para o mundo, sendo submetidas a situação de escravidão e prestação do cuidado à todas as pessoas da sociedade colonial, em situações de manutenção da saúde ou na doença em todas as etapas do ciclo de vida. Neste contexto de escravidão nota-se que essas mulheres negras muitas vezes eram impedidas de cuidar de outras pessoas escravizadas e familiares, pois o cuidado exercido por estas mulheres negras no período colonial tinha como função social a servidão escravocrata. As mulheres negras prestavam o cuidado como negras domésticas, mães pretas, parteiras, enfermeiras e amas-de-leite.

No Brasil não seria diferente, o cuidado é/era exercido majoritariamente por mulheres negras. Atualmente no país há cerca de 3,5 milhões de profissionais da saúde, e aproximadamente 50% são da enfermagem, destes 86% são mulheres e 53% são negras e negros.

Neste texto gostaríamos de apresentar 12 mulheres negras que atuam como enfermeiras que fizeram e fazem parte da nossa história à nível mundial.

Mary Jane Seacole – Enfermeira negra jamaicana atuante na guerra da Crimeia, isso mesmo, a mesma guerra onde se tem o destaque para Florence Nightingale. Mary aprendeu através dos ensinamentos de sua mãe negra que praticava cuidados através da medicina tradicional,  assim como o tratamento aos doentes e combate às doenças endêmicas. Em 1854, inscreveu-se para participar da equipe de enfermagem da Florence para cuidar dos soldados feridos da Guerra da Criméia, porém não foi aceita, apesar das cartas de recomendações dos governos da Jamaica e Panamá.

Mary Jane Seacole - Enfermeira negra
Mary Jane Seacole – Enfermeiras negras

Um não, não é suficiente para barrar uma mulher negra, Mary Seacole arrecadou fundos para viajar por conta própria à frente de batalha. Com o dinheiro que obteve montou o British Hotel onde vendia comida e bebida aos soldados para custear as despesas do atendimento a doentes e feridos dos dois lados, teve como nome – Mãe Seacole.

Mary foi ignorada no Memorial da Guerra da Criméia, em Londres em 1915, até ter sua autobiografia encontrada em um sebo. Onde foi homenageada no Reino Unido e na Jamaica, onde dá nome à sede da Associação Jamaicana de Enfermagem.

Ressaltamos a história de Mary Elisa P. Mahoney, primeira mulher negra americana diplomada enfermeira pelo New England Hospital for Women and Children, em Boston

Mary Elisa P. Mahoney  - Enfermeira negra
Mary Elisa P. Mahoney – Enfermeira negra

Na história Brasileira, também temos a guerra e neste caso a do Paraguai e a enfermeira branca destaque – Ana Neri a percussora da Enfermagem no Brasil, como destacado na literatura. A guerra do Paraguai se deu no período da escravidão, ou seja, muitas mulheres negras enfermeiras estavam envolvidas porém com suas histórias negligenciadas.

Maria Soldado - Enfermeiras Negras na guerra
Maria Soldado – Enfermeiras Negras na guerra

Maria Jose Barroso, depois conhecida como “Maria Soldado”  foi uma notória enfermeira de guerra. Atuou na guerra civil da revolução constitucionalista de 1932, inicialmente, seus feitos e posicionamento político eram exercidos como “enfermeira” da Legião Negra, posteriormente passando a atuar na linha de frente de batalha. Maria Soldado, é considerada a precursora da enfermagem moderna no Brasil. A mesma não ingressou em uma instituição de nível superior para diplomação em Enfermagem, pois não tinha os requisitos de ser a mulher ideal para compor a enfermagem profissional no Brasil por não ser “branca, culta, jovem e saudável”, assim excluía – se as mulheres negras.

Maria Soldado - Enfermeiras Negras
Maria Soldado – Enfermeiras Negras

A profissão de enfermeira para mulheres negras no Brasil foi negada durante 2 décadas 1920 e 1930, ou seja, na primeira escola de enfermagem, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro – UNI-RIO, mulheres negras não eram bem-vindas.

Lydia das Dores Matta, Josephina de Melo, Lucia Conceição e Maria de Lourdes Almeida no ano 1943 na cidade de São Paulo, são as primeiras negras oriundas de estados pobres e distantes a ingressarem no Curso Básico de Enfermagem na Universidade de São Paulo, a escola de maior projeção da América Latina na época a ingressarem na universidade assim como formam-se en Enfermagem. A escola de enfermagem da USP foi criada em 1940, 3 anos depois ingressam as primeiras negras a cursar a universidade.

Lucia Conceição e Josephina de Melo primeiras enfermeiras negras diplomadas no Brasil
Lucia Conceição e Josephina de Melo primeiras enfermeiras negras diplomadas no Brasil

Rosalda Paim iniciou o curso em Enfermagem em 1947 pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa – EEAAC da Universidade Federal Fluminense – UFF, na época denominada Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro, graduando – se em 1950. Com um currículo invejável de especializações, visava romper com o modelo hegemônico curativista a o trazer conceitos que ainda não eram discutidos e utilizados no sistema de saúde como, integralidade, humanização, hierarquização dos serviços, referência e contra-referência.

A trajetória profissional de Rosalda Paim é norteada por marcos teóricos, sociais e políticos da virada do século XX para o XXI no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, de modo que a mesma teve um papel de destaque no processo de modernização da enfermagem brasileira, na formação do enfermeiro e profissionais de saúde, na democratização brasileira e na mudança de paradigma na atenção em saúde.

Rosalda Paim, a primeira enfermeira parlamentar e negra do Brasil, exerceu o mandato de Deputada Estadual do Rio de Janeiro, pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT no período de 1983 a 1987. Utilizando-se de sua formação em educação, saúde e enfermagem Paim criou e teve aprovada 20 leis na área de saúde e assistência social, assim ela exerceu uma atuação política notória e importante para a sociedade carioca e brasileira.

Rosalda Paim - Enfermeiras Negras
Rosalda Paim – Enfermeiras Negras

A enfermeira negra Izabel Santos iniciou sua trajetória profissional no Serviço Especial de Saúde Pública – SESP ligado a Opas – Organização Panamericana de Saúde na década de 50, onde atuou por 20 anos, posteriormente passou a integrar o quadro de professores Universidade Federal de Pernambuco – UFPB e por fim retoma seu vínculo com a OPAS em 1976, onde atuou como consultora até 1997, assessorando o Ministério da Saúde. A sua contribuição de maior destaque está na formação profissional de enfermagem, sobretudo no nível técnico com a idealização do Programa de Qualificação de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem – PROFAE.

Izabel Santos – Enfermeira Negra

Maria Stella de Azevedo dos Santos – Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi,  iniciou a graduação de enfermagem aos 15 anos de idade, tornou-se enfermeira pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Após sua formatura especializou-se em Saúde Pública e passou integrar o quadro de enfermeiras sanitaristas da Secretária de Saúde do Estado da Bahia – SESAB em um Centro de Saúde.

yalorixá mãe Stella de Oxóssi - Enfermeira Negra
Iyalorixá mãe Stella de Oxóssi – Enfermeira Negra

Enfermeira e Iyalorixá torna-se imortal em 12 de setembro de 2013 ao assumir a cadeira de número 33 na Academia de Letras da Bahia após ser eleita por unanimidade. Por essa cadeira que tem o poeta Castro Alves como patrono, já foi ocupada pelo seu amigo, o também escritor Ubiratan Castro de Araújo

Dona Ivone Lara formou-se pela Faculdade de Enfermagem do Rio (atualmente Faculdade Alfredo Pinto, da UNIRIO). Dedicou-se intensamente à profissão, especialmente à Saúde Mental. Costumava percorrer as enfermarias e pavilhões do Instituto Psiquiátrico Pedro II em busca das histórias, referências e laços familiares dos pacientes. Era uma rotina, que além de dar-lhe satisfação, fazia parte do tratamento terapêutico.

Done Ivone Lara - Enfermeira Negra
Done Ivone Lara – Enfermeira Negra

Prestou concurso público para o Ministério da Saúde em 1942, antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira, onde atuou por mais de três décadas com pacientes afetados por graves transtornos mentais. Fazia plantões de 24/48 horas que, segundo ela, eram desgastantes, mas, ao mesmo tempo, muito gratificantes já que ajudavam a diminuir o sofrimento dos que procuram as unidades públicas de saúde.

Atuou com Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que rebelou-se contra a lobotomia, eletrochoques e outros métodos agressivo de tratamento de Saúde Mental, defendendo um tratamento humanizado da loucura. Com Nise, especializou-se em terapia ocupacional.

Soube combinar a música e as habilidades de enfermeira para ajudar seus pacientes a enfrentar transtornos mentais. A música funcionava como um bálsamo consolador nas inúmeras festas que promovia com suas colegas de trabalho. Ela cantava e dançava com os pacientes e, assim, transformava aquela rotina, tantas vezes esgotantes, em momentos de felicidade.

E não poderia deixar de mencionar as duas ex-esposas de Mandela que se formaram enfermeiras Winnie Mandela e Evelyn Mase, mas essas histórias ficarão para outro texto.

Winnie Mandela - Enfermeiras Negras
Winnie Mandela – Enfermeiras Negras

Não há dúvidas que na nossa história existem muitas enfermeiras negras que fizeram e fazem história e que tem importância política nesta atuação, dispondo-se para serviços de guerras, endemias, pandemias, assim como atuação nas atividades científicas, hospitalares e nas comunidades.

Que essa profissão seja reconhecida e valorizada e com o seu devido destaque para a questão de gênero e raça.

Referência para esse texto foi o excelente estudo de graduação de Cláudio Bonfim de Oliveira Nascimento Junior: BLACK LADIES NURSES?! SIM: Enfermeiras negras e a construção da identidade da Enfermagem no Brasil

https://www.instagram.com/rebeccalethei/

Por que temos dificuldade de estarmos ou sentir-se satisfeitos?

Boa parte do tempo não estamos satisfeitos e sempre irá faltar algo e talvez nunca iremos aceitar o porquê tudo isso está acontecendo, temos uma dificuldade em encontrar ou se sentir completas/os.

Darei alguns exemplos de pessoas que encontrei pelo mundo e eu não compreendia as suas colocações e posteriormente a suas decisões:

— Eu estou cansado de viajar, vou retornar ao meu país!

Kevin, um viajante de bicicleta, que estava percorrendo o mundo após longa conversa ele sentiu-se seguro em dizer a sua decisão. Nos conhecemos no Tajiquistão e foi a primeira vez que eu ouvi alguém dizer isso principalmente quando esta parece a melhor escolha da vida, viajar o mundo com o seu próprio meio transporte. — Isso não quer dizer que ele parou de viajar, mas aquele plano por hora foi feito, parar de dar a volta ao mundo.

— Estou num hotel 5 estrelas com tudo pago por 2 semanas. Eu não queria estar aqui!

A frase da minha amiga Paloma — alterei o nome para preservar a identidade, após diversas vezes dizer que este era o seu sonho, estar dias em um hotel 5 estrelas, relaxando.   

— Ficar em casa tem sido um saco. Não estou aguentando mais…

A frase mais comum nesta quarentena de norte a sul do mundo. Sei que todo o mundo já verbalizou por diversas vezes a vontade de querer ficar em casa vários dias.

Quando digo que temos dificuldade em estarmos satisfeitos é saber que queremos ter sempre algo novo, novidade e talvez em casa não há mais a tal novidade. Mas tenha calma, temos que recriar este novo mundo. A internet vai fichar chata, os filmes estarão sem graça, aliás, já assistimos todos, os livros serão poucos, os challenges serão cansativos. Ao reler e rever a história de Frida Khalo me foi um re-start de pensar como alguém pode viver 18 meses na cama engessada e reinventar a sua vida?

Criança Tadjique muito parecida com a Frida Khalo - A dificuldade de estarmos satisfeitos
Criança Tadjique muito parecida com a Frida Khalo

Não estou aqui querendo romantizar essa história ou trazer toda a discussão sobre a sua vida entre prós e contras, mas pensar que uma estudante de medicina se descobriu artista, teve que se reinventar. Usar a saia para esconder as sequelas da paralisia infantil e usada como moda até os dias atuais.

Frida Khalo teve problemas mentais, não é fácil estar a se redescobrir, reinventar e lidar com o seu eu diariamente, mas poder se encontrar, se ver, se entender e/ou se desentender é necessário.

Quais foram as novas reinvenções da sua vida neste novo momento?

Queremos as nossas vidas de volta, queremos estar com todo o mundo, queremos essa tal liberdade de ir e vir, eu também! Como estamos nos reinventando?

Quantas vezes agradecemos pela vida, pelo emprego que ainda temos, pela comida nas nossas mesas, pela oportunidade de não termos contraído nenhuma doença.

Tenho certeza, que quando acabar tudo isso, você no muro das lamentações irá ecoar aquela velha frase:

— Podíamos trabalhar de casa e vir apenas 2 dias na semana;  

— Gostaria de ficar em casa todos os dias da semana;

— Odeio segunda-feira…

A diferença é que temos uma dificuldade de estarmos satisfeitos e estamos em busca de mais. Nem sempre o que não nos traz satisfação quer dizer que não seja bom, está apenas acontecendo que teremos que nos readaptar para tomar algumas novas decisões. Agradeça a oportunidade de poder estar quase tudo bem com você e a sua família, se recrie, não desista.

Leia Também:

https://www.instagram.com/rebeccalethei/

Ana torquato poeta e sua poesia

Poesia – O melhor de cada um

Poesia de Ana Torquato

Explore
Explorando
Sem ser
Explorado
Explore

O seu é diferente
Do outro,
Mostre o seu,
Insista com o outro
Compartilhem…

Pode ser dom
Pode ser bom
Com som
Sem som
Consuma…

Cada ser
Sabe ser
O melhor de si
É só deixar
Fluir…

Tem ali,
O que varre
O que costura
O que escreve
O que pensa

E até o que não faz nada
Acaba fazendo
O seu melhor,

As vezes é só
Ser só,
Explore,
Sem ser explorado
Permita-se!

Ana Torquato – Escritora e poeta por amor, com dois livros publicados e participação em antologias, foi premiada com o primeiro lugar em um concurso nacional de poesias no ano de 2019 , é membro da Academia de Letras da Manchester Mineira em Juiz de Fora, formada em Administração de empresas, é bacharela em Ciências Humanas e pós graduada em Gestão de Pessoas.

Apaixonada por viagens, fotografia, aventuras e correspondente da Bitonga Travel.

Envie sua poesia para bitongatravel@gmail.com

Leia também:

Moda – Como vivenciar de modo sustentável

Vou começar este texto com um questionamento que já foi muito inquietante para mim: Você alguma vez já se perguntou para onde vão as roupas quando caem de moda e não desejamos mais usá-las? E, portanto a roupa de todo o mundo quando não são mais desejadas?

Pois é, até a presente data de 2020 não se comprovou a existência de um buraco branco onde tudo o que é despejado desaparece.

Então eu gostaria de propor algumas possíveis ações para lidarmos não apenas com estas peças indesejadas, mas também falar sobre opções do meio do caminho. Ou seja, como poderemos adquirir e ‘descartar’ roupas com menos culpa.

Vamos juntos pensar sobre isto?

O objetivo é pensar em aquisição de roupas, pensar sobre tendências que mudam rapidamente e sua posterior destinação quando não mais as desejamos, ou ainda o mais terrível…

Quando já saíram de moda!!!

Entretanto eu posso pensar que: Eu não posso ser responsável pelas escolhas das pessoas, seja em adquirir ou se desfazer de roupas.

Considero que vestir é uma necessidade essencial em nossa sociedade e, portanto, eu preciso comprar roupas. Além de ter o direito de me desfazer delas quando bem desejar ou precisar.

Interessada por Moda como sou, já li e ouvi falar bastante a respeito do quanto a indústria têxtil é poluente, o quanto muitas marcas utilizam forças de trabalho análogos à escravidão e não apenas isto, conta-se que menos de 1% do material produzido por esta indústria dá origem a novas peças e/ou tem possibilidade de ser reciclado.

Segundo a Fundação Ellen MacArthur, são gastos cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano na produção têxtil.

Você percebeu que eu escrevi Bilhões? Gente, é muita coisa.

Isto sem contar as Bilhões de toneladas de emissões de gases que causam o efeito estufa no Planeta.

Então o que temos como objetivo aqui é evidenciar que a necessidade suprema – da nossa sociedade atual – de vestir, não precisa necessariamente estar ligada ao consumo desenfreado proposto pelas grandes cadeias, redes e marcas de moda Fast Fashion que nos faz querer consumir exaustivamente as tendências que são ditadas de tempos em tempos (considere aqui os calendários de semanas de moda) sendo que, muitas vezes, quando a gente enfim adquire aquela peça ela já saiu de moda.

E isto nos leva a um looping infinito de aquisições e descartes para simplesmente seguir tendências, que nem sempre conversam com o nosso estilo, visão de vida, ou mensagem que desejamos passar através da nossa vestimenta.

Um belo exemplo: Quem já se rendeu à uma tendência de Moda que sequer era aquilo de que gostava levanta a mão.

Eu já: Houve um tempo em que a cor roxa, ou lilás, esteve muito ‘na moda’. Eu, embora não gostasse, adquiri uma blusinha da tal cor. Já uma amiga foi além: Ela também não gostava da cor, mas rapidamente adquiriu várias peças para seguir a tendência.

Ela, tendo melhores condições financeiras do que eu, poderia facilmente convencer seus pais a comprar várias peças novas e usar ou descartar quando bem quisesse. Já eu, que pude comprar apenas uma peça não tive grande prejuízo quando a tal moda acabou.

Passado este fato, houveram dois recursos que eu utilizei de maneira efetiva alguns anos depois: Senso crítico para pensar sobre a necessidade real de adquirir algo de que eu sequer gostava e que não me faria falta; e o acesso a roupas usadas, que diminuiria mais ainda o meu gasto. Assim eu pude começar a agir de acordo com uma visão responsável sobre o consumo consciente e sustentável de moda.

Porém antes disto e por muitos anos, eu tive muito receio de consumir roupas de brechó. Eu pensava que, assim como falavam, as peças poderiam ser sujas, com energia negativa por desconhecer sua procedência, que poderiam me trazer algum mal à saúde etc. Todas as crenças limitantes que circulavam por aí e depunham contra Brechós me assustavam.

Só que, ao mesmo tempo, eu tinha um incômodo muito grande com relação a:

  • Quando finalmente eu comprava a tal peça da moda, ela saía de moda. Porque afinal eu nunca tive dinheiro para comprar roupas assim que os desfiles lançavam a tendência;
  • Roupas ou combinações aclamadas pela mídia e que estavam em todas as lojas não me agradavam;
  • Eu detestava com força me sentir parte de um exército de pessoas que usavam a Mesma Roupa;
  • Eu tinha um medo supremo de ir a algum compromisso, como festa ou casamento, e encontrar alguma pessoa vestida igualzinha a mim, sendo então o que minha mãe chamava de “Par de Vasos”. Aqui eu fiz uma pausa grande para dar gargalhadas.

Já comprando roupa em brechó eu teria a possibilidade de encontrar roupas de qualquer parte do mundo, roupas antigas e de moda passada mas que poderia me agradar e compor um estilo muito legal em combinação com o que eu já tenho, ainda considerando oque eu falei logo na introdução deste texto: roupas que alguém não quer mais não desaparecem do planeta por osmose.

O Brechó é tipo um “mundo paralelo” cheio de recompensas para quem tem paciência e disposição em desbravá-lo, uma vez que se pode desenvolver um estilo próprio que conversa com suas crenças, neste caso a sustentabilidade.

Pode-se também diminuir grandemente o gasto com roupas, acessórios, calçados e até decoração, uma vez que as peças que se encontram lá tem um custo muito baixo. E caso você compre, digamos, uma roupa que está muito grande, um pouco pequena, com furo, rasgada etc, pode-se levar em uma costureira seja para fazer ajustes, customização, ou até mesmo reforma e transformação de uma peça em outra. Por exemplo: Você vê um vestido de uma cor que te agrada, com um tecido que você já sabe que é bom por ter resistido à ação do tempo. E então o transforma em uma camisa, faz um conjunto de saia e blusa. Enfim, são inúmeras possibilidades de se transformar totalmente uma peça, se beneficiar e ainda dispor do trabalho de uma costureira do seu bairro, que muitas vezes são senhoras que conhecem muito de moda e têm histórias incríveis para partilhar.

Talvez você diga: Ah, mas eu não conheço nenhum Brechó próximo da minha casa ou no meu caminho.

Gente, uma pesquisa no Google, Facebook, Instagram e afins abrirá um novo mundo, porque então começarão a surgir sugestões a partir desta primeira busca.

Outra dúvida: Tenho uma crença/ religião que me deixa preocupada com a energia trazida pela roupa.

Uma boa lavagem, eventualmente com sal grosso, antes do uso já resolve. Além da alegria de saber que está fazendo um consumo mais responsável.

Outra possível preocupação: Tenho muitas roupas que não uso mais, e sempre colocava no saquinho com o lixo para descarte.

Você já pensou que uma roupa que foi escolhida com cuidado e intenção de te embelezar, pode muito bem compor memórias felizes para outras pessoas? Então Doe! Seja para um Bazar de igreja, Venda ou Doe para Brechós, Venda On Line, Proponha troca com seus amigos e amigas. Existem muitas possibilidades.

O nome desta prática, junto com várias outras ações, é Slow Fashion. E consiste em repensar nosso consumo, tornando-o mais consciente tanto na aquisição quanto no repasse de roupas, a partir do momento em que passamos a ressignificar nossa vestimenta, valorizando cadeias que são mais justas e éticas com pessoas que atuam na moda como costureiras, pequenas e novas marcas, novos estilistas, marcas efetivamente sustentáveis, que respeitam os tempos de produção, cultura local, remuneram corretamente seus colaboradores etc.

Falando em Cultura Local, sugiro aproveitar sua próxima viagem e buscar um brechó. Quem sabe você volta para casa com uma peça que expressa a cultura do local onde você esteve.

A Rebecca, idealizadora deste Blog sempre faz isto. E na Casa MeMa tem peças lindíssimas que ela trouxe de várias partes da África.

Vou finalizar com algumas pistas de ideias para vocês seguirem: Temos diversas marcas brasileiras que seguem o conceito de Slow Fashion. Brechós como: Brechó Casa da Ro na Vila Galvão/SP (@brechocasadaro), Samburá, Casa André Luiz, AACD e vários outros são Excelentes locais para comprar peças usadas; Existe uma empresária brasileira que criou um App para alugar peças de roupas casuais; Guarda roupas compartilhado que pode funcionar entre amigues, etc.

Por agora é isto pessoal. Espero que gostem, fiquem a vontade para comentar, partilhar com seus amigos e amigas, e convido vocês para conhecer meus produtos através da página  @moda_tupinikin no Insta. Fiquem de olho que logo eu volto com mais matérias envolvendo Moda, ou Viagens, ou Ambos.  

Imagem: Photo by allison christine on Unsplash

 

Moda e viajem – Um encontrando no universo dos tecidos coloridos

Eu não sou do mundo da moda e nem tenho pretensão de entrar neste mundo. Mas eu preciso dizer que ao longo da minha vida de viajante e quando a gente se encontra, quando nos conhecemos como parte neste mundo se vestir flui e não se torna um peso, se torna algo prático. Mas chega de romance amiguinhxs, antes de mostrar por onde vivi e por onde passei precisamos mostrar a caminhada e relação entre moda e viajem.


Rebecca Aletheia – Victória Fall´s na Zámbia – Moda e viajem

Criar a minha identidade pessoal em uma infância discriminatória, racista e machista fora do meu ambiente familiar foram sempre muito difíceis porém sempre me fortaleceram, longe de mim ser a super poderosa, a melhor bla, bla, bla. Saiba que essa não é questão de me enaltecer porque eu não preciso disso. Mas é pensar de onde surgiu esse EU!

Como criar minha identidade após anos/décadas as minhas roupas serem mencionadas como baiana? Como conseguir sobreviver sã com esse assa grave discriminação racista e xenofóbica, o que me fez a ter a minha consciência política de que SIM! Eu estou BAIANA e isso para mim, significa que estou mais linda.

Meus avós, nesse caso os três, Vó Alice, Vó Maria e Vô Sebastião vieram da Bahia e sempre nos ensinaram a ter orgulho e quanto a Bahia tinha muito a contribuir para todo o Brasil e eu não tenho dúvida, eles estavam certo, mostrando a sua importância na história, certamente meus irmãos e primos lembram da vó Maria dizendo todos os artistas baianos e sua importância para a nossa valorização cultural.

Eu sofri, ahh sofri muito, mas nunca deixei de ser eu, ter a minha personalidade, de ser livre em fazer minhas escolhas. Já contei para vocês no relato da minha história profissional parte 3 sobre como foi dolorosa a minha questões com roupas até para ser aceita no meu grupo de amigas quando eu usava uniforme para ir à escola no período do noturno quando não era obrigatório e quase ninguém usava.

Misturo cores, hoje você diz ser bonito, mas por muito tempo eu ouvi ser dito como ridículo. Doeu, mas eu nunca esmoreci, sobrevivi, o que você diz ser moda e viajem hoje, eu te digo, foi a minha teimosia e resistência.

Sempre fui apaixonada por cores e tenho um pai que tem muito estilo até mais que mamãe, tudo tem que se conectar, combinar, ser original e autêntico. Aprendi a importância de valorizar os artesãos e os produtores locais que não há preço que pague esse trabalho e reconhecer quem produz.

Eu nem preciso dizer que AMO CORES e poder viver por mais de um ano nos países dos tecidos(Tadjiquistão e Moçambique) foi uma realização, era como se eu estivesse no universo mágico das cores, se você der um Google sobre Tadjiquistão você não irá encontrar muitas informações e para a minha felicidade ao chegar por lá o país é colorido e cheio de tecidos um mais lindo que o outro, cada esquina uma loja de tecidos, ahhh eu estava no paraíso e reacendia o meu contato com moda e viajem.

Moçambique o país das capulanas, assim como chamam os tecidos africanos por aqui, nem preciso dizer que amo e como eu não coso, isso mesmo, eu não COSO! Em Moçambique a palavra costurar é dita como Coser, amo criar amo olhar o tecido e pensar no que podemos transformar esse tecido e fazer com que fique mais lindo. Os tecidos africanos têm uma pegadinha com os desenhos precisam ser simetricamente compostos e isso é realmente para especialistas e eu não me arrisco a cozer. Queria fazer aula de costura, mas era muita atividade para uma mulher só, ainda amo poder cada dia descobrir uma nova costureira ou costureiro e pensar ideias juntas, poder imaginar uma nova roupa, poder contribuir mais para a comunidade.

Rebecca Aletheia - Estação ferroviária de Maputo - Viajem e moda
Rebecca Aletheia – Estação ferroviária de Maputo – Viajem e moda

Sou do universo criativo, não sou das habilidades manuais, eu não tenho muita paciência, quero que as coisas fiquem prontas rápidas, mas no universo da costura, da moda tudo tem o seu tempo. Eu consigo compreender que está tudo bem em eu não poder fazer tudo e que tem pessoas aptas para todos os tipos de atividade, porém preciso cooperar para que todos os produtores tenham o seu legitimo e merecido reconhecimento.

Vivendo no Tadjiquistão, mas especificamente na rota da seda, fiz questão de ir em uma plantação de algodão e colher para sentir na pele que tudo tem uns preços e valores que não fazemos ideia o quão trabalhoso é desde o plantio e a colheita. Eu senti a dor em colher algodão, assim machuquei a minha mão. Isso para mim era pensar em moda e viajem. Pude parar para admirar o agricultor a rezar para Alá agradecendo a possibilidade de não ter tido praga este ano.

https://www.instagram.com/p/BaHHI3NAnKG/

Tentei por diversas vezes aprender a costurar, mamãe tentou, porém, santa de casa não faz milagre. Minha primeira vez com uma professora de costura ela só falava em Tadjique, ou seja, era no olho e por algumas palavras que eu podia entender. Cheguei a comprar a minha primeira máquina de costura no Tadjiquistão, tive uma relação de amor e ódio, a gente não se entendia, eu não sabia costurar e não sabia quantos detalhes tem a máquina. Comprei com um rapaz que só falava tadjique e o Sasha(motorista) me ajudava a traduzir, mas ele não falava muito bem inglês e me traduzia como conseguia. Eu voltava com a máquina toda semana e dizia que não funcionava, até o Sasha sugerir que eu pedisse a um tradutor para ir comigo, mas nada de eu aprender a coser, não era nosso tempo. Aprendi a passar a linha na máquina, aprendi a rebobinar aprendi a ter paciência assim como doei a máquina a um colega do trabalho que queria presentear a esposa fazia anos, porém não tinha dinheiro. Ele me liga até hoje agradecendo a máquina.

Rebecca Alethéia com a sua primeira máquina de costura no Tadjiquistão - Moda e viajem
Rebecca Alethéia com a sua primeira máquina de costura no Tadjiquistão – Moda e viajem

Voltei ao Brasil e fiz um curso básico de corte costura com as Candaces Moda Afro, foi muito legal e dessa vez em Português. Hoje me sinto muito segura em fazer bainha, considero um trabalho árduo preciso dizer.

Aprendi também que implorar desconto nem sempre é justo com todos os meios de produção é negligenciar cada ato da produção, considero a importância de poder pensar nas minhas roupas. Valorizar os produtores das regiões, países dos quais passo e pensar em um consumo consciente em doar quando tenho em excesso e doar enquanto está em boa qualidade, de poder fazer meus bazares de troca assim como fazer meu brechó de desapego.
E hoje compartilho meu guarda-roupa de roupas para que as pessoas possam alugar peças ao redor do mundo na Ubuntu Guarda-Roupas

Diminui meu guarda-roupa e acredito que nossas roupas assim como eu uma viajante, as minhas roupas precisam voar, precisa encontrar outros corpos e fazer com que nossa energia circule (como a Thalita Fonseca me ensinou), não podemos nos apegar às peças de roupa, precisamos é saber que tudo deve ser consciente, que além de ter é ser! A roupa traça a nossa personalidade, mas podemos trazer a nossa personalidade a roupa e é isso que temos que fazer.

Rebecca Aletheia - em uma festa de casamento tocando instrumento tradicional - Moda e viajem
Rebecca Aletheia – em uma festa de casamento tocando instrumento tradicional – Moda e viajem

Esta é a minha história com moda e viajem, viajem e eu. Conte-nos a sua história

https://www.instagram.com/rebeccalethei/