Viajando sozinha pela África

Primeiramente gostaria de dizer que essa não foi a minha primeira viagem sozinha por países africanos,mas quero contar a minha terceira experiência de um mochilão viajando 6 países da África – Moçambique, Suazilândia, África do Sul, Zimbábue, Botsuana , Zâmbia em 15 dias.

Wow, só de ver já da pra saber o quão aventureira foi esta viagem, preciso confessar que eu estava com medo pelo que muita gente fala e falava sobre o quão perigoso é viajar pela África e sozinha. Atualmente moro em Moçambique e me recusava comentar detalhes porque sabia muito bem o quanto teria retalhações de que seria uma loucura o uso de transportes coletivos e uso de couchingsurfing essas coisas…

Bom engoli o medo e planejei a viagem, comprei as passagens antes, quer dizer a passagem só da Victoria’s fall e a certeza que eu encontraria uma carona até Johanesburgo. Os vôos de volta para onde resido eram absurdos de caro e me restava voltar por terra o que me aguçava a curiosidade em fazer essa viagem. Atravessar o Zimbabue inteiro por terra, assim como eu fiz pela Suazilândia…

Eu fui sempre muito bem acolhida e cuidada em todas às vezes que eu estive perdida ou buscando algo. Isso foi para todos os países, o único problema que tive era que para algumas negociações eu pedia para pessoas locais participar da conversa comigo para decisão de valores, mas sempre que eu estava dentro do ônibus ou táxi ou no restaurante sem essa pessoa que me auxiliava aleatoriamente, eles mudavam o valor da moeda local como dito anteriormente. Não aconteceu muitas vezes, mas aconteceu e eu me sentia vulnerável em continuar negociação ou insistir na discussão. Como quando estava no táxi com dois homens que mudaram drasticamente o valor. E aí vc continua discutindo ou esperar o pior acontecer? Paga e vai, era minha vida em jogo, acho que eles não fariam nada comigo, mas é melhor prevenir do que remediar.

Por diversas vezes, os moradores locais de todos os países do qual eu passava algumas pessoas me colocavam dentro do ônibus, esperava comigo o ônibus sair, me esperava pagar o valor que deveria ser pago, quando o ônibus saia a pessoa pedia pra descer do ônibus, tendo a certeza que eu entrei, paguei o valor correto e estava sentadinha em um lugar seguro e confortável. Tudo isso sem cobrar NADA em troca e nem me sentir assediada, homens e mulheres fizeram essa gentileza comigo.

Outra história boa foi quando cheguei na rodoviária dá Victoria’s fall para pegar o ônibus pra Harare o rapaz disse que o ônibus estava cheio e que não tinha mais vaga, eu implorei tanto ele disse, entra e senta! Obedeci sem me hesitar, no primeiro lugar que eu sentei chegou a dona, me mudei, no segundo lugar que escolhi a dona chegou também. Uma senhora disse: sente ali, se alguém chegar eu resolvo! Hahahaha me diz se não foi uma graça? 13h sentada na janelinha.

Tenho que lembrar a outra história de quando eu fui pra Pretoria, eu já tinha na mente que quando eu saísse do festival precisava de uma carona, viajei já na maldade como diriam. A maioria das pessoas iriam embora na segunda feira, o meu vôo era na segunda-feira para a Victoria’s Fall. Conheci um grupo de Sul africanos muito amáveis que estavam de carro e trabalhando no evento, iam na segunda-feira de manhã. Mas queríamos curtir o último show, os últimos minutos no Festival do Bush Fire. Após eu expor minha situação, eles não hesitaram e era 20h estávamos nós com o pé na estrada correndo para cruzar a fronteira antes de fechar, viajamos a noite toda tudo para que eu não perdesse o vôo. E mais uma vez, sem assédio sem nada em troca, foi bem legal esse apoio mútuo.

Em todos os momentos e todos as passagens sempre houve muito cuidado para comigo, em nenhuma hora eu me senti ameaçada ou insegura, muito pelo contrário, na Swazilandia após andar 45 minutos na estrada um Rastaman me deu carona de 10 minuto na maior camaradagem, conversamos, ficamos mudos e rimos muito.

Assim como no Zimbábue, eu não tinha 1 dólar na carteira apenas um cartão de crédito que não funcionava muito bem no país por conta dos problemas econômicos e o Hostel que eu ia ficar não aceitava o cartão e eu não conseguia sacar, ou seja, estava com um grande problema e comecei a andar pela cidade de Harare com todas as minhas malas a procurar um hotel ou Hostel barato.

Andando sem conseguir pensar o que fazer e como fazer, eis que um rapaz me para e pergunta se estava tudo bem. Explico a história para ele, e ele diz que já tinha me visto andar desde o centro de cidade até esse bairro e estava preocupado por ver alguém está andando tanto com a mala e saco de dormir. Ele me ofereceu ajuda, disse que me levaria a um hotel de confiança que com certeza meu cartão passaria e que eu não deveria ficar a vagar pela cidade de malas. Ele é um médico, não me lembro a especialidade, me apresentou o pai, a filha e o filho; era o horário das rotinas familiares, acompanhei e ele me deixou no hotel recomendado, foi caríssimo, porém entendo o cuidado que ele teve para comigo.

Muitas pessoas me perguntam se eu nao tenho medo e como eu faço para saber em quem confiar, sinceramente ainda não sei, mas eu sei que os Passos tem sido guiado por onde eu ando.

Foram tantos cuidados, tanta proteção que alguns dizem que eu tenho sorte, diga o que você quiser, mas eu digo que é muita prece, orações, devoções e pessoas que me querem o meu bem, assim como eu também às quero. Sempre existirá alguém intercedendo e rogando por mim, gratidão por pedir proteção e condução divina aos meus passos.

Obrigada mãe África por me abraçar enquanto todos diziam não vá, por cuidar de mim e por fazer com que o medo seja traduzida em sabedoria, determinação, mandingas e perspicácia.


A Mulher Negra Latino Americana, Caribenha e Africana viajante Edição Salvador

Roda de Conversa Bitonga Travel – Edição SALVADOR

A Mulher Negra Latino Americana, Caribenha e Africana viajante Edição Salvador

Após a roda de Conversa em São Paulo Mulheres Negras Latino Americana Caribenha e Africana agora é a nossa vez da edição em Salvador, sendo assim a Bitonga Travel juntamente com a Katuka Africanidades se unem para realizar o encontro em Salvador de Mulheres Negras Latinas Americanas, Caribenhas e Africanas com o objetivo de discutirmos sobre mulheres negras pelo mundo. Mulheres que transformam e são transformada em suas caminhadas por onde passam, mostrar que esse espaço sempre foi nosso é o nosso maior prazer.

Manoela, viajante (@escritoraviajante) juntamente com Domênica Guimarães, Audio Visual da Bitonga Travel e AfronLab (@domenica.guimaraes) em sua viagem pela Bahia estarão abrilhantando a conversa e proporcionando essa troca. Essa atividade tem o objetivo de trazer a visibilidade à nossa história e nossos percursos enquanto mulheres negras, assim como encorajar mulheres negras a viajarem, proporcionar aquela trocar de experiências entre mulheres negras viajantes e não viajantes.

A Programação: 18h00

Abertura do espaço 18h30

Fala de Abertura Domênica Guimarães e Renato Carneiro 18h45

Manoela fala sobre os seus livros viajando sem grana em busca do Norte 19h00

Abertura da Roda de conversa mediação por Paula Papa 20h40

Últimas colocações e perguntas 21h00

Encerramento e agradecimentos.

A proposta do evento que seja uma roda de conversa onde possamos conversar dialogar com o grupo e dar a oportunidade de fala para compartilharmos nossas histórias.

Não fique de fora dessa, o evento irá acontecer no 01 Novembro de 2019
Local: Katuka Africanidades
Praça da Sé, 24 – Centro – Salvador – BA
Horário: 18h30 às 21h



Mais informações nos links:

https://www.facebook.com/events/988606391476966/

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=260936951486857&id=129046481342572&ref=content_filter

Daquelas viagens que a gente faz sem precisar colocar a mochila nas costas ou não rs

Fui convidada para participar de uma homenagem a Sra Ruth de Souza no Sesc Interlagos.

Im Memoriam – Ruth de Souza

E o que isso tem haver com a Bitonga ou com viagem, você deve estar se perguntando, né?!

Eu respondo: TUDO

Vou tentar contextualizar para que vocês possam se familiarizar…

Sou moradora do distrito de Ermelino Matarazzo, zona leste de SP, moro nos arredores do metrô patriarca (linha vermelha).

O encontro estava marcado para as 10h da manhã em Interlagos, ou seja, uma verdadeira viagem –  saí de casa as 7h45 para chegar na estação Primavera Interlagos às 10h15 – literalmente atravessei a cidade – como diria Mano Brown:

“ Um role pelo Capão é fundamental “ não é Capão, mas é quase ali RS

Mas sem pular etapas, é importante dizer, que fui para o metro Patriarca e retornei à estação Itaquera, na tentativa de seguir o percurso sentado – doce ilusão rsrs

Como não consegui sentar e meu celular está quebrado a função áudio, fique atenta às pessoas (como de costume) e por um lapso comecei a observar do vidro pra rua e eis que fui surpreendida por um paredão de grafites.

A obra de Arte foi feita por 70 grafiteiros. Batizada de Projeto 4km, a intervenção foi idealizada pela secretaria de estado de Turismo e pelo Comitê Paulista da Copa, com apoio da secretaria de estado de Cultura e da Companhia do Metropolitano (Metrô) de São Paulo.
https://vejasp.abril.com.br/blog/copa-itaquera/maior-grafite-a-ceu-aberto-da-america-latina-colore-chegada-a-itaquera/

São  4 quilômetros de muros grafitados – de Itaquera à Patriarca – é o segundo maior muro de grafite a céu aberto da América Latina.

Fiquei admirando as cores, os desenhos, a perspectiva de cada artista, o traço e ao mesmo tempo pensando quem são esses Artistas e qual a sensação de colocar essa Arte na quebrada diretamente para o mundo ou vice e versa.

Como uma boa admiradora da arte de rua, fui atravessada por um sentimento de amor  – aqueles grafites trouxeram alegria para o meu fds.

Seguindo viagem, continuei com o meu hábito em observar as pessoas e novamente fui surpreendida – quem nunca sorriu com os meninos do shopping metro ?! Parece que aquele sábado, todos estavam muito inspirados, pois segui rindo de Itaquera até o trem da zona sul – eles tem potencialidades e criatividade real e se eu tivesse dinheiro na bolsa,  com certeza eu voltaria pra casa falida….rs

Analisando sobre todo esse contexto, deixo um pensamento e quem sabe uma provocação:  Temos sonhado e trabalhado para poder viver nossas escolhas e sonhos. Temos sonhado e trabalhado para colocar a mochila nas costas e cair no mundo, mas me sinto tão egoísta … Eu nunca irei saber  o que esses homens e mulheres trazem em suas mochilas, nas bagagens de vida.

Parafraseando Luz Ribeiro:

“ sabem quantos centímetros cabem em um menino? sabe de quantos metros ele despenca quando uma bala perdida o encontra? Ou quantas casas ele volta para trás [ tipo num jogo de tabuleiro ] quando os guardas confiscam toda sua mercadoria?
sabe quantos nãos ele ja perdeu a conta? “

” Quanto vale o guri favelado diante do seu cifrão ? “
Indy Naíse, perguntou na música Erê (Menino Prateado)

Que viagem louca essa né irmãs ?! Vocês também tem umas viagens dessa ?